Enquanto as autoridades americanas investigavam através dos destroços do confuso reino de Koresh, os cristãos, especialmente os adventistas, começaram a fazer sua própria autópsia da tragédia. Embora a Igreja Adventista do Sétimo Dia não tenha nenhuma conexão com o fanático movimento davidiano, a inescapável realidade é que muitos membros do grupo possuíam antecedentes adventistas, inclusive o próprio Koresh.
O que teria contribuído para que esses adventistas se tomassem vulneráveis ao fogo fatal do fanatismo? São necessárias essas lições, a fim de que o nosso povo esteja protegido contra futuros enganos? É o que veremos nesta segunda parte do artigo iniciado no número anterior.
Membros vulneráveis
O Ramo Davidiano possuía características de seita e de culto. Em virtude deste duplo status, ele atraiu tanto pessoas de classes social e economicamente inferiores, como os, privilegiados da sociedade, intruídos e materialistas.
O Ramo Davidiano foi o único entre os cultos que emergiu de uma seita, que, por sua vez, originara-se de uma outra. Algumas características do grupo identificam-se mais com as seitas: forte ensinamento bíblico, sentimento de serem eles os únicos possuidores da verdade, e de serem os únicos verdadeiros seguidores de Deus. Mas também há características cúlticas: Koresh acreditava ser Jesus. Conferiu-se o direito de possuir muitas es-posas e era um obsecado por luxo e riquezas.
Em virtude de que seita e culto diferem no modo como respondem ao processo de Secularização, não atraem o mesmo tipo de membros. As seitas tendem a atrair classes social e economicamente inferiores, a plebe e, especialmente, os novos conversos. Já os cultos atraem pessoas dentre os mais privilegiados da sociedade, os intruídos, os materialistas e que não estão interessados, a princípio, em organização religiosa. Justamente por causa deste duplo status de seita/culto, foi que o Ramo Davidiano atraiu pessoas dos dois grupos. De acordo com depoimentos obtidos de ex-membros, é possível estabelecer um quadro interessante:
- 1. Antecedentes – O Ramo Davidiano era uma ramificação dos davidianos originais, que saíram da Igreja Adventista do Sétimo Dia em 1930. A conexão histórica é importante, porque a missão do grupo não era salvar o mundo, mas reformar a Igreja Adventista, a qual eles tacharam de “babilônia”, lançando muitas de suas profecias contra ela.
- 2. Ênfase apocalíptica – Desde seus primórdios, a Igreja Adventista do Sétimo Dia tem enfatizado a mensagem profética. Isso pode ser comprovado não apenas no trabalho de Ellen White, mas no próprio conceito de que é uma Igreja comissionada por Deus para proclamar as profecias escatológicas de Daniel e Apocalipse.
Sempre que uma igreja experimenta um elevado grau de envolvimento mundano e organizacional, a ponto de negligenciar sua mensagem, surgirão reformadores buscando recolocá-la nos trilhos. Um número crescente de “ministérios independentes” desafia atualmente a Igreja Adventista. Muitos deles são benéficos, mas alguns estão se afastando, na tentativa de reformá-la. Uns poucos grupos separados focalizam sobre o que eles entendem ser uma interpretação correta das profecias.
Por causa da ênfase profética adventista, particularmente as profecias de Daniel e Apocalipse, não surpreende que muitos conversos do Ramo Davidiano e grupos semelhantes possuam antecedentes adventistas.
- 3. Marginalizados na igreja – Muitos dos que aderem a novos cultos e seitas são indivíduos ultraconservadores. Alimentam alguma queixa contra o sistema e uma visão negativa a respeito da liderança da Igreja anterior. Alguns deles experimentam um senti-mento de impotência social e espiritual. Sentem que a velha organização não satisfaz suas necessidades. Também reagem contra a complacência, a mundanidade e a visão liberal que dizem ver na igreja. Acreditam que os padrões são rebaixados e desejam reverter o processo de Secularização.
