O que é adventismo? Que significa teologicamente ser um adventista? O caminho mais inteligente para a compreensão do desenvolvimento histórico da teologia adventista do sétimo dia, é vê-la como uma busca de identidade movendo-se através de quatro estágios básicos enumerados a seguir.
O que é adventista no adventismo (1844-1886)
A busca de identidade foi violenta e abruptamente imposta a todos os mileritas em 23 de outubro de 1844. Até ali eles sabiam quem eram e tinham poucas dúvidas sobre o lugar que ocupavam no plano cósmico de Deus. Mas o desapontamento de outubro deixou os confusos adventistas numa situação caótica. O milerismo, imediatamente após 1844 e mesmo depois de 1845, poderia ser visto como um agitado e caótico acúmulo de confusão. Levaria anos para a confusão teológica clarear, e vários grupos adventistas eventualmente chegariam a diferentes conclusões a respeito do significado de sua experiência.
Alguns, por certo, concluíram que eles estavam corretos quanto ao evento predito em Daniel 8, mas errados em relação ao tempo. Para esses, a purificação do santuário apontava para a segunda vinda de Cristo e a purificação da terra pelo fogo. Mas a data não era 22 de outubro de 1844. A vinda de Cristo estava ainda no futuro. Esses grupos originaram a denominação Cristãos do Ad-vento e vários grupos relacionados.
Outros mantinham que tanto o evento como o tempo estavam corretos. Cristo ha-via, de fato, retornado em 22 de outubro, mas Sua vinda era um acontecimento espiritual, não literal. O fanatismo surgiu facilmente entre esses “espiritualizadores”, como eles eram chamados.
Um terceiro grupo de desapontados mileritas salientava que eles estiveram certos em relação ao tempo, mas errados quanto ao evento. Isto é, alguma coisa tinha acontecido em 22 de outubro de 1844, mas não fora a segunda vinda de Cristo. Depois de um estudo intensivo das Escrituras, valendo-se da Concordância de Miller, eles concluíram que o santuário de Daniel 8:14 era o templo celestial de Deus, e não a Terra. Assim, Cristo entrara numa nova fase de Seu minis-tério em 22 de outubro de 1844. Essa interpretação estabeleceu a compreensão inicial que originou o adventismo do sétimo dia.
Após o Grande Desapontamento, cada um daqueles grupos adventistas redefiniu sua identidade. Este período no desenvolvi-mento do adventismo do sétimo dia, seria melhor compreendido como um tempo no qual os fundadores da denominação buscaram determinar o que era distintivamente adventista no adventismo.
Por volta de 1848 ou 1849, nossos antepassados sabatistas haviam concluído que a distinção de sua mensagem estava centralizada na doutrina do Santuário Celestial, no Sábado e na Lei de Deus, na volta visível e pré-milenial de Cristo, na natureza condicional da imortalidade humana, e no reavivamento do dom de profecia evidenciado no ministério de Ellen White. Tais pontos teológicos estavam inseridos na estrutura escatológica das três mensagens angélicas de Apocalipse 14.
Todos os que se tomaram adventistas do sétimo dia estavam radiantes com suas conclusões a respeito do que era adventista no adventismo. Nos próximos 40 anos, eles pregaram ousadamente sua teologia distintiva ao mundo que os rodeava. Sentindo pouca necessidade de enfatizar itens como fé, graça, ou outras crenças partilhadas pela maioria dos cristãos da época, eles enfatizaram suas crenças distintivas – especialmente a Lei de Deus e o Sábado.
Desafortunadamente, 40 anos de ênfase nas questões adventistas do adventismo, levaram-nos a uma ruptura com a cristandade básica. Esse problema seria fortemente realçado entre 1886 e 1888.
O que é cristão no adventismo (1886-1920)
A magnitude da mudança de posição entre os adventistas aconteceu nos anos 1880 e 1890. Subitamente a denominação deparou-se com uma nova ênfase teológica, um novo vocabulário, e uma nova questão quanto à identidade religiosa.
