Os males que sempre caracterizaram a vida no planeta se acentuam nos últimos dias

A palavra “terremoto” tem origem no latim, mais especificamente no termo terraemotus cujo significado é “movimento da terra”. Com essa palavra, identificamos qualquer vibração da crosta terrestre, provocada pela acomodação de material rochoso subterrâneo. Segundo os especialistas, a crosta terrestre, denominada litosfera, não é compacta, mas constituída de gigantescos blocos de rocha, conhecidos como placas tectônicas. Essas placas, impulsionadas por forças retidas no interior do planeta, sofrem eventuais deslocamentos, e mesmo rupturas, gerando ondas sísmicas que se propagam longitudinalmente e transversalmente pela crosta. O resultado é sentido na superfície, com uma intensidade que varia desde um pequenino estremecimento até um abalo de grandes proporções.

De acordo com uma teoria muito sugerida entre os estudiosos, a crosta da Terra estaria dividida em dez placas que, à semelhança das peças que se encaixam num quebra-cabeças, estão uma ao lado da outra, separadas por falhas geológicas primárias. Essas placas “flutuam” sobre uma pasta incandescente, constituída de magma (material orgânico/mineral em combustão, sob altíssima temperatura) localizada na astenosfera, a camada sob a crosta.

Por causa da pressão vinda de baixo, às vezes, uma placa sofre uma ruptura, deixando passar gases e matéria ígnea, o que caracteriza uma erupção vulcânica. O atrito produzido pela ruptura provoca vibrações sísmicas que podem ser sentidas a milhares de quilômetros de distância. Portanto, uma erupção vulcânica significativa quase certamente resultará em um terremoto. E, quando essa ruptura ocorre no fundo do mar, além do terremoto, ela produzirá também um maremoto, como o ocorrido em 26 de dezembro de 2004 no sudeste da Ásia e África Oriental.

Entre as placas, situam-se as falhas geológicas primárias, que permitem os deslocamentos e conseqüentes vibrações. A falha de San Andreas, que passa pela costa da Califórnia, chama a atenção não somente por envolver áreas densamente povoadas, mas principalmente por sua complexidade: dela procedem ramificações que se subdividem em inúmeras fendas secundárias. Em outras palavras, a região está apoiada numa verdadeira malha de rachaduras, responsáveis por um dos subsolos mais instáveis do planeta. Não é por acaso que quase uma centena de tremores agitam a Califórnia anualmente. Em 18 de abril de 1906, um terremoto de magnitude 8.3 na escala Richter destruiu quase toda San Francisco. Surpreendentemente, o número de óbitos foi relativamente baixo: apenas 700. Mas os cientistas alertam no sentido de que um terremoto ainda mais terrível poderá acontecer naquela região a qualquer momento.

Terremotos no Brasil

O Brasil está assentado em uma camada mais ou menos estável, o que enseja alguma probabilidade de não sermos vitimados por terremotos devastadores.

Porém, não nos iludamos com falsa segurança. O território brasileiro inclui pequenas falhas geológicas e linhas sísmicas que tornam certas áreas sujeitas a aba-los. O Ceará, em 20 de novembro de 1980, foi surpreendido com um tremor do seu solo. Já a região da Serra do Tombador, no Mato Grosso, foi palco do maior terremoto já registrado no Brasil, em 31 de janeiro de 1955, que atingiu 6.6 na escala Richter. Por haver acontecido numa região desabitada, não houve vítimas. Outro terremoto aconteceu no mesmo local, dessa vez com intensidade menor (cinco graus na escala Richter), em 23 de março do ano passado.

Em 23 de julho de 1976, o município de Primeiro de Maio, a 560 quilômetros de Curitiba, sentiu 27 tremores, fazendo com que muitas famílias abandonassem a cidade; aproximadamente nove semanas mais tarde, a terra tremeu por doze segundos em toda a zona urbana de Coração de Jesus, a 70 quilômetros de Montes Claros, Minas Gerais. Seus 3.500 habitantes entraram em pânico.