Evidentemente os cristãos devem estar empenhados para que os requerimentos do evangelho não sejam rebaixados. Mas o que diferencia os membros de um culto ou seita de um crente sadio, é um inflexível e recalcitrante sentimento de justiça própria, e de que todo aquele que não concorda com suas idéias está errado. Enfatizam o pecado acima do amor. O status social e espiritualmente marginalizado de tais pessoas na igreja, freqüentemente resulta em uma aura negativa que as engole, em virtude da ênfase perfeccionista. Quando uma nova seita é formada, o perfeccionismo leva à cisma. Afinal, gente perfeita não pode tolerar gente imperfeita. Lembram um recém-converso em seu desenvolvimento moral e espiritual. Imaturo e susceptível a todo vento de doutrina (Efés. 4:14).
- 4. Pessoas carentes – Pesquisas sociológicas concluem que “o fator crucial que leva pessoas a uma nova religião é o desenvolvimento de laços sociais com membros dessa religião”.1 Freqüentemente nós pensamos que a doutrina é o primeiro ponto de atração para esses conversos. Mas as pesquisas mostram que, não raro, os laços de amizade são a base primária de conversões. Em lugar de serem atraídas princípalmente por causa do apelo doutrinário, as pessoas aceitam a doutrina por causa do relacionamento com o grupo.2
Indivíduos carentes de amizade e fortes laços de afeição interpessoal com membros de uma organização religiosa são vulneráveis ao recrutamento feito pelos membros de um grupo separado. Isso não significa que eles sejam anormais. A lavagem cerebral por trás do recrutamento é muito forte.3 As pessoas que se juntam a um novo culto o fazem porque suas necessidades espirituais não estão sendo satisfeitas pela organização existente. Elas acham o calor e a amizade dos membros da seita ou culto atrativos para suas necessidades espirituais. De adordo com Stark e Bainbridge, histórias de lavagem cerebral são populares na mídia porque elas absolvem as pessoas de terem feito mau discernimento ao se unirem a um grupo separatista.4 Pessoas que não recebem apoio para suas idéias, e que especialmente carecem de atenção, podem ser atraídas pelo afeto dos separatistas.
- 5. Submissão a uma autoridade carismática – Vivemos numa época confusa, que também é biblicamente ignorante – apesar da larga difusão da Bíblia. Em tal tempo, de grandes mudanças sociais e questionamento de valores morais e espirituais, as pessoas estão buscando estabilidade. Isso requer reflexão saudável. Mas a televisão, os filmes, videocassete e divertimento sufocam o pensamento individual. Oferecem respostas para situações que aparentemente são muito complexas para serem resolvidas individualmente.
Em tempos de grande confusão e mudanças, as pessoas sentem uma necessidade de forte liderança espiritual. Isso explica porque igrejas conservadoras estão crescendo. Dean Kelly diz que “as organizações fortes são ortodoxas”.5 Em uma economia de mercado, como em qualquer outra coisa, as pessoas avaliam a religião em termos de quanto ela custa – se esse custo é pequeno, será avaliada por baixo. Se for alto (em termos de tempo, esforço, investimento e sacrifício) será grandemente avaliada. Rodney Satrk e Roger Finke falam claramente: “as organizações religiosas são fortalecidas na medida em que impõem custos significativos em ter-mos de sacrifício e ainda conseguem manter seus membros”.6
Isso significa que em tempos confusos as pessoas querem que outros pensem em seu lugar. Essa atitude lhes poupa o risco de fazerem decisões erradas. Tira-lhes a responsabilidade pessoal de suas ações. Fazem simplesmente o que lhes dizem para fazer. Aí está a razão pela qual quando uma pessoa desiste de um culto, alega lavagem cerebral. Novamente, nesse caso, o senso de responsabilidade por seus atos é removido. Ninguém gosta de admitir que errou.