Dois relativamente jovens editores da Califórnia – A. T. Jones e E. J. Waggoner – tinham desafiado a tradicional interpretação adventista dos dez chifres de Daniel 7 e a natureza da Lei no livro de Gálatas. Mas G. I. Butler e Uriah Smith, líderes oficiais da denominação, interpretaram o desafio como um ataque à integridade do adventismo histórico. Como resultado, tornaram-se agressivos com Jones e Waggoner, e fizeram tudo o que puderam para impedir a jovem dupla de ser ouvida na denominação.
O confronto entre os dois lados alcançou o clímax na Assembléia da Associação Geral, em Minneapolis, no outono de 1888. Aquela reunião testemunhou uma tão grande mesquinhez de espírito da parte dos que defendiam o adventismo histórico, que levou Ellen White a declarar que eles estavam procurando ganhar a contenda utilizando o espírito dos fariseus. Ela deplorou suas táticas. Para ela, a Assembléia de 1888 foi a “mais incompreensível demonstração de luta pela supremacia jamais vista entre nosso povo”. Classificou-a como “um dos mais sombrios capítulos na história dos crentes na verdade presente”.
Tanto o espírito como a teologia dos ministros líderes da denominação, ela concluiu, careceram de um elemento crucial -Cristo e cristianismo. Como resultado, ela lembrou: “Minha responsabilidade durante a reunião foi apresentar a Jesus e Seu amor para meus irmãos, pois vi marcadas evidências de que muitos não possuíam o espírito de Cristo.” E, em 24 de outubro, ela falou aos delegados: “Nós queremos a verdade tal como é em Jesus… Vi que preciosas almas que deveriam ter abraçado a verdade têm-se afastado dela porque, da maneira como tem sido conduzida, Jesus não está nela. É isso o que eu tenho argumentado por todo o tempo – nós queremos Jesus… Meu objetivo é que a luz seja levantada exaltando o Salvador.”
Lado a lado com Jones e Waggoner, Ellen White enalteceu os temas cristãos básicos, desde Minneapolis e nos anos subseqüentes. Especialmente Cristo e a justificação pela fé nEle.
Essa nova ênfase foi refletida nos escritos de Ellen White, através de uma nova direção em seus esforços literários. A primeira contribuição veio em 1892, com o livro Caminho a Cristo – um volume que ela recusou que fosse impresso pelas casas publicadoras denominacionais. Queria estar segura de que sua mensagem evangélica fosse apresentada ao povo de forma inalterada. Caminho a Cristo foi publicado por Fleming H. Revell, cunhado de Moody. Na verdade, ela também esperava alcançar um público mais extenso com a publicação de Revell.
Em seguida, surgiram O Maior Discurso de Cristo, em 1896, (também publicado por Revell); O Desejado de Todas as Nações, em 1898; Parábolas de Jesus, em, 1900; e os capítulos iniciais de A Ciência do Bom Viver, em 1905.
A nova ênfase também foi refletida no vocabulário de Waggoner, Jones e W. W. Prescott, enquanto pregavam sobre Cristo e Sua salvação aos membros e líderes denominacionais. Enquantos esses jovens pregadores enfatizavam palavras como “Cristo”, “fé”, “justificação pela fé”, e termos relacionados à justiça de Cristo, os antigos teólogos insistiam em termos como “obras”, “obediência”, “lei”, “mandamentos”, “nossa justiça” e “justificação pelas obras”.
As reuniões de 1888 prepararam o cenário para uma grande mudança teológica no adventismo. Entre 1888 e 1900 a denominação chegaria a uma melhor compreensão de assuntos como a salvação em Cristo, Trindade, personalidade do Espírito Santo, bem como a uma completa compreensão da divindade de Cristo, que começaria a deslocar o semi-arianismo do adventismo. Em adição, alguns dos seus teólogos começaram especular sobre a natureza humana de Cris-to, apresentando-a como sendo semelhante à natureza caída de Adão. Tal fato estabeleceu o cenário para o conflito dos anos 1990, fazendo a Igreja atentar para a Bíblia como o fator determinante da teologia adventista, tal como faz Ellen White.
