Milhões de pessoas estão apreensivas em relação ao chamado “problema do ano 2000”, Y2K (Y de ano, em inglês, e 2K de 2000), também conhecido como o bug do milênio, um sério problema previsto para acontecer na virada do ano. Segundo especialistas, sistemas de computadores mais antigos ainda em uso vão entender que os dois últimos zeros do ano 2000 são do ano 1900. Se os aparelhos não forem adaptados a tempo, a pane resultante provocará uma série de problemas.
Boa parte da apreensão acontece porque ninguém, nem os especialistas, sabe exatamente o que acontecerá e que tipo de impacto isso causará em nossa vida. Alguns predizem uma reação em cadeia global que impedirá o funcionamento de usinas hidroelétricas, sistemas de comunicação, o que levará a um acelerado turbilhão de pânico. Em antecipação ao que consideram uma catástrofe, algumas pessoas, em muitos lugares, estão vendendo livros e fitas cassetes contendo recomendações preventivas que incluem estoque de alimentos, água, combustível, energia, armas e munições. Espera-se também uma grande corrida aos bancos.
O novo milênio que se aproxima também está trazendo temores relacionados com a volatilidade de nossa época. Numerosos desastres naturais, ao lado da instabilidade política, financeira e religiosa, estão misturados a uma cultura que parece estar impulsionada como um navio sem vela, leme ou âncora. Devido à confluência de toda essa dinâmica, o interesse nas profecias bíblicas tem alcançado um ápice nunca dantes atingido.
Na verdade, uma das mais férteis oportunidades evangelísticas pode ser os últimos meses de 1999, enquanto o povo apreensivamente espera o ano 2000 e os iminentes acontecimentos que a última volta do ponteiro trará.
Os cristãos, na realidade, não devem estar soprando a chama do frenesi milenário, embora muitos, infelizmente, estejam atuando justamente dessa maneira. Cada coisa relacionada um o bug do milênio está sendo explorada por grupos cristãos, que vêm nisso toda sorte de significado apocalíptico. Quaisquer que sejam os motivos, uma coisa é certa: algumas comunidades acabarão enriquecendo em cima do anunciado fenômeno.
Embora não devamos alimentar essa loucura milenial, como líderes cristãos temos sempre encorajado o aproveitamento de cada oportunidade para pregar o evangelho de Jesus Cristo. Paulo demonstrou esse princípio em Atenas, quando usou a idolatria dos atenienses como trampolim para a proclamação do verdadeiro Deus: “Porque, passando e observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual está inscrito: Ao Deus Desconhecido. Pois esse que adorais sem conhecer, é precisamente Aquele que eu vos anuncio” (Atos 17:23).
Foi o mesmo Paulo quem também declarou: “Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns” (I Cor. 9:22).
Evangelismo é alguma coisa parecida com a sincronização na agricultura: e o tempo é crucial. Muitas vezes, as estações e as condições do tempo ditarão o planejamento do agricultor. Semelhantemente, um ministro deve estar preparado para agarrar-se às oportunidades férteis para conquistar novos crentes. Escrevendo a Timóteo, Paulo admoestou: “Prega a Palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina” (II Tim. 4:2).
Por Sua vez, Cristo também ensinou: “Chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado: e, pela manhã: Hoje, haverá tempestade, porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos?” (Mat. 16:2 e 3). Na verdade, não precisamos ser meteorologistas espirituais para ver que esta janela aberta precisamente antes do ano 2000 é um tempo de ouro para lançar a semente do evangelho e colheita de almas. “A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a Sua seara” (Luc. 10:2).
Tal como no relato da história de José do Egito, os tempos de fartura são frequentemente seguidos por tempos de escassez. O entusiasmo na montanha é, não raro, sequenciado pela monotonia do vale. Provavelmente haverá um elemento de pânico e variados graus de expectativas milenárias à medida que nos aproximamos do fim do ano. Mas o que deveria causar mais preocupação é a paralizante apatia que pode ocorrer depois que o ano 2000 chegar, quando as crises evaporarem e todos se unirem cantando a paz. Na primeira carta aos cristãos de Tessalônica, Paulo adverte que “quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vêem as dores de parto à que está para dar à luz: e de nenhum modo escaparão” (I Tess. 5:3).
Na parábola das dez virgens, todas elas estavam dormindo quando o noivo apareceu (Mat. 25:1-13). Um dia antes do dilúvio anunciado por Noé, e do fogo que destruiu Sodoma, o sol brilhava sobre indivíduos que estavam mais ocupados em comer, beber, “casar e dar-se em casamento”. O que deixarmos de fazer agora, durante estes tempos de grande oportunidade, teremos que nos esforçar para cumprir em um tempo de paralizantes apatia e indiferença. João 9:4 diz: “É necessário que façamos as obras dAquele que Me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar.” Essa é a razão pela qual devemos fazer todo o possível para usar a janela de oportunidade oferecida pelo fim do milênio, no sentido de alcançar pessoas para Cristo.
