O 52.° Congresso da Associação Geral em Viena, Áustria, foi realizado conforme planejado, no mês de julho próximo passado. O resultado do trabalho das comissões, os temas apresentados e outros documentos poderiam encher livros. Muito desse material chegará oportunamente à Igreja. O presente número de O Ministério contém uma mínima parte do que ali foi apresentado, assim como um comentário editorial sobre o congresso e o momento histórico em que a Igreja cumpre sua missão; material que, estamos seguros, será de verdadeiro interesse para nossos leitores. — R. P.
O Congresso da Associação Geral já passou para a História. O trabalho dedicado, realizado por inumeráveis comissões através de meses e anos, foi traduzido em uma reunião organizada e sem contratempos.
Hoje, as 10 ou 15.000 pessoas que assistiram às diversas reuniões estão disseminadas através de todo o mundo, enfrentando os desafios, as lutas e as alegrias do momento.
Uma pergunta rondou a mente de muitos ao pensar na inversão de dinheiro e de tempo que um congresso tal significa: valerá a pena? A resposta certamente é: Sim, vale a pena.
Qual foi o impacto que a viagem ao congresso e a participação nas reuniões causou em cada um daqueles que assistiram? É impossível medi-lo. Somente podemos imaginá-lo. Podemos, entretanto, dizer que a experiência de ir a um continente como a Europa e assistir às reuniões de uma assembléia da Associação Geral tem que deixar marcas indeléveis em todo aquele que vai com os olhos abertos e com sensibilidade para captar o que vê. Aventuremos alguns comentários.
Uma das maiores bênçãos do congresso, foi sem dúvida, haver-se obtido uma visão internacional da igreja. O leigo ou obreiro que saiu dos limites de suas barreiras locais ou nacionais, pôde ver uma Igreja Adventista realmente mundial. Nos corredores do Stad Halle podia encontrar-se com os nórdicos louros, com os japoneses de olhos rasgados, ou irmãs hindus vestindo os clássicos saris. Todos cantavam com a mesma devoção o hino-tema: “Uma Esperança”. As orações proferidas nas mais exóticas e incompreensíveis línguas mostravam as origens de cada um e falavam das grandes vitórias que o plano missionário da igreja tem obtido.
É muito diferente ler acerca do despertar evangelístico do sul da Índia do que conversar com aqueles que o estão vivendo; ou sobre a incorporação de milhares à igreja no Zaire, provenientes de outros corpos religiosos, do que estar com aqueles que os estão instruindo. Houve conversações e intercâmbios de idéias de horas, com pessoas de quem se podia receber inspiração ou com quem se podia compartilhar planos ou métodos de trabalho. Isso vale mais que ouro: é vida.
Há, entretanto, algo que talvez tenha aborrecido a alguns: o que foi catalogado como excesso de assuntos administrativos durante as reuniões. Houve longas horas de relatórios que cansaram a alguns delegados. Mas isso estava previsto. O Pastor R. R. Hegstad definiu na Review and Herald o que é e o que não é um congresso tal ao comentar a reunião de abertura: “Apesar das multidões do sábado e dos espetáculos marginais ocasionais, (o congresso) não é um circo. Tampouco é uma reunião evangelística ou uma forma de entretenimento internacional. É uma sessão administrativa da igreja mundial, e as reuniões administrativas não são conhecidas por seu conteúdo de inspiração”. — Review and Herald, 13 de julho de 1975, p. 1. Notou-se a presença de verdadeiros técnicos em administração, em legislação e em outras áreas, cuja preocupação básica era organizar e administrar bem as atividades e interesses da igreja.
Viu-se a maquinaria, viu-se que a igreja está formada por homens e também dirigida por homens, mas viu-se a unidade. O objetivo do primeiro congresso celebrado em Battle Creek, de 20 a 23 de maio de 1863, com 20 delegados presentes representando seis Estados norte-americanos, foi: “aperfeiçoar a organização dos Adventistas do Sétimo Dia”. Esta organização é agora admirada por muitos por sua eficiência.
O perigo, entretanto, é evidente. A maquinaria deve existir em função da missão a cumprir, mas jamais ocupar o lugar dessa missão ou diminuir energias a seu cumprimento, e talvez seja essa a advertência a que deveríamos estar atentos como líderes ou membros da igreja neste tempo solene.