A novidade teológica levantada em Minneapolis causara um terremoto no adventismo. Em sua essência, esse terremoto foi causado por uma nova discussão. O clichê estrutural da antiga questão “O que é adventista no adventismo?” moveu-se diretamente ao clichê estrutural da outra pergunta “O que é cristão no adventismo?’
Infelizmente, muitos dos que tinham vivido pregando a resposta à primeira pergunta viram a segunda como uma ameaça àquela, em lugar de um enriquecimento. Assim, os anos 1890 presenciaram guerra no campo teológico adventista, quando o que estava sendo advogado era um enriquecimento. Depois de tudo, o adventismo do sétimo dia, é cristão e adventista em sua identidade. Essa compreensão, no entanto, não era óbvia para os gladiadores da denominação nos anos 1890, e tampouco para muito dos seus herdeiros em 1994.
Talvez a maior tragédia de 1888 e do período pós-Minneapolis é que os teólogos denominacionais têm polarizado bastante, quando deveriam checar e balancear saudavelmente cada ponto de vista contrário ao seu.
Os irmãos adventistas, adeptos dos diferentes lados da batalha teológica, têm falhado em aprender uma das maiores lições da Assembléia de 1888 – a de que eles necessitam-se mutuamente se é que desejam manter um equilíbrio teológico. A situação particular vivida pelos teólogos adventistas em 1892 levou Ellen White a escrever que Satanás “experimenta um diabólico júbilo quando pode dividir os irmãos”. Ela e outros líderes, nos anos 1890, repetidamente apontaram que muitos dos sérios problemas no adventismo teriam sido evitados se os dois lados tivessem assumido a posição de aprendizes um do outro. Se assim fosse, teriam contribuído juntos para o avanço teológico adventista.
Os teólogos adventistas ainda precisam aprender uma das maiores lições da Assembléia de 1888 – a de que eles necessitam-se mutuamente, se é que desejam manter um equilíbrio teológico.
Lamentavelmente, o tipo de adventismo que floresceu entre 1888 e 1900 não produziu completa unidade para sua teologia. Em outras palavras, o casamento entre o que era adventista no adventismo e o que era cristão no adventismo, ja-mais foi consumado com sucesso. Polarização teológica foi uma característica mais marcante da teologia adventista no início dos anos 1890, que a unidade e respeito mútuos. A crise de identidade continuou, embora aparentasse ser mascarada por pragmáticos excitamento e harmonia, causados por um singular desdobramento das missões adventistas.
Mas tal harmonia exterior seria desbaratada logo após a virada do século, quando a denominação enfrentou múltiplas crises teológicas na forma de movimentos como Carne Santa, Panteísmo, e os ensinamentos sobre a Doutrina do Santuário de A. F. Ballenger.
A polarização entre os teólogos adventistas, durante os anos 1890, deixou a denominação fora de centro e despreparada para enfrentar os desafios do novo século. As-sim, os primeiros dos anos 1900 testemunharam o adventismo na turbulência de uma grande crise de identidade e cisma. Muitos assuntos nessa crise seriam resolvidos através de uma resolução, em 1920, apenas para dar lugar a novos desafios que contribuiríam com sua complicada herança para a teologia adventista em 1994. De dentro dos desafios de 1920, surgiria uma nova crise na identidade adventista e uma nova questão a respeito da natureza essencial do adventismo.
O que é fundamentalista no adventismo (1920-1956)
A nova questão na identidade adventista nos anos 1920 seria “O que é fundamentalista no adventismo?”. Esse período forma um divisor de águas na história religiosa americana. Por mais de meio século, forças dentro do protestantismo estavam construindo na direção de uma grande fratura entre o que era conhecido como liberalismo e fundamentalismo. A batalha chegaria ao clímax no início dos anos 1920, envolvendo pelo menos oito assuntos, com os fundamentalistas defendendo a inspiração verbal e inerrância da Bíblia, a historicidade do nascimento virginal de Cristo, a necessidade do Seu sacrifício expiatório, a historicidade de Sua ressurreição, Sua vinda antes do Milênio, a autenticidade de Seus milagres, a unicidade da revelação cristã no plano da salvação, a criação divina em oposição à evolução teística.
