Uma cerimônia de ordenação é uma humilde lembrança da singular unicidade do cristianismo. Enquanto outras religiões falam orgulhosamente da necessidade que o homem tem de Deus, o cristianismo estranhamente fala da necessidade que Deus tem do homem. Essa foi a verdade transmitida por Cristo em toda a Sua vida. Ele necessitou de um ventre humano para conduzi-Lo. Necessitou de um pai, a fim de protegê-Lo da ira de Herodes, e de amigos com os quais partilhou Sua missão. Jesus necessitou de alguém para carregar a cruz que Lhe esmagava os ombros, assim como necessitou de alguém para remover a pedra do sepulcro onde esteve por três dias.
E, por alguma estranha inversão da experiência humana, o mesmo Deus necessita do homem para levar avante Sua obra – alimentar, apascentar, nutrir, admoestar e treinar Seu povo. “Como ouvirão, se não há quem pregue?”
A razão pela qual Deus escolhe homens para usar como Seus mensageiros, suponho, é um mistério. Indubitavelmente, legiões de anjos poderiam propagar a verdade divina com maior eficiência e exatidão. Entretanto, como Ellen White afirma, “Deus não escolhe como Seus representantes entre os homens anjos que jamais caíram, mas seres humanos, homens de paixões idênticas às da-queles a quem buscam salvar” (Serviço Cristão, pág. 7).
Mas o homem chamado por Deus não recebe dEle qualquer parcela de imunidade contra as provas e dificuldades da vida. Ele não está livre de ser assaltado pela dúvida, frustração ou pelo desespero. Esse homem também possui pontos fracos. Ele certamente sangrará quando ferido, se sentirá abatido quando cargas insuportáveis lhe forem impostas.
O que é ordenação
Portanto, o ato da ordenação não o capacitará com poderes sobrenaturais, tampouco lhe conferirá alguma graça especial. Não o elevará a um status superior, não lhe outorgará novas virtudes ou maior grau de piedade; nem o dotará de habilidades que não possuía antes.
A ordenação é um rito de transição, não a indução em um ofício. É a maneira de a Igreja reconhecer ou aprovar um candidato ao ministério. É um convite a alguém, para tornar-se servo dos servos de Deus. É um chamado para caminhar nas pegadas dAquele que veio não para ser servido, mas para servir.
A aprovação celestial para a cerimônia de ordenação deve ser um estímulo para que cada um de nós seja “padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza”, como alguém que será aplicado “à leitura, à exortação, ao ensino”; cuja vida será moldada de acordo com o exemplo e a doutrina de Cristo, capacitando-se para receber o poder do Espírito e colher frutos em seu labor.
Três modelos
Se Paulo estivesse aqui hoje, o que ele teria a nos dizer? Seguramente, ele nos recomendaria as mesmas três imagens apresentadas a Timóteo: “Participa dos meus sofrimentos, como bom soldado de Cristo Jesus. Nenhum soldado em serviço se envolve em negócios desta vida, porque o seu objetivo é satisfazer àquele que o arregimentou. Igualmente o atleta não é coroado, se não lutar segundo as normas. O lavrador que trabalha deve ser o primeiro a participar dos frutos. Pondera o que acabo de dizer, porque o Senhor te dará compreensão em todas as cousas.” (II Tim. 2:3 a 7).
Aqui, o apóstolo nos dá três modelos para inspiração: o soldado, o atleta e o lavrador.
Que qualidades existentes em um soldado, Paulo queria ver refletidas na vida de Timóteo e, por extensão, nos pastores modernos? O serviço de um soldado é fixo, exclusivo e singular. O Código Romano proibia um soldado de engajar-se em ocupações civis, enquanto estivesse ligado à corporação. Um soldado é um soldado, e não um civil. Semelhantemente, o pastor será completamente devotado ao ministério. Não se deixará distrair por outras alternativas de vida profissional, não se envolverá em sidelines. Jamais permitirá que qualquer coisa interfira em seu compromisso com o comandante celestial.
O soldado está condicionado à obediência. Ele é treinado para obedecer inquestionavelmente à palavra do comandante. Haverá ocasiões em que a obediência instintiva contribuirá para a salvação de sua própria vida e da vida dos seus comandados. O primeiro dever do pastor é ser sensível e obedecer à voz de Deus.
A suprema virtude de um soldado é que ele permanece fiel mesmo em perigo. De igual forma, o pastor dará sempre de si mesmo sem contabilizar o custo. Luta e não presta atenção às feridas; fatiga-se, mas não busca repouso. Trabalha e não pergunta pela recompensa. Ele existe para fazer a vontade de Deus.
Que temos a aprender com um atleta? Mencionaremos duas qualidades recomendadas por Paulo a Timóteo: O atleta é um profissional. Como sei disso? Paulo está usando a palavra grega nomimos para distinguir o “profissional” do amador. A diferença reside no tempo dedicado ao trabalho. O profissional é atleta de tempo integral. O amador dedica apenas parte do tempo. Um pastor “de horas vagas” é uma completa contradição. O Ministério é como a vida de um atleta profissional: requer o compromisso de toda a vida.
O atleta vencedor sabe que não pode permitir que qualquer coisa interfira nos padrões de aptidão física estabelecidos para si mesmo. O pastor de êxito também sabe que haverá tempo quando o caminho fácil parecerá mais atrativo, quando adotar o certo será duro e difícil; quando ele será tentado a relaxar os paradigmas. Mas a excelência no Ministério requer firmeza aos princípios, nenhuma contemporização, permanência naquilo que é puro e forte. Submissão diária à disciplina espiritual.
Finalmente, não é o lavrador preguiçoso, mas o lavrador diligente, que partilha os frutos da colheita. Há também duas características no lavrador que Paulo gostaria de ver presentes na vida de um pastor:
Primeira, ele deve trabalhar e então esperar. O lavrador aprende rapidamente que não existe caminho curto para colher resultados imediatos. Ele ara o solo, fertiliza-o, planta a semente e espera pela colheita. Fielmente, o pastor lança a semente do evangelho. Trabalha incansavelmente ao lado de Deus na salvação de homens e mulheres, sabendo que é o Espírito quem “convence do pecado, da justiça e do juízo”; e espera, pacientemente, pela colheita.
Segunda característica, o lavrador trabalha além do pôr-do-sol. Ele não conhece horário. O Ministério não é espasmódico. O pastor está disponível a qualquer hora para satisfazer às necessidades de sua congregação e daqueles com os quais ele trabalha. Outrossim, não descuida a vigilância sobre as almas colocadas sob seus cuidados, a fim de que elas possam enfrentar os pesares com paciência; as tentações com a força outorgada por Deus, e os desapontamentos com coragem.
A vitória
Algumas coisas ainda podem ser notadas, como marcas dos três modelos mencionados pelo apóstolo Paulo: o soldado é motivado e sustentado por pensamentos de vitória. O atleta encontra na visão da coroa a motivação para prosseguir e o sustentáculo de seus empreendimentos. O lavrador é motivado e sustentado pela esperança da colheita.
Cada um se submete à disciplina, ao trabalho e à fadiga, por amor à glória futura. É assim com o pastor. A luta jamais é vã. De-pois de todo o esforço, do trabalho mais duro e intenso cansaço, virá a aprovação do Mestre: “Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei: entra no gozo do teu Senhor.” (Mat. 25:21).
Escolhamos a vontade de Deus como nossa motivação, as palavras de Cristo como nossa meditação, as promessas divinas como nossa inspiração, e a Palavra de Cristo como nossa salvação.