Entrevista: Alvin Vandergriend
“Quando trabalhamos, somos nós quem trabalhamos; quando oramos, é Deus quem trabalha”
por Derek Morris
O pregador e escritor norte-americano Alvin Vander-Griend dedica-se a promover o ministério cristão de oração e tem escrito alguns livros sobre esse assunto. Entre eles, estão: Amar Para Orar: Quarenta Dias Para Aprofundar Sua Vida de Oração, e A Alegria da Oração: Quarenta Dias Para Revigorar Sua Vida Devocional, ambos publicados nos Estados Unidos. Vander-Griend também é membro do Conselho Nacional de Oração em seu país. Nesta entrevista, concedida ao pastor adventista Derek Morris, ele fala da importância da oração para o pregador e seus ouvintes.
Ministério: Quando foi que o senhor entendeu, pela primeira vez, a importância da oração?
Alvin: Fui ensinado a orar, desde minha infância, quando meus pais me incentivavam a fazer isso ao acordar, pela manhã, e quando ia dormir à noite. Eles também nos dirigiam em oração antes e depois de cada refeição. Sou profundamente grato pelo que aprendi sobre oração ao longo de minha formação cristã, período em que alguns fundamentos importantes foram lançados. Porém, havia algumas coisas a respeito da oração que eu desconhecia. Por exemplo, eu não sabia que a oração é um relacionamento de amor com Deus. Eu não sabia que tinha de pedir bênçãos espirituais a fim de recebê-las. Não conhecia quanta diferença pode fazer a oração intercessora. Foi quando eu tinha dez anos de idade, sentado na galeria de nossa igreja, que fui convencido de que, se eu me tornasse pregador, enfatizaria a oração. Alguns anos mais tarde, sendo concluinte do Ensino Médio, fui convidado a fazer uma palestra em um congresso jovem da igreja, e decidi falar sobre a oração. Durante meu ministério, fui profundamente motivado pela leitura do livro Power Through Prayer [Poder Através da Oração], de E. M. Bounds. Ele enfatiza que “em todo ministério verdadeiramente de sucesso, a oração é uma força evidente e controladora”.
Ministério: Infelizmente, poucos compreendem o que significam pregação, vidas e igrejas saturadas de oração. Talvez, seja por isso que Bounds afirma que “uma escola que ensinasse aos pregadores como orar e como Deus considera a oração seria mais benéfica à verdadeira piedade, à verdadeira adoração e à verdadeira pregação do que todas as escolas de teologia”.
Alvin: Acredito que nossos seminários não deveriam pressupor que os seminaristas já compreendam tudo sobre a oração nem que sejam plenamente devotados a ela. Necessitamos estabelecer um fundamento apropriado para o desenvolvimento de um ministério saturado de oração tendo como referencial mais importante o ensinamento bíblico. Fiquei maravilhado ao descobrir que a oração ocupa mais de dez por cento da Bíblia. Necessitamos reconhecer o lugar da oração nas Escrituras e na vida dos grandes heróis da fé. Todos eles foram também heróis de oração. É importante compreender que a oração não começa conosco. Começa com Deus. Ele é o iniciador. É Ele quem nos move a orar. Ele mantém as promessas que reivindicamos através da oração. Deus está agindo em nossas orações.
Ministério: Em seus escritos, o senhor tem destacado que os primeiros cristãos, especialmente os pregadores, foram devotados à oração. Qual é sua motivação para isso?