Uma forma prática de os pastores e membros das igrejas capitalizarem sobre a maravilhosa oportunidade do momento, é o envolvimento no evangelismo, em todas as suas formas: campanhas públicas, programas de rádio e televisão, distribuição de literatura, estudo bíblico pessoal, classes bíblicas, seminários sobre Daniel e Apocalipse, programas de saúde, etc.
Estando os membros leigos devidamente motivados, treinados e equipados, os últimos meses de 1999 poderão representar a época de melhor colheita evangelística deste milênio.
Centenas de pessoas têm me abordado com a pergunta: “O que posso fazer pessoalmente a fim de preparar-me para o Y2K e a vinda do novo milênio?” Usualmente essa questão está emoldurada num contexto específico. Algo como: deveriam essas pessoas vender seus lares, mudar para outro país, estocar alimento, combustível e outros produtos necessários à sobrevivência? Minha primeira reação é advertir contra a tentação de pensar que podemos salvar-nos por encher a despensa com provisões materiais.
Toda religião falsa está baseada na confiança do homem em suas próprias boas obras para a salvação. Não podemos cair nessa armadilha. Devemos crer no desconhecido, assim como cremos no conhecido. Se fizermos da preparação espiritual nossa prioridade, Deus pode suprir todas as nossas necessidades temporais, mesmo que seja necessário um milagre.
Não é pecado fazer provisão prática para uma potencial época de “vacas magras”. Deus falou a Noé para armazenar recursos suficientes para seu cruzeiro de juízo. E Salomão escreveu: “O prudente vê o mal e esconde-se: mas os simples passam adiante e sofrem a pena” (Prov. 22:3). Equilíbrio inteligente e prático é o segredo. Mesmo assim, nossa confiança suprema deve repousar em Deus: do contrário, estaremos inclinados a repetir o erro do louco mesquinho que colocou sua confiança nos bem estocados celeiros, ao qual Deus disse: “Louco, esta noite te pedirão a tua alma: e o que tens preparado, para quem será?” (Luc. 12:20).
Que tipo de preparo para o Y2K você pode, como pastor, sugerir àqueles que lhe perguntam a respeito?
Armas e equipamentos? Sim. “Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis” (Efé. 6:13).
Ouro, roupas, e suprimento médico? Sim. “Aconselho-te que de Mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas” (Apoc. 3:18).
Alimento e água? Sim. “Ah! Todos vós. os que tendes sede, vinde às águas: e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz? Ouvi-Me atentamente, comei o que é bom e vos deleitareis com finos manjares” (Isa. 55:1 e 2).
Deveríamos correr ao banco e retirar nosso dinheiro, como medida preventiva contra alguma pane no sistema de computação? Talvez, mas toda moeda terrestre está sujeita a desvalorização e roubo, de qualquer modo. Devemos estar seguros de que temos uma pedra de grande preço no seguro depósito de nossa alma: “Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a Terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam: mas ajuntai para vós outros tesouros no Céu. onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mat. 6:19-21).
Ao responder a questões sobre preparação material, esteja seguro de oferecer o dom de Deus que ajuda em qualquer dificuldade. Ofereça esperança! Algumas pessoas sentem desespero quando confrontadas com a possibilidade de crise em meio aos desafios pessoais com os quais elas lutam. Qualquer que seja a teoria ou cenário que elas possam encontrar, as verdades eternas da Bíblia compõem a amorosa carta do único que conhece o fim desde o princípio. Podemos confiar nEle para ajudar-nos em qualquer perplexidade que possa aparecer. Daniel e Apocalipse contêm a mensagem necessária para nosso tempo. Conhecimento é poder e outorga coragem, não importando o que aconteça adiante.
Com o Pão da Vida e a Água Viva em nosso arsenal, protegidos pela armadura de Deus e informados por Sua Palavra, ministraremos cheios de poder, em meio a qualquer grau de inconveniência ou caos que possa vir durante o próximo milênio. A época do bug do milênio pode trazer temor e desconforto; mas também pode ser um tempo de conversões em quantidades jamais vistas. Embora não possamos fazer muito a respeito da primeira opção, devemos, pelo poder de Deus, fazer algo em relação à última.
Os modernos instrumentos da tecnologia, a Internet, o satélite, o rádio, a imprensa altamente veloz, fitas de áudio e vídeo, têm feito da pregação mundial do evangelho um alvo atingível. Isso é por si mesmo um fato sensacional, pois Jesus prometeu: “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim (Mat. 24:14).
DOUGLAS E. BATCHELOR, Diretor e orador do programa de televisão Fatos Surpreendentes, e pastor da igreja adventista de Sacramento, Califórnia, Estados Unidos