Alvo, estratégias e métodos missionários já foram estabelecidos por Deus. Nossa parte é aceitar o mandato
Há, nas Escrituras Sagradas, vários textos sobre a missão, os quais contêm princípios que nos ajudam a cumpri-la de acordo com a vontade de Deus. Podemos começar pelo evangelho de João. Ali, encontramos a primeira ocasião em que Cristo comunicou a missão para os discípulos. Foi no início da noite do domingo da ressurreição, após a conversa que teve com dois deles no caminho de Emaús. Jesus os encontrou reunidos no cenáculo, tristes, medrosos, lamentando os acontecimentos dos últimos dias. E lhes disse: “Paz seja convosco! Assim como o Pai Me enviou, Eu também vos envio. E, havendo dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo” (João 20:21 e 22).
Aqui, a missão aparece na linguagem do “envio”. Os apóstolos são enviados, assim como Cristo foi enviado. Aliás, no evangelho de João a missão de Cristo aparece com a palavra “enviar”. No idioma grego, a idéia de enviar é apresentada com duas palavras: uma é o verbo “apostoleo” de cuja raiz surge a palavra “apóstolo”. A outra palavra básica que se aplica a uma parte específica da missão, no grego, significa “tempo”. Dessa não temos derivada na língua portuguesa. Contudo, ela tem o sentido de alguém que é enviado, mas também participa, pessoalmente, na decisão do seu próprio envio.
No mundo grego, essa era a palavra com que se identificava um embaixador. O embaixador era um enviado. A idéia de representação está presente na missão, pois o enviado representa aquele que o envia. Porém, é um representante ativo; não apenas aceita, mas se envolve pessoalmente na missão. Sua própria determinação está incluída.
Dessa forma, o primeiro conceito da missão é claro: estamos no mundo como representantes de Deus. A estratégia a ser desenvolvida deve estar fundamentada na idéia de representação. A pregação do evangelho não é somente uma questão de palavras, mas de vida, porque quem representa outro faz isso com sua personalidade inteira. Um embaixador não representa seu país somente quando está falando, mas através de toda a sua maneira de viver. O embaixador é o seu país no lugar onde este é representado.
A Igreja cristã será representante de Cristo em todos os lugares onde se fizer presente. Por isso, temos de cumprir a missão como se Cristo estivesse aqui. “Assim como o Pai Me enviou, Eu também vos envio”. A missão é a mesma. Não podemos fazer diferente. Quando pensamos nas atividades pelas quais cumprimos a missão, não podemos fugir do sistema da Bíblia, colocando em nossas atividades nossas próprias idéias ou nosso modo de pensar. Somos representantes e, como tais, apenas decidimos participar. O conteúdo e a estratégia são a parte de Deus.
Enviados com poder
Depois daquele domingo, encontramos a declaração de Jesus no sentido de que os discípulos deveriam esperar até que o poder viesse da parte do Pai. Só então poderiam ir. Lucas relata: “Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia e que em Seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém. Vós sois testemunhas destas coisas. Eis que envio sobre vós a promessa de Meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder” (Luc. 24:46-49).
O envio do Mestre não significa simplesmente receber a missão e ir. É um estilo de vida que devemos desenvolver, mas não antes que sejamos “revestidos de poder”. Sem poder, ninguém pode ir. Missão não é um ativismo religioso, como se fosse um ativismo político. A base espiritual aparece aqui como elemento fundamental de uma estratégia. Como poderíamos alcançar o último habitante da Terra sem o poder? A missão é produto de uma experiência espiritual. Se não for assim, será um fardo tristemente conduzido. Não haverá alegria na missão, enquanto ela for uma atividade promocional, e não uma experiência cristã alegremente irresistível, que salta de um coração cheio do Espírito Santo.
O alvo e o método
A grande comissão é assim descrita: “Jesus, aproximando-Se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade Me foi dada no Céu e na Terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mat. 28:18-20).
