Lições do rebanho para pastores que desejam ser bem-sucedidos

Durante minha infância e parte da adolescência, ajudei minha família a cuidar de lavouras e animais na zona rural do município onde morávamos. Por alguns anos, auxiliei meu irmão mais velho a tomar conta de um pequeno rebanho de ovelhas. Foi uma boa experiência tratar desses animais, pois, anos depois, isso me ajudaria a entender princípios de liderança que seriam muito úteis no exercício de meu ministério pastoral. Nunca imaginei que pudesse passar de pastor de ovelhas a pastor de pessoas na Igreja Adventista. No entanto, Deus me conduziu nessa direção. Atualmente, vejo que as experiências simples do campo me ajudam muito em minha preparação para enfrentar os desafios que existem na liderança da igreja local.

Cuidar de ovelhas era uma atividade que, apesar de simples, tinha implicações complexas. Fazia-se necessário conhecer bem seus hábitos alimentares, de sono, de convívio em grupo, entre outros. Para Moisés, pastorear ovelhas foi de grande importância, pois, assim, ele “aprendeu a ser para Israel um cuidadoso pastor”.Sobre o tempo que Moisés dedicou aos rebanhos em Midiã, Ellen White diz que ele necessitava de uma experiência em diversos deveres mais humildes para se tornar um cuidador. “Ao pastorear as ovelhas de Jetro, sua atenção foi atraída às ovelhas e aos cordeirinhos, e aprendeu a guardar essas criaturas de Deus com mais afetuoso cuidado.”2

Quero destacar algumas características de um rebanho de ovelhas, dando ênfase nas formas de manifestação de comportamento e, com isso, apresentar a razão pela qual Jesus relaciona a liderança cristã ao pastoreio.

As ovelhas andam em rebanho. Elas necessitam andar em grupo, pois essa é uma atitude instintiva de autoproteção. Assim, sentem-se mais seguras diante de possíveis ataques de animais ferozes.

A vida em comunidade na igreja expressa por meio das reuniões semanais, das unidades da Escola Sabatina e dos pequenos grupos é essencial para que os membros se sintam bem e animados. Dificilmente, eles poderão crescer espiritualmente no isolamento, sem a companhia dos amigos e irmãos de fé que, geralmente, passam pelos mesmos desafios.

As ovelhas obedecem a uma ovelha mais velha. Ao contrário do que muita gente pensa, as ovelhas não seguem apenas o pastor, mas também uma ovelha mais velha escolhida naturalmente pelo rebanho. Com isso, o animal eleito se torna alvo da obediência dos demais. Aonde a ovelha líder vai, as outras vão atrás, ainda que seja para lugares perigosos, como abismos ou rios.

Lembro-me de que, para deter todo o rebanho em um só lugar, era preciso apenas amarrar a ovelha líder em um pequeno tronco, e as outras ficavam soltas pastando o dia inteiro em torno dessa referência. Também recordo-me de que, para conduzir o rebanho de um lugar ao outro, puxávamos apenas a líder por meio de uma corda amarrada ao seu pescoço ou cabresto, e as outras seguiam fielmente. Com isso, passei a entender que, para que os projetos da igreja funcionem bem, o pastor precisa contar com o apoio das ovelhas mais velhas. Elas podem conseguir resultados expressivos, se bem conduzidas. O pastor conduz a ovelha líder, e ela, por sua vez, conduz o rebanho.

Aprendi com o tempo que os líderes locais podem ter mais influência do que o pastor, devido a alguns fatores: o tempo em que estão na igreja; as amizades já consolidadas; e, o fato de serem indicados pela própria congregação. Por essas razões, é muito importante que a igreja seja bem atendida por bons líderes, experientes e que sejam capazes de conduzir os membros a lugares seguros. Esse é um grande desafio para o pastor, pois, caso as “ovelhas velhas” não transmitam uma boa influência, vários membros poderão ser conduzidos para o penhasco da dissidência, cair nos buracos da revolta, da murmuração, da inatividade e, na pior das hipóteses, da morte espiritual, a apostasia.