No filme The Wave, cujo enredo é como fazer uma sociedade facista, o líder declara a um amigo: “É espantoso como eles gostam que você decida por eles.” Quando um líder forte e persuasivo, como Hitler, Jim Jones ou Koresh, aparece, a quem eles atraem? O simplório, o ignorante, ou aqueles que buscam soluções fáceis para problemas complexos. A decisão de unir-se a eles é reforçada quando eles são levados a crer que agora se tomam parte de um movimento que terá significado na História mundial. Tomar-se algo que transcende o mundano é a força mais sedutora. O povo morre por ela! É esse o testemunho dos mártires, não apenas da história do cristianismo, mas também na conflagração final do Ramo Davidiano.
- 6. Nível de educação – Muitas pessoas que passam para novas seitas em geral possuem um baixo nível de educação, status econômico inferior e antecedentes de classe operária. Essas pessoas acreditam que não precisam de muita educação, especialmente aquela obtida em escolas mundanas, para compreender a mensagem do Senhor. Elas supõem que quanto menos alguém é influenciado pela filosofia mundana ou pela visão humanística, o seu interesse é pela verdadeira educação do Espírito Santo.Pessoas carentes de amizade e forte laços de afeição interpessoal, numa comunidade religiosa, são vulneráveis ao recrutamento feito pelos membros de um grupo separatista.
Aqueles que se unem aos cultos, entretanto, possuem características diferentes. Uma vez que o culto assume uma nova visão religiosa, ele freqüentemente atrai pessoas à margem das religiões organizadas ou que deixaram a igreja. Muitos dentre esses são educados, bem situados profissionalmente. Alguns conversos de cultos tornam-se para a religião depois que a ciência falhou em responder questões básicas a respeito da vida, como imortalidade e eternidade. Ricos e pobres necessitam da religião para encontrar o significado da vida.
Quando as pessoas deixam a igreja, a inovação religiosa através da formação de cultos abre o caminho de oportunidade para satisfação de suas necessidades. Assim, o socialmente confortável, que deseja da vida mais do que abundância material, volve-se para o culto em busca de idéias novas que expliquem o mistério da existência. Freqüentemente substituem ganho por profecias e profetas. Encontrar alguém que pode dar o tempo e a data do fim do mundo, quando muitos de nós nada sabemos sobre o amanhã, é tudo para algumas pessoas. Não devemos nos surpreender de que muitas pessoas de nível universitário tenham sido encontradas entre os seguidores de Koresh.7 Tudo isso alinha com o tipo de pessoas atraídas aos cultos.
- 7. Autoridade em lugar da Escritura –Indivíduos preocupados em reformar a Igreja e em orientar a vida de outros querem uma clara voz de autoridade – “assim diz o Senhor” – em suas vidas. Acham insuficiente o testemunho de orientação contido na Palavra de Deus. Para eles, a Bíblia não é bastante específica, e é muito aberta a interpretações. Ele querem algo mais detalhado, sem ambigüidades, claramente decifrado, e menos confuso. Os judeus dos dias de Cristo tinham o Mishnah, os mórmons possuem o Livro de Mórmon, e os adventistas do sétimo dia têm os es-ritos de Ellen White.
Adventistas atraídos por ensinamentos de seitas e ministérios independentes encontram mais conforto nos escritos de Ellen White que na Bíblia. Eles consideram esses escritos menos abertos a más interpretações e de fácil compreensão. Mas isso é porque procedem uma leitura seletiva – lêem aquilo que concorda com suas interpretações preconcebidas. Quando uma seita envolve-se com um culto, como aconteceu com o Ramo Davidiano, ainda assim, aqueles escritos tornam-se abertos a más interpretações. Então seus adeptos sentem a necessidade da palavra viva de um profeta (o líder), palavras e ensinamentos que resultam de valor igual ou superior ao da Bíblia. A interpretação que o líder faz da Bíblia toma-se agora o novo padrão de comportamento e doutrina. E os membros são desencorajados de investigar as Escrituras por si próprios. Foi o que aconteceu com o catolicismo romano na Idade Média, antes de Lutero traduzir a Bíblia para o idioma alemão.