“Agora é o tempo”, foi o lema do congresso. Tempo de quê? É tempo de dar ao primeiro — evangelizar o mundo — o primeiro lugar. É tempo de iluminar as cidades ou áreas ainda escuras do campo a nós designado. É tempo de unificar esforços e meios para a consecução desse fim. É tempo de um reavivamento da piedade para que sintamos o chamado a cumprir a tarefa; de instruir-nos como mestres e instruir a congregação para que todos saibamos como cumprir essa tarefa e logicamente, reavivados e instruídos, lançarmo-nos como um só corpo a sua realização.
“Agora é o tempo”, é também nosso lema em 1976 na América do Sul. Isto indica urgência, decisão, concentração no alcance de um só objetivo.
Ao terminar o congresso, como muitas outras pessoas, sendo que já estávamos no velho mundo, aproveitamos para visitar lugares de interesse histórico ou religioso na Europa, o que constituiu uma experiência inolvidável e que unida à experiência do congresso, foi uma verdadeira escola.
Visitamos o castelo de Wittenberg de onde Lutero lançou a Reforma. Também o castelo de Wartburgo onde esteve “seqüestrado” pelo Eleitor da Saxônia com o propósito de ser liberto da ira papal e imperial e onde traduziu o Novo Testamento para o alemão. Visitamos também igrejas nas quais ele pregou.
Nos Alpes italianos visitamos a Torre Pellice, o campo de heroísmo valdense. E. White visitou várias vezes o lugar durante sua permanência na Europa. Pudemos entrar e orar dentro da igreja de Tana, cova que foi refúgio durante os dias mais difíceis das lutas. Subimos também à fortaleza de Montsegur, reduto de onde os albigenses (cátaros) se refugiaram no século XII e de onde resistiram o assédio dos exércitos inimigos durante sete meses, para ser depois forçados a render-se e ser queimados ao pé do monte.
Ao estar ali e recordar aqueles trágicos embora gloriosos episódios, e ao visitar as imponentes catedrais que revelam o poderio do catolicismo daquele tempo, é impossível deixar de sentir admiração por aqueles heróis da cruz, que tanto valor e dedicação demonstraram.
Mas ao estar na Europa, não apenas se sente o aroma da História. Apalpa-se também o presente e pode-se observar um pouco dentro do futuro. Nota-se um ressurgimento do interesse por questões religiosas, ao lado do abandono das tendências que através de um par de décadas arrastaram a juventude à vida hippie, às religiões orientais e ao esoterismo. As faustosas basílicas de Roma ou de outras cidades, cheias de peregrinos que vêm de todos os rincões do mundo; a suntuosidade de tudo o que pertence à igreja católica nos faz pensar em um ressurgimento de seu poderio, que parecia decaído logo após o Concilio Vaticano e as lutas internas entre liberais e conservadores. Nos primeiros seis meses deste ano do jubileu, data repetida cada 25 anos, mais de três milhões de peregrinos chegaram a Roma, o que equivale ao dobro do que se viu em 1950. Em 29 de junho, foi celebrada na praça de São Pedro uma monumental ordenação de 359 sacerdotes, presenciada por 150.000 pessoas. (Visão, 15 de agosto de 1975, pp. 10, 11.)
Que acontecerá amanhã? Sabemos que essa recuperação se fará e conhecemos as conseqüências que isso acarretará sobre o remanescente. O Conflito dos Séculos o descreve em detalhes.
A máquina da igreja deve funcionar perfeitamente: mas essa máquina não é de museu. Não é para ser admirada, é para produzir. Se não produz é demais e é peso morto.
Você pastor, você administrador ou departamental ou médico ou professor ou colportor ou leigo. Você tem de aproveitar as oportunidades que o Senhor lhe põe diante hoje. “Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação”. II Cor. 6:2. É o tempo de reviver o espírito de Lutero, dos valdenses, dos pioneiros, o espírito de evangelização, de urgência. É o tempo de TERMINAR A OBRA. Amanhã pode ser tarde. É tempo bastante suficiente de que Jesus volte. De você e de mim depende o cumprimento da bem-aventurada esperança.
Rubén Pereyra