Alvin: A oração era prioritária na igreja cristã primitiva. As orações não eram curtas, superficiais, mecânicas, rotineiras, “vãs repetições”. Aqueles cristãos eram verdadeiramente devotados à oração, assim como seus líderes. O termo “devotado” implica estar alguém diligentemente ocupado com alguma coisa, ou persistindo nela. Em Atos 6:4, lemos que os apóstolos delegaram outros deveres, para que se devotassem “à oração e ao ministério da Palavra”. Quando li essa passagem pela primeira vez, me perguntei: Onde os apóstolos aprenderam a se devotar à oração e ao ministério da Palavra? A resposta é óbvia: Eles haviam estado com Jesus. Aprenderam do que viram e ouviram. Jesus passava noites inteiras em oração. Momentos-chave de Sua vida foram marcados com oração. Suas palavras, Seus milagres, Seu poder, tudo era resultante da oração. Os primeiros cristãos simplesmente continuaram com o que eles viram na vida de Jesus e ouviram dos Seus lábios. Estou convencido de que o maravilhoso crescimento experimentado pela igreja cristã primitiva foi resultado de vidas e pregação saturadas de oração. Bounds estava certo quando afirmou que “os verdadeiros pregadores têm-se distin-guido por uma grande característica: …oração… Para eles, Deus sempre foi o centro de atração, e a oração foi o caminho que os levou a Deus”.
“Acredito que a oração é a chave para reavivar a igreja, seu ministério e sua missão”
Ministério: O que o senhor tem a dizer sobre a importância da oração, especificamente relacionada ao preparo e apresentação de sermões?
Alvin: O mais importante preparo é o do pregador. Isso tem que acontecer no relacionamento com Deus, e a oração é parte importante desse relacionamento de amor. Pela oração, nós convidamos o Espírito Santo a tocar nosso coração e vida, a nos impressionar com as verdades do texto. O sermão necessita ser nascido da oração e banhado em oração. O Espírito Santo conhece as necessidades dos meus ouvintes, e Ele me revelará as coisas que eles necessitam ouvir. Então, quando apresentamos o sermão, o Espírito Santo vem em resposta ao nosso fervoroso convite e nos unge com poder e liberdade. Bounds afirma: “A oração, na vida, no estudo e no púlpito do pregador, deve ser uma conspícua e penetrante força, e um indisfarçável ingrediente. A escolha do texto e o sermão devem resultar de oração. O estudo deve ser banhado em oração; todos os seus detalhes, impregnados com oração; todo o seu espírito, o espírito de oração.”
Ministério: E quanto aos ouvintes? Qual é o papel da congregação na experiência de uma pregação saturada de oração?
Alvin: Uma vez que eu tenha compreendido a importância da oração no preparo e apresentação de poderosos sermões bíblicos, incentivarei os ouvintes a orar por mim. Concordo com Bounds, quando ele afirma que “orar pelo pregador é uma necessidade absoluta”. Em seu livro Prayer: The Mightiest Force in the World [Oração: A Mais Poderosa Força no Mundo], Frank Laubach diz o seguinte: “Sempre que uma congregação ora fervorosa e unanimemente, nos sentimos erguidos como por braços invisíveis; nosso coração arde, lágrimas fluem, e as ideias aparecem claras, melhor que qualquer abordagem escrita. Verdades comuns se tornam incandescentes e queimam como fogo”. Essa declaração confirmou minha própria experiência de que uma congregação saturada de oração faz grande diferença quando prego. Quando os ouvintes oram, algo acontece para eles. Seu coração é posto sob a autoridade da Palavra. São transformados de ouvintes estéreis em cristãos produtivos. Também exercem impacto nas pessoas ao seu redor.
Ministério: O senhor acha que um pregador comprometido com pregação saturada de oração também deve educar a congregação nesse sentido?
Alvin: Claro! Há uma igreja na Califórnia que escolhe cerca de vinte pessoas, entre os assistentes do culto, e as convida para orar durante o culto. Esse é um meio de treinar os membros. Certamente, gostaríamos que todos os membros fossem dedicados à oração; e, escolhendo determinado número cada semana, educamos a congregação sobre a importância de saturar o culto com oração.
Ministério: Avaliando seu passado como pastor local e agora dedicado ao ministério da oração, qual desses aspectos comprova melhor em sua experiência a importância da oração?