- 8. Desejo de poder – Pessoas carentes de poder moral e social em uma respeitável organização, sempre vêm em uma seita ou culto uma oportunidade para explorar a simplicidade espiritual de outros em proveito material próprio. São líderes em potencial que se juntam ao grupo e logo assumem o seu comando. Espertalhões e espoliadores. Jim Jones, a família Roden e David Koresh careciam de reconhecimento e respeitabilidade na organização da qual eles saíram e voltaram-se ao culto para seus poucos minutos de glória.
- 9. Pequenos grupos sem liderança oficial – Um lugar onde doutrinas e ensinamentos subversivos encontram uma audiência receptiva são as pequenas igrejas que não possuem líderes; ou, se existe um líder, ele não é confiável. Há muito tempo, Salomão declarou que “onde não há profecia o povo se corrompe” (Prov. 29:18). O fenômeno de falta de liderança oficial abre a oportunidade para espertalhões aproveitarem a brecha e ocuparem o vazio. O apóstolo Paulo aconselhou: “Para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro, e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” (Efés. 4:14).Muitos entram em nossas igrejas solitários, marginalizados, famintos de afeição e atenção pessoal. Numa época de fria alta tecnologia, as pessoas necessitam do alto toque do amor.
Em vista desta dinâmica na vida das pessoas que as toma susceptíveis aos cultos, o que pode a igreja fazer para dissuadi-las de seguir cegamente o engano?
Prevenindo o caos
Uma clara exposição do problema, como temos feito neste artigo, ajuda a descobrir caminhos de ação que a igreja deve seguir para prevenir o caos espiritual. Desafortunadamente, é mais fácil falar a respeito deles do que segui-los. São simples, mas a oposição pode dificultar a sua implantação.
- 1. Reaquecer a congregação local – A frieza é a principal característica de muitas igrejas hoje. H. M. S. Richards, fundador do programa A Voz da Profecia, sugeriu certa vez que algumas igrejas são tão frias que alguém pode até patinar no gelo dos seus corredores. Eu não acho que nossas igreja sejam muito calorosas hoje. Os corações humanos necessitam tanto do caloroso amor de Jesus, que no momento em que visitantes e membros chegam à igreja eles devem se sentir bem-vindos. Isso pode ser feito através de recepcionistas simpáticas, registro no boletim, enfim, pelo próprio pastor e pelos membros.
Walter Douglas chama esse assédio de “amoroso tumulto”. Outros o denominam de “bombardeio de amor”. E eu não encontro nada errado nisso, desde que seja feito com sinceridade e brote do coração. Talvez seja por falta de algo assim que tão poucas pessoas estejam voltando ao redil.
- 2. Estabelecer fortes laços afetivos – Se o desenvolvimento de sociabilidade é o fator mais crucial no processo de conversão, por que deveriamos deixar que os cultos sejam mais engenhosos nesse aspecto do que nós? Amizade era o método de Cristo e o único bem-sucedido. “Unicamente os métodos de Cristo trarão verdadeiro êxito no aproximar-se do povo. O Salvador misturava-Se com os homens como uma pessoa que lhes desejava o bem. Manifestava simpatia por eles, ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava então: ‘Segue-Me.’”8 A fórmula do sucesso é simples:
Sociabilidade – “O Salvador misturava-Se com os homens…”
Simpatia – “Manifestava simpatia por eles…”
Serviço — “Ministrava-lhes às necessidades…”
Salvação – “Ordenava então: ‘Segue-Me.’”
A combinação dos primeiros três itens resulta em confiança. Uma vez que a confiança de uma pessoa é ganha, então a salvação lhe pode ser oferecida. Lamentavelmente, em geral começamos com o quinto item, sem construir amizade e laço afetivo. E ainda nos surpreendemos de que o povo não responda. A verdade é que a mudança é feita mais em virtude do método do que da mensagem. Quando o método atrai a atenção, pela amizade, as pessoas ouvirão o que temos a dizer-lhes. É exatamente o que Ellen White afirmou quando nos aconselhou a sermos temos, corteses e bondosos.