Os liberais, naturalmente, mantinham posições opostas a esses pontos. Na realidade, os fundamentalistas reagiam vigorosamente à formulação liberal daquelas doutrinas.
Os adventistas tradicionalmente defendiam sete dos oito pontos teológicos aceitos pelos fundamentalistas. Mas não haviam ainda, oficialmente, esposado a inspiração verbal ou a inerrância da Bíblia, embora líderes como S. N. Haskell, A. T. Jones, W. W. Prescott, e muitos outros certamente o fizessem. A Associação Geral, durante a Assembléia de 1883, aprovou um documento no qual aceitava a inspiração do pensamento em lugar da inspiração verbal. Todavia, apesar da posição moderada oficial do adventismo sobre inspiração, jamais formalizando uma discussão sobre inerrância, um grande debate tomou lugar como se a Igreja tivesse uma visão verbalista ou de inerrância. Esse ponto de vista seria estendido e tomado ainda mais explícito e mais consistentemente expresso, durante os anos 1920.
Nessa década, o adventismo foi literalmente forçado aos braços do fundamentalismo, diante de uma polarização sem precedentes que teve lugar no protestantismo. A essa altura é crucial reconhecer que não ha-via superfície teológica neutra nos anos 20. Ou se era liberal, ou fundamentalista, e o adventismo certamente tinha muito mais em comum com os fundamentalistas que com os liberais. Na agitação dos tempos, o adventismo foi empurrado para o fundamentalismo, apesar de sua tradicionalmente mais moderada visão sobre inspiração – uma moderação definitivamente apoiada por Ellen White, a esta altura, recentemente falecida.
A magnitude das mudanças do adventismo relacionadas à inspiração, durante os anos 20, é evidenciada pelo fato de que líderes que falavam abertamente em favor de uma visão moderada, na conferência bíblica de 1919, trocaram de posição nos anos seguintes. De fato, o assunto da inspiração tornou-se a grande alavanca que na Assembléia da Associação Geral de 1922 removeu o poderoso A. G. Daniells, que tinha sido presidente da denominação desde 1901.
Por outro lado, B. J. House, que argumentou contra a visão moderada sobre inspiração, na reunião de 1919, seria escolhido para escrever um livro de doutrinas bíblicas, para colégios da denominação, que apareceu em 1926. House não apenas manteve o conceito de “inspiração verbal”, mas afirmou que “a seleção de muitas palavras das Escrituras na linguagem original foi dirigida pelo Espírito Santo”, como foi a seleção da data histórica. Uma perspectiva semelhante foi estabelecida por outras publicações denominacionais, nos anos 20.
A visão mais rígida de inspiração da Bíblia e dos escritos de Ellen White configuraria o adventismo por décadas e não enfrentaria desafios significativos até os anos 70 e 80. Agora, nos anos 90, ela se torna um grande fator de diálogo teológico adventista do sétimo dia.
Enquanto isso, uma outra contribuição para o diálogo dos anos 90 seria desenvolvida por M. L. Andreasen, nos anos 30, como o desabrochar da “teologia da geração final” – uma teologia que enfatizava o segundo ad-vento de Cristo como dependendo de um comportamento perfeito por parte da Igreja Adventista. A teologia da geração final foi semeada nos anos 1890, mas mudaria o cenário central entre os anos 50 e 90. Isso tudo nos conduz à metade dos anos 50 e à recente mudança na teologia adventista.
Tensão teológica no adventismo (1956-1994)
Uma nova crise e um alinhamento teológico surgiram em 1956, com a publicação de um artigo assinado por Donald Grey Barnhouse, na revista Eternity, intitulado “São cristãos os adventistas do sétimo dia?” Nesse artigo, com a aparente aprovação de L. E. Froom e R. A. Anderson (destacados líderes adventistas), Barnhouse publicamente relegou M. L. Andreasen (principal teólogo do adventismo nos anos 30 e 40), juntamente com sua teologia à “marginalidade da loucura” do adventismo, inferindo-o como um irresponsável que “incomoda todas as áreas do cristianismo fundamental”. En-quanto isso, a denominação, sob a influência de Froom, Anderson e W. E. Read, publicava Questions on Doctrine, um livro que insuflou a chama da controvérsia em desenvolvimento.