Alvin: Houve um tempo em meu ministério em que eu trabalhava sozinho. Então, o Espírito Santo me enviou quatro companheiros. Combinamos nos reunir por uma ou duas horas cada semana, a fim de orarmos uns pelos outros. Graças a esses encontros de oração, experimentei grande progresso em todo o meu ministério, incluindo a pregação. Depois de me haver dedicado ao ministério da oração intercessora, visitei igrejas que eram fortes na oração e percebi que todas elas também eram essencialmente sadias, exercendo impacto na comunidade e experimentando crescimento evangelístico. O pastor de uma dessas igrejas deu o seguinte testemunho: “Quando trabalhamos, somos nós quem trabalhamos; quando oramos, é Deus quem trabalha”. Durante o período em que fui pastor em Chicago, oramos fervorosamente para que Deus nos mostrasse o caminho para impactar nossa comunidade. Ainda posso lembrar da equipe de oração, ajoelhada em círculo na sala da casa de um dos membros. A equipe dedicou metade do tempo daquele encontro à oração. A outra metade foi empregada na discussão sobre os meios pelos quais Cristo poderia ser levado à comunidade. Disso, nasceu a ideia de um evangelismo infantil. Cada semana, crianças da vizinhança eram trazidas à igreja para ouvir histórias bíblicas. Então, oferecemos estudos bíblicos às mães que as levavam. Essas mães convidaram outras mães e muitas pessoas aceitaram a Cristo.
“Os verdadeiros pregadores têm-se distinguido por uma grande característica: oração”
Ministério: O que o senhor tem feito para incentivar outros pastores a praticar esse sistema?
Alvin: Bem, reunimos uma equipe de líderes de oração. No primeiro encontro, oramos algumas horas e saímos para trabalhar. Na segunda reunião, oramos durante toda a manhã, e trabalhamos o restante do dia. No terceiro, oramos um dia inteiro e trabalhamos no outro dia. Também formamos pequenos grupos de oração nas casas e nas igrejas. Esses grupos oram prioritariamente em favor de familiares, amigos ou vizinhos que enfrentam dificuldades ou que ainda não aceitaram a Cristo. Continuamos enfatizando a iniciativa de “40 dias de oração” que ajuda toda a igreja no aprimoramento de sua vida devocional, através de pregação, pequenos grupos e oração intercessora.
Ministério: O senhor também está envolvido na criação da Rede Denominacional de Líderes de Oração.
Alvin: Esse projeto teve início em 1989, com aproximadamente cinquenta líderes. A certa altura, pesquisamos quantas igrejas eram atendidas por aqueles líderes e descobrimos, para nossa surpresa, que eles representavam aproximadamente 1.400 congregações. Esse grupo tem-se reunido anualmente para orar junto, animar-se mutuamente e partilhar ideias de recursos e estratégias. Todas as vezes em que nos reunimos, somos fortalecidos em nossos esforços como líderes de oração, à medida que tentamos ajudar nossas congregações a crescer mais e mais na experiência de orar até que se tornem casas de oração.
Ministério: Podemos falar em esperança de um eventual reavivamento da oração no futuro?
Alvin: Em certa ocasião, Peter Wagner disse que o envolvimento com a oração estava fora de controle. Com isso, ele queria dizer: fora do nosso controle, mas sob o controle do Espírito Santo. Têm havido alguns obstáculos, certa resistência, mas existe crescente interesse na oração. Acredito que a oração é a chave para reavivar a igreja, seu ministério e sua missão.
Ministério: Que mensagem especial gostaria de deixar para nossos leitores?
Alvin: Cada um deve começar consigo mesmo. Peça ao Espírito Santo que lhe dê um santo dissabor com o status quo, com a religiosidade orientada para se manter. Peça intensa fome espiritual que o leve a buscar como nunca a presença de Deus. Devemos ser pobres de espírito, mendigos diante do Senhor. Se começarmos nesse ponto, o Senhor será zeloso em nos responder. Além disso, temos que fazer parte de uma comunidade de oração. A oração poderosa, vital, também acontece num contexto com outros crentes. Em Mateus 18, Jesus incentivou a oração corporativa e nos fez algumas promessas a esse respeito. No livro de Atos, há pelo menos 33 referências à oração, 26 das quais são referências à oração corporativa. A Palavra de Deus retrata uma igreja devotada à oração, perseverante em orar, diligentemente ocupada em oração. Isso é o que Cristo ensinou. Isso é o que a igreja do Novo Testamento modelou. Isso é o que Deus ainda hoje espera de nós.