Muitos entram em nossas igrejas solitários, marginalizados, famintos de afeição e atenção pessoal. Numa época de fria alta tecnologia, as pessoas necessitam do alto toque do amor. Os cristãos necessitam fazer do mundo um lugar de amor.
- 3. Mensagem forte e balanceada – Devemos pregar o evangelho e profecias tendo a Cristo como o centro. Isso faz-nos lembrar de que o livro do Apocalipse é a revelação de Jesus Cristo. Nossa pregação deve causar nas pessoas a impressão e a compreensão de Cristo como o centro de tudo. E não algo negativo, imagens depressivas, que deixam as pessoas sem esperança e desencorajadas.
- 4. Pregação bíblica – A igreja não possui duas autoridades, mas apenas uma – a Bíblia. Os escritos de Ellen White existem para guiar-nos à Bíblia, não para tomar seu lugar. Em muitos púlpitos adventistas e classes da Escola Sabatina, os visitantes ouvem mais o nome de Ellen White que o de Jesus Cristo. Seus escritos são citados mais freqüentemente que a Bíblia. Fomos chamados a pregar primeiro a Cristo, não Ellen White. Seus escritos devem promover a Cristo.
No sábado pela manhã, Cristo deve ser o foco central de tudo o que a igreja faz. Durante as reuniões semanais podemos estabelecer classes de estudo sobre o Espírito de Profecia e sua importância para o bem-estar da igreja. Mas quando nós fazemos de Ellen White a principal autoridade na igreja, tornamo-nos culpados de abuso do dom. Mui-tos jovens adventistas não conhecem a Bíblia e poucos a levam para a igreja. Por quê? A Palavra de Deus raramente é usada em muitas igrejas e seu estudo não é encorajado freqüentemente. Necessitamos de sólida, relevante e oportuna pregação pregação expositiva, que ensine ao povo a beleza do evangelho. A centralização nas Escrituras deve voltar aos nossos púlpitos. Se isso não acontecer, numerosos David Koreshs devem estar esperando a oportunidade de atrair uma geração de jovens com suas “novas” interpretações da Bíblia.
- 5. Ensinar o povo a pensar – Estes tempos instáveis não apenas demandam pessoas “que não se comprem nem se vendam”,9 mas também indivíduos que sejam pensadores. Há muito tempo, Ellen White deu a seguinte exortação: “Cada ser humano criado à imagem de Deus, é dotado de certa faculdade pópria do Criador – a individualidade -faculdade esta de pensar e agir. … É obra da verdadeira educação desenvolver esta faculdade, adestrar os jovens para que sejam pensantes e não meros refletores do pensamento de outrem.”10 Infelizmente, nem sempre esse conselho é seguido. O poder criador, “poder para pensar e agir”, não é prioridade em nosso currículo. Na maioria das vezes, o produto das escolas cristãs é programado em crucial regurgitação, em lugar de reflexão crítica. Os jovens não são ensinados a pensar por si mesmos e a fazerem escolhas independentemente, mas a seguir cuidadosamente regras e regulamentos prescritos. Assim, por simplesmente obedecerem às regras, aparentam ser cristãos direitos, quando, na realidade, apenas temem sair da linha.
Conformidade cega não conduz necessariamente a uma liderança forte. O que ela produz é fortes seguidores de uma liderança cega. Isso deve explicar porque muitos seguidores de David Koresh eram jovens ex-adventistas recrutados de internatos. O que estamos fazendo em nossas instituições acadêmicas que cria mentes receptivas ao engano? Para ser brando, quero dizer que a maioria dos nossos jovens não está sendo desencaminhada, mas permanece sólida em seus compromissos com Cristo e a Igreja. Mas seria o caso de perguntarmos: estamos represando o oceano ou ensinando os jovens a nadar?
Em suma, devemos ensinar nossos jovens a se tomarem pensadores, capazes de uma reflexão crítica e de tomar decisões.