A maior cidade brasileira, São Paulo, está levantada sobre a chamada falha de Tietê, o que faz com que os paulistanos, às vezes, percebam tremores. Os bairros de Santa Cecília, Perdizes, Pompéia e Pinheiros, e o centro da cidade, por exemplo, foram sacudidos com um tremor de intensidade que pontuou entre 1.2 e 2 graus na escala Richter, entre 22h e 24h do dia 29 de novembro de 1976. Muitos moradores acordaram assustados e saíram às ruas, ainda vestidos de pijama. Algumas semanas antes, precisamente em 5 de outubro, Diadema, na região do ABCD, já havia sentido um tremor que resultou em rachaduras de paredes.

Às vezes, sentimos apenas uma repercussão de sismos mais significativos que ocorrem fora do Brasil, e que chegam a nós na forma de tremores atenuados. Por exemplo, em junho do ano passado, moradores de São Paulo e da região de Campinas sentiram um leve tremor, que, segundo se soube depois, foi conseqüência de um terremoto ocorrido no norte do Chile. Na ocasião, tremores ocorreram também em Goiás e no Distrito Federal.

O “fator instabilidade”

O pecado é o principal fator de desequilíbrio no planeta, e a instabilidade geológica sobre a qual nos sustentamos é decorrência dele. Não posso crer que a Terra tenha sido originalmente firmada pelo Criador sobre oscilantes placas tectônicas impregnadas de falhas e por elas rodeadas. Creio que, ao sair das mãos de Deus, a Terra era um todo harmônico, perfeito e solidamente estabelecido. Uma crosta maciça, compacta, inabalável, servia de esteio para o planeta que fora destinado a ser o habitat da raça humana. Como disse o poeta de Israel, Deus “firmou o mundo para que não se abale” (I Crôn. 16:30). Mas a rebelião se infiltrou, gerando transitoriedade, inconstância, inconsistência, fragilidade e risco.

Para um grande número de geólogos, a formação das placas tectônicas e das falhas geológicas se processou no transcurso de milhões de anos. Para os que crêem na Bíblia, todavia, foram formadas pelo dilúvio universal que sobreveio à Terra, aproximadamente dezesseis séculos depois de criada. A era antediluviana não deve ter conhecido qualquer tipo de tremor. Contudo, por ocasião do dilúvio, “romperam-se todas as fontes do grande abismo” (Gên. 7:11). “Os fundamentos do grande abismo… se partiram. Jatos de água irrompiam da terra, com força indescritível, arremessando pedras maciças a muitos metros para o ar; e ao caírem, sepultavam-se profundamente no solo” (História da Redenção, págs. 66 e 67). A crosta terrestre foi literalmente fragmentada, estabelecendo-se condições ideais para posteriores terremotos.

Além disso, homens, animais e plantas foram tragados pela fúria das águas, e arremessados às profundezas, onde, agregados com elementos químicos, tornaram-se finalmente matéria em combustão abaixo da crosta terrestre (a pasta incandescente anterior-mente referida). “Nesse tempo, imensas florestas foram sepultadas. Estas foram depois transformadas em carvão, formando as extensas camadas carboníferas que hoje existem, também fornecendo grande quantidade de óleo. O carvão e o óleo freqüentemente se acendem e queimam debaixo da superfície da terra. Assim as rochas são aquecidas, queimada a pedra de cal, e derretido o minério de ferro. A ação da água sobre a cal aumenta a fúria do intenso calor, e determina os terremotos, vulcões e violentas erupções. Vindo o fogo e a água em contato com as camadas de pedra e minério, há violentas explosões subterrâneas… Seguem-se erupções vulcânicas; e, deixando estas muitas vezes de dar vazão suficiente aos elementos aquecidos, a própria terra é agitada, o terreno se ergue e dilata-se como as ondas do mar, aparecem grandes fendas…” – Patriarcas e Profetas, págs. 108 e 109.