Andreasen respondeu com a publicação de Letters to the Churches, na qual acusava a denominação de rejeitar os escritos de Ellen White e o adventismo histórico. O castigo de Andreasen foi a cassação de suas credenciais ministeriais e a remoção de seus livros das livrarias denominacionais.
Em 1960, a Casa Publicadora Zondervan lançou o livro The Truth About Seventh-Day Adventism, de Walter Martin. Nesse livro prefaciado por Barnhouse, o autor indicava que uma grande fenda foi aberta no adventismo, relacionada com Questions on Doctrine e a identificação evangélica. Ele escreveu que “somente … aqueles adventistas do sétimo dia que seguem o Senhor segundo a posição doutrinária da Igreja, interpretada a nós por seus líderes, são considerados verdadeiros membros do corpo de Cristo”.
Nesse ponto, o cenário está montado, pelos próprios adventistas, para a abertura de uma fenda teológica entre eles.
Eu diria que a partir da metade dos anos 50 o adventismo pode ser melhor definido como estando em tensão teológica. Todas as questões antigas ainda são levantadas em 1994, mas agora elas estão sendo feitas ao mesmo tempo por diferentes facções e indivíduos. Alguns, por exemplo, estão inquirindo: “O que é distintivamente adventista no adventismo?” Eles são propensos a focalizar sobre o perfeccionismo teológico de Andreasen, ao lado da compreensão oferecida por Robert Wieland e Donald Short, os quais no início dos anos 50 abalaram os líderes denominacionais sugerindo que seus precursores tinham extraviado o adventismo, ao rejeitarem a mensagem de Jones e Waggoner, em 1888 e nos anos subseqüentes.
Em 1994, a facção “adventista radical” do adventismo enfatiza que Cristo veio com a natureza decaída de Adão, a necessidade de se alcançar o mesmo tipo de comportamento perfeito, sem pecado, a teologia da geração final, e o que eles chamam intensa-mente de “adventismo histórico”. Em seus métodos de investigação teológica, ela demonstra forte confiança nos escritos de Ellen White e freqüentemente vê Jones e Waggoner como tendo a palavra final sobre justificação pela fé. Os componentes dessa facção demonstram, todavia, serem fracos no uso da Bíblia.
O adventismo atual também possui uma grande facção teológica perguntando: “O que é cristão no adventismo?” Esse grupo enaltece a Cristo e Sua cruz no processo de salvação, estabelecendo a base da segurança como sendo “em Cristo”. O cristão salvo está justificado e, ao mesmo tempo, em processo de santificação. O grupo coloca a Bíblia como centro de sua metodologia teológica. Enquanto defende firmemente as doutrinas adventistas distintivas, coloca-as no contexto do cristianismo básico.
Também vivendo, e bem, no mundo teológico adventista de 1994, estão os que se perguntam: “O que é fundamentalista no adventismo?” Estes mantêm uma visão em comum com cada um dos grupos anteriores, mas seu tema principal é a preocupação fundamentalista dos anos 20.
Essas divisões têm sido agravadas pelos múltiplos abalos à identidade adventista resultantes das crises de Numbers, Rea, Ford e Davemport, no fim dos anos 70 e início dos anos 80, além do fato que o movimento adventista chegou ao sesquicentenário, e pelos mesmos efeitos polarizadores lamentáveis que tanto enfraqueceram a denominação nos anos 1890. Uma causa do problema da polarização é que, no desejo de escapar de um tipo de erro perceptível, as pessoas correm o perigo de ficar no extremo oposto.
No adventismo atual, as atividades teológicas estão configuradas em duas frentes, com todas as velhas questões providenciando as linhas divisórias. Assim, no confronto entre os que enfatizam “o que é adventista no adventismo” e os que enfatizam “o que é cristão no adventismo”, há o perigo sempre presente de que as forças opostas se tomem unilaterais em suas interpretações.