Quando o pastor percebe que a ovelha líder é rebelde e representa uma ameaça ao rebanho, ele precisa tomar providências imediatas para proteger as demais ovelhas. Às vezes é necessário que o pastor quebre a perna da ovelha velha para limitar seus movimentos ou mude-a para outro lugar, longe das outras. Aprendi que, para salvaguardar a igreja das influências de maus líderes, por vezes, faz bem limitar a influência deles mudando-os de cargo ou mesmo retirando-os da função, para que não mais representem ameaça a outros.

As ovelhas se dispersam. Quando cuidávamos de ovelhas na zona rural de minha cidade de origem, de vez em quando percebíamos a ausência de uma. Acidentalmente, algumas delas se aventuravam em pastos aparentemente mais palatáveis. Depois de algum tempo, o animal se via sozinho e em desespero. Na tentativa de voltar ao rebanho, seguia por caminhos desconhecidos, por isso, se perdia.

Como não eram muitas, facilmente verificávamos a falta da aventureira e íamos buscá-la. Quando a reencontrávamos, não havia em nós sentimento de raiva ou decepção, mas de alegria por tê-la encontrado com vida. Ellen White afirma que o verdadeiro pastor, ao perceber a ausência de uma ovelha, enche-se de cuidados e de apreensão. Conta e reconta o rebanho. Quando se certifica de que realmente um animal se perdeu, ele não dorme. Quanto mais escura e tempestuosa a noite, quanto mais perigoso o caminho, maior é a apreensão do pastor, e com maior dedicação ele o procura. Faz todos os esforços possíveis para encontrar a ovelha perdida.3 Assim também se espera que o ministro faça o mesmo em suas igrejas. Ele não deve olvidar esforços no sentido de encontrar a ovelha perdida. Além disso, jamais deve condenar a ovelha que se afastou, mas, com cuidado, é desafiado a conduzi-la ao lugar de segurança.

Ovelha gera ovelha. Somente elas são capazes de se reproduzir. O pastor não pode gerar ovelhas, não é natural. Seu papel está em escolher o bom pasto, os lugares em que os animais podem encontrar água, cuidar das feridas e proteger as ovelhas de animais selvagens e de ladrões.

Na igreja, o pastor deve alimentar o rebanho com boas mensagens no púlpito, vacinar o rebanho contra as epidemias das falsas doutrinas, erguer e consertar as cercas do conhecimento doutrinário, a fim de evitar que “animais ferozes” e “ladrões” adentrem o redil e firam ou roubem as ovelhas. É muito importante que ele também capacite adequadamente os membros, para que tenham condições de descobrir e desenvolver seus dons espirituais. Ademais, espera-se que o pastor organize o trabalho e crie boas condições para que os membros discipulem novos membros.

As ovelhas ouvem a voz de seu pastor. Elas são incapazes de ouvir uma voz que não seja a de seu pastor. Elas “ouvem a sua voz, ele [o pastor] chama pelo nome as suas próprias ovelhas” (Jo 10:3). No mesmo capítulo, Jesus declara: “Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não lhes deram ouvido” (Jo 10:8). A voz de estranhos soa como ameaça ao rebanho. As ovelhas que estão bem de saúde são indiferentes à voz de desconhecidos. Acredita-se que somente os animais doentes e fracos atendem a estranhos.

Os pastores não podem descuidar da saúde espiritual de seu rebanho. No planejamento das atividades anuais, devem priorizar um programa de discipulado bem dirigido, tendo em vista formar cristãos maduros e espirituais, capazes de se reproduzir. Aliado a isso, precisa dar atenção a programas que orientem a leitura da Bíblia e de boa literatura cristã. Capacitações para a descoberta de dons espirituais e estimular os membros ao serviço cristão serão de grande valia.

Lembre-se de que Jesus é o Bom Pastor (Jo 10:11). “Como o pastor busca o seu rebanho, no dia em que encontra ovelhas dispersas, assim buscarei as Minhas ovelhas; livrá-las-ei de todos os lugares para onde foram espalhadas no dia de nuvens e de escuridão” (Ez 34:12). Cristo foi capaz de dar a vida por Suas ovelhas. Ele espera que sejamos pastores capazes de amar nossas ovelhas e, se necessário, dar a vida por elas. 

Referências

  • 1 Ellen G. White, Ministério Pastoral (Tatuí, SP: CPB, 2014), p. 52.
  • 2 Ibid.
  • 3 Ellen G. White, Histórias do Grande Mestre (Tatuí, SP: CPB, 2014), p. 33.