Conhecedor das leis naturais, Satanás pode, naturalmente, provocar terremotos. Certamente, aquele que tem prazer na destruição, principalmente de vidas, está por trás de muita catástrofe que tem castigado o planeta. Porém, terremotos também cumprem um propósito divino, como aqueles ocorridos por ocasião da morte de Jesus (Mat. 27:51-54), de Sua ressurreição (Mat. 28:2), e naquela noite em que Paulo e Silas estiveram acorrentados no cárcere em Filipos (Atos 16:26).

O homem também pode causar terremotos, e o tem feito, através de explosões subterrâneas e pela inundação de grandes represas artificiais.

Sinal do fim

Terremotos são declaradamente um sinal da proximidade da volta de Jesus. “Haverá grandes terremotos…”, disse Ele em Seu sermão profético (Luc. 21:11).

Na realidade, temos notícia de terremotos desde o longínquo passado (cf. I Reis 19:11; Amós 1:1; Zac. 14:5; Atos 16:26). O que toma, então, os terremotos de nossos dias um sinal do fim? Precisamente o fato de as predi-ções proféticas os incluírem.

Por exemplo, consideramos o terremoto de Lisboa, ocorrido em 1° de novembro de 1755, aquele que marca a abertura do sexto selo (Apoc. 6:12), Não porque aleatoriamente escolhemos esse, entre outros. Levando em consideração quando e onde ocorreu, bem como o fato de se situar dentro de um contexto amplo de cumprimento profético, que envolve o escurecimento do Sol em 1780, o fim dos 1260 de supremacia papal em 1798, a queda das estrelas em 1833, e o fim das 2300 tardes e manhãs de Daniel 8:14, em 1844, todos esses significativos eventos da chegada do tempo do fim, o terremoto de Lisboa ajusta-se perfeitamente à profecia.

Outro ponto que deve ser considerado é o assustador aumento de terremotos devastadores, particularmente após 1755 (veja o quadro). Bem analisados, os males que sempre caracterizaram a vida de nosso planeta se acentuam nos dias finais. Por exemplo, a baixa moral de Sodoma ganharia proporções mundiais (Luc. 17:28-30). A guerra, que já ocorria nos dias de Abraão (Gên. 14:1 e 2), seria incrementada com o passar do tempo, até o nível de conflitos mundiais quando o fim se aproximasse (Mat. 24:6 e 7).

O mesmo ocorre com os abalos sísmicos. A profecia prevê para o fim não somente grandes terremotos, mas fala deles como ocorrendo em muitos lugares (Mat. 24:7; Mar. 13:8). Há um sentido de intensificação aqui. Diferentes estações sismológicas estabelecidas em pontos estratégicos ao redor do mundo, registram a ocorrência de um milhões de vibrações sísmicas por ano, entre as quais há, em média, um terremoto de grandes proporções, 18 abalos significativos, e aproximadamente 120 tremores considerados fortes.

Ilustrando a onda avassaladora dos terremotos de nossos dias, mencionamos um de 9 graus na escala Richter ocorrido em 26 de dezembro de 2004, e que assolou o sudeste da Ásia matando mais de 280 mil pessoas em onze países; aquele que provocou as ondas tsunamis, que também invadiram países da África Oriental. Foi considerado o mais longo da História, criando uma falha submarina de 1500 quilômetros e sacudindo o planeta. Diante do que o mundo testemunhou, as palavras de Ellen G. White soam pertinentes: “Nas últimas cenas da história terrestre… as águas do oceano transporão seus limites. Propriedades e vidas serão destruídas” – Eventos Finais, págs. 22 e 23.

Logo em seguida (8 de janeiro do ano passado), a região foi atingida por outro terremoto de menor intensidade (7.66 na escala Richter).

O ponto culminante

A instabilidade da Terra tem-se intensificado mais e mais, no transcurso de séculos e milênios. Como disse o profeta, “a Terra está de todo quebrantada, ela totalmente se romperá, a Terra violentamente se moverá. A Terra cambaleará como um bêbado, e balanceará como rede de dormir” (Isa. 24:19 e 20). A fragilidade do planeta continuará se intensificando até que o ponto culminante seja atingido por ocasião da sétima praga; aí ocorrerá o último e o mais terrível terremoto, “como nunca houve igual desde que há gente sobre a Terra” (Apoc. 16:18). Será um terremoto suficientemente arrasador para quebrantar o mundo, abrir as sepulturas dos justos e introduzir a volta de Jesus.