Declaração de missão – Cada igreja deve desenvolver uma clara declaração de missão, abrangendo as necessidades da comunidade à qual serve (dentro e fora da igreja). Essa declaração deve ser obra da congregação inteira, não apenas do pastor ou da comissão. As pessoas assumirão a responsabilidade somente por aquilo que ajudaram a planejar. Uma declaração de missão deve ser um documento de trabalho, não apenas uma peça de museu para ser vista. Todos os aspectos do programa da igreja de-vem refletir o pensamento de tal declaração.
A importância disso reside no fato de que algumas igrejas têm-se tomado incubadoras para desgostosos e membros de culto em potencial. Elas não possuem uma missão ou propósito para a existência. Tampouco possuem um forte programa de testemunho, evangelismo e ministério à comunidade. Sem dar um senso de direção à energia espiritual da irmandade, essa energia será gasta em outras direções: conversa vazia, inatividade e descompromisso com o testemunho, criticismo, divisão e facções. Ou pior – deixa os membros abertos às influências dos agitadores externos e sua agenda de “nova luz”. O melhor caminho para evitar esse desenvolvimento é engajar a comunidade num ministério completo que emerge da compreensão da sua missão.
- 7. Liturgia voltada para as necessidades da igreja – Muitas formas de liturgia adventista, quer seja celebração ou tradicional, simplesmente foram herdadas de outras igrejas ou denominações. Essa aproximação eclética não está direcionada às necessidades de todos os membros. A liturgia de cada congregação deve ser única para essa congregação e sua missão, em lugar de ser copiada só porque alguém viu numa outra igreja e gostou. Necessitamos ser pensadores, não copiadores.
- 8. Ministério inclusivo – Por muitos anos a igreja tem operado com modelos exclusivos de ministérios. Mas isso serve somente para dividir, separar e levar as pessoas para longe do centro que é Cristo. Quando focalizamos mais exclusão do que inclusão, nós estamos empurrando o povo em direção aos braços abertos dos separatistas espirituais, mais interessados em dividir do que em unir. Um modelo inclusivo, ajunta, constrói na diversidade, impulsiona o povo ao centro – Jesus Cristo. Nosso alvo não é uniformidade. Nem Deus quer assim. Nós queremos unidade na diversidade, em Cristo. Coletivamente aprendendo do que cada um pode contribuir. Esse é o desafio que devemos enfrentar nestes tempos de rápidas mudanças.
Na virada do século passado, uma época também marcada por mudanças dinâmicas, o filósofo George Santayana declarou: “Aqueles que não podem se lembrar do passado estão condenados a repeti-lo.” Ao nos aproximarmos do ano 2000, mais cultos apocalípticos surgirão, autoproclamando-se uma âncora em meio à tormenta social. David Koresh foi apenas o modelo do ano passado. Qual será o modelo deste ano? Possuirá, porventura, alguma conexão com o adventismo?
Vamos aprender as lições do caso Waco e estejamos de prontidão.
Referências:
- 1. Rodney Stark e William Sims Bainbridge, The Future of Religion.Secularization, Revival, and Cult Formation, Berkeley, Califórnia, 1985, pág. 424.
- 2. Rodney Stark, Sociology, Belmont, Califórnia, 1992, 4ª edição, pág. 86.
- 3. Eileen Barker, New Religious Movements: A Prati-cal Introduction, Londres, 1989.
- 4. Stark e Bainbridge, págs. 417 a 423.
- 5. Dean Kelly, Why Conservative Churches Are Gor-wing, Nova Iorque, 1972.
- 6. Rodney Stark e Roger Finke, The Churching of America, 1776-1990, New Jersey, 1992, pág. 238.
- 7. Marc Breault, Some Background on the Branch Da-vidian Seventh-Day Adventist Movement From 1955 to the Early Part of 1991, manuscrito não publicado, 17 de abril de 1991, págs. 14 e 22.
- 8. Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, CASA, 1990, pag. 143.
- 9. _____________ Educação, CASA, 1968, pág. 57.
- 10. Idem, idem, pág. 17.