Nessas palavras encontramos o alvo, a estratégia e o método para o desempenho da missão. Primeiramente, destacamos a ordem: “Ide … fazei discípulos”. Poderíamos dizer que a ordem foi discipular: transformar alguém que não é discípulo num discípulo. E, segundo as palavras de Cristo, há duas maneiras de fazer isso: ensinando e batizando.
O alvo da missão é “todas as nações”, também presente no evangelho de Marcos: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mar. 16:15). O mundo todo; toda criatura, eis o alvo geográfico. O alvo demográfico é ir a todas as pessoas. De que maneira? Ensinando e batizando. Não deveriamos transformar o método em alvo. Mas esse é o nosso problema; e toda vez que isso acontece há perda de energia e de orientação. Estamos crescendo cada ano, mas ainda crescemos pouco diante do nosso objetivo final. E sofremos porque batizamos pouco, achando que não atingimos o alvo.
Quando, em uma campanha de evangelização, batizamos apenas uma pessoa, ficamos tristes, embora o evangelho assegure que “há júbilo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Luc. 15:10). Mas nem sempre experimentamos essa felicidade, porque, para nós, o número “um” não traz alegria. Para nós, felicidade é “mil”. Para Deus, “um” e “mil” significam a mesma coisa. Corremos o risco de perder a felicidade da missão por avaliarmos mal a dedicação das pessoas.
Devemos crescer em nosso processo de avaliação. Todos devem participar da alegria da missão. Não há necessidade de alguém se esconder temendo o julgamento dos números. Não temos que conquistar apenas algumas centenas de pessoas. O alvo é o mundo inteiro, toda pessoa, cada canto do planeta, do território da Divisão, União, Associação ou Missão, do distrito. E quando todo o nosso território estiver evangelizado, a missão ainda não findou. É preciso colaborar para alcançar lugares ainda não penetrados em outras jurisdições.
Missão final
No primeiro texto bíblico sobre a missão do tempo do fim, lemos: “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim” (Mat. 24:14). Novamente encontramos o alvo: todo o mundo. O Apocalipse também possui textos sobre a missão do tempo do fim. O primeiro é este: “Então, me disseram: É necessário que ainda profetizes a respeito de muitos povos, nações, línguas e reis” (Apoc. 10:11), onde também está presente o conceito do alvo geográfico – o mundo todo.
Profetizar não é apenas pregar como um anunciador público, como aparece em Mateus 28. Nesse caso, trata-se de um arauto que anuncia publicamente, sem se preocupar com a aceitação ou não, por parte das pessoas, à sua mensagem. Seu dever é que as pessoas recebam a mensagem do rei; e, se elas vão atender ou não, isso não lhe diz respeito. Contudo, o ato de profetizar implica dois tipos de conhecimento. Em primeiro lugar, está o conhecimento íntimo da pessoa a quem se comunica a mensagem. Em segundo lugar, o conhecimento dos fatos que vão acontecer. Isso exige preparo para conhecer as pessoas e a mensagem. Esse é o critério bíblico para o ensino e a pregação nos últimos tempos, e isso é o que significa profetizar.
Como podemos profetizar? Utilizando a profecia, ensinando a Bíblia. Vivemos em uma época apropriada à evangelização com a mensagem da profecia, porque todas as profecias estão se cumprindo. A mensagem mais importante, mais relevante, apropriada, e que se harmoniza com a necessidade da época é a profecia.
Finalmente, em Apocalipse 14:6, João escreve: “Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a Terra, e a cada nação, e tribo, e língua e povo.” Notemos: a Terra, cada nação, cada tribo. A todas as pessoas.
Sonhamos com o dia em que todo o povo de Deus compreenda o verdadeiro espírito da missão e sinta alegria de participar. Para isso, devemos simplesmente seguir a orientação da Bíblia. É nela que devemos fundamentar o estabelecimento de nosso alvo missionário, nossos métodos e estratégias. Só iremos sentir a verdadeira alegria no trabalho de Deus, quando estivermos abertos para que o Espírito Santo opere à maneira dEle; quando obedecermos cada item da Palavra, e cada um estiver realizando a parte para a qual foi enviado por Cristo.
Mário Veloso, Ph.D., pastor jubilado, reside na Califórnia