Comentando os lances de destruição que eventualmente se abatem sobre a Terra, em virtude das novas circunstâncias do mundo geradas pelo dilúvio, Ellen G. White acrescenta: “Estas assombrosas manifestações serão mais e mais freqüentes e terríveis precisamente antes da segunda vinda de Cristo e do fim do mundo, como sinais de sua imediata destruição… Manifestações mais terríveis do que as que o mundo jamais viu, serão testemunhadas por ocasião do segundo advento de Cristo…

“Unindo-se os raios do céu com o fogo na Terra, as montanhas arderão como uma fornalha, e derramarão terríveis correntes de lava, submergindo jardins e campos, vilas e cidades. Massas fervilhantes derretidas, ao serem arremessadas nos rios, farão com que as águas entrem em ebulição, arremetendo rochas maciças com indescritível violência, e espalhando seus fragmentos sobre a Terra. Rios tomar-se-ão secos. A Terra se convulsionará; por toda parte haverá tre-mendos terremotos e erupções” – Patriar-cas e Profetas, págs. 107-109).

Cabe-nos, hoje, fazer o necessário preparo a fim de permanecermos de pé no dia final, amparados no poder da graça. Ao lado disso, como pastores do rebanho que Deus nos confiou, temos o dever de ajudá-lo a se preparar também. E não esqueçamos: só em Deus há segurança. Ele é rocha, alto refúgio e salvação. Quem nEle confia pode dizer como Davi: “não serei jamais abalado” (Sal. 62:6). Em tempo algum; sob nenhuma circunstância. Nem no dia em que Jesus voltar.

José Carlos Ramos, professor e coordenador de pós-graduação do Seminário Teológico do Unasp, Engenheiro Coelho, SP

O pecado é o principal fator de desequilíbrio no planeta

RELAÇÃO DE ALGUNS DOS MAIS DEVASTADORES TERREMOTOS EM NÚMERO DE MORTES, DESDE 1755

DataLocalEscala RichterMortos
10 de novembro de 1755Lisboa8.6 graus70 mil
4 de fevereiro de 1783Calábria, ItáliaSem referência50 mil
4 de fevereiro de 1797Quito, EquadorSem referência40 mil
12 de dezembro de 1828Equador e ColômbiaSem referência70 mil
16 de agosto de 1868Echigo, JapãoSem referência30 mil
28 de dezembro de 1908Messina, Itália7.5 graus120 mil
16 de dezembro de 1920Kansu, China8.5 graus180 mil
10 de setembro de 1929Kwanto, Japão8.2 graus143 mil
26 de dezembro de 1932Kansu, China7.6 graus70 mil
31 de maio de 1935Quetta, Índia7.5 graus60 mil
29 de fevereiro de 1960Agadir, Marrocos5.9 graus14 mil
31 de agosto de 1968Irã7.4 graus12 mil
4 de fevereiro de 1976Guatemala7.9 graus2 mil
27 de julho de 1976Tangshan, China7.9 graus*650 mil
16 de setembro de 1978Irã7.8 graus25 mil
18 de setembro de 1985México8 graus10 mil
7 de dezembro de 1988Armênia6.8 graus25 mil
20 de junho de 1990Noroeste do Irã7.7 graus30 mil
29 de setembro de 1993Maharashtra6.2 graus10 mil
26 de janeiro de 2001Oeste da Índia7.7 graus20 mil
26 de dezembro de 2003Bam, Irã6.6 graus26 mil
26 de dezembro de 2004Ásia e África9 graus280 mil
8 de outubro de 2005Índia e Paquistão7.6 graus57 mil

*Alguns contabilizam 255 mil, mas parece que a cifra maior é a correta.