O assunto crítico para os “adventistas radicais” é que eles perderão contato com o cristianismo básico ao focalizarem sobre fontes extrabíblicas, como autoridade teológica, e forçam um verdadeiro conceito bíblico de perfeição em um tipo de perfeccionismo articulado. Num outro extremo há o perigo sempre presente de que, buscando evitar os erros desse grupo, alguns sejam tenta-dos a negar seu adventismo através de uma ênfase igualmente unilateral, tomando-se assim “cristãos radicais”. Eu lembro que há uma adequada base intermediária defensível para aqueles que deveriam ser designados como “cristãos adventistas”, se e somente se eles se mantiverem nos limites da Bíblia e evitem a construção dinâmica distorcida de muitos processos de fazer teologia, quando isso se torna primariamente um exercício contra algum oponente. O fator de distorção aparece quando indivíduos, consciente ou inconscientemente, colocam uma ênfase primária em guardar distância entre si mesmos e o que eles consideram errado, e quando eles concluem que nada têm para aprender com os que pensam diferente.
Os efeitos polarizadores entre os adventistas radicais e os cristãos adventistas foram vistos nos anos 1890, mas em 1994 o adventismo também é desafiado por uma segunda polarização dinâmica. Enquanto alguns indivíduos temem o liberalismo e revelam o fundamentalismo dos anos 1920, outros líderes do pensamento adventista (em seu desejo de escapar do que consideram ser erros teológicos ou extremos do fundamentalismo) estão em perigo de retomar a defesa do cristianismo liberal daquela época. Na base dessa polarização estão assuntos hermenêuticos/epistemológicos de primeira linha – especialmente os de primazia entre revelação e razão. Mas deveria ser reconhecido pelas duas partes, que uma visão modernista (como foi esposada pelos liberais de 1920), que adotou a ênfase do esclarecimento sobre a supremacia da razão humana acima das Escrituras, não é mais saudável que os erros fundamentalistas que confundiram rigidez com a firmeza de Cristo e dos apóstolos.
Lições valiosas
Em suma, gostaria de afirmar que os teólogos adventistas do sétimo dia, em sua busca de identidade, enfrentam em 1994 a mesma dinâmica básica que eles enfrentaram nos anos 1890 – a dinâmica da polarização. De fato, em 1994, a dinâmica é mais complexa desde que o conflito está sendo travado por mais guerreiros, e, mais importante, sobre duas frentes distintas mas ao mesmo tempo sobrepostas. O perigo é o mesmo.
Qualquer grupo religioso estará em problemas, se e quando sua teologia estiver sendo formulada primariamente em oposição à uma real ou suposta posição polarizada. Isso muito dinamicamente estabelece o cenário para mais rápido avanço em direção a posterior polarização e distorções teológicas adicionais. Deveriamos estar bem conscientes daquelas dinâmicas usadas para fazer uma teologia bíblica no melhor espírito do adventismo cristão.
Nós aprendemos não somente dos perigos enfrentados pelos teólogos adventistas nos anos 1890, mas também das possíveis soluções que seus dedos apontam. A principal lição para nós é aquela que nossos pioneiros falharam em aceitar – que os defensores de posições radicais adventistas necessitam dos outros. É difícil e provavelmente impossível para qualquer indivíduo ou grupo estar total-mente errado ou totalmente correto. Todos nós temos capturado importantes aspectos da verdade, bem como porções de erro. E to-dos podemos aprender daqueles que defendem posições teológicas contrárias às nossas. No entanto, mais que disposição para aprender, é importante que interiorizemos o espírito de Cristo – um espírito que não apenas pensa o melhor dos outros, mas que mantém uma abertura às verdades de todas as fontes.
Uma chave para a saúde teológica é manter nossos olhos atentos ao sentido das Escrituras e à essência do cristianismo e do adventismo. Uma segunda chave é aprender do outro, saindo de posições teológicas radicalmente defensivas e continuar guiando a Igreja em seu crescimento e busca de identidade.