Segundo uma lenda grega, ao criar as cidades, Zeus presenteou suas criaturas com duas virtudes: o senso de justiça e o senso de vergonha. Com isso acreditava ser possível a boa convivência entre os homens. A justiça limitaria direitos e deveres do cidadão. A vergonha serviria para equilibrar a ambição, a vaidade e a fúria desmedidas das pessoas. Caso Zeus tivesse existido além da mitologia pagã, e o relato fosse verdadeiro, veria hoje seu objetivo sendo questionado.
Um estudo sobre a vergonha, realizado pela psicoterapeuta Maria Amália Faller Vitalle, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, revela, por exemplo, que a mulher, hoje, enrubesce por não trabalhar fora. A virgindade constrange quem ainda a conserva. Indivíduos entre 20 e 40 anos sentem mais vergonha por fracassos profissionais do que por falhas morais. São conclusões que atestam a inversão de valores tão comum nos dias atuais. E que parece influenciar mesmo algumas lideranças mundanas, afoitas pelo ganho material e pelo apego ao poder. Na corrida para alcançar seus propósitos, não conhecem limites nem critérios. Astúcia, retaliação, autoritarismo, desconsideração pelo ser humano, acusações e vingança são a marca registrada de suas ações. A ética vira pó.
“Convosco não será assim”, diz o Mestre aos Seus pastores. A justiça estará presente no julgamento de terceiros e na tomada de decisões. O senso de vergonha ajudará a nortear o comportamento diante do que é errôneo e indigno. A ética, conceituada como o “estudo dos valores morais e dos princípios ideais da conduta humana”, terá seu lugar. Nesse contexto, brilham novamente as palavras de Cristo: “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles.” (Mat. 7:12). Isso resume a ética cristã e ministerial.
Como tornar prático esse princípio? Tendo como lema seguir o exemplo de Jesus: “O Salvador nunca suprimiu a verdade, mas disse-a sempre com amor. Em Suas relações com outros, exercia o máximo tato, e era sempre bondoso e cheio de cuidado. Nunca foi rude, nunca proferiu desnecessariamente uma palavra severa, não ocasionou jamais uma dor desnecessária a uma alma sensível. … Toda alma era preciosa aos Seus olhos. Conduzia-Se com divina dignidade.” (Obreiros Evangélicos, pág. 117). Eis aí um excelente auxílio no trato com subalternos e companheiros de trabalho.
E mais: “Se teu irmão pecar, vai arguí-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não atender, dize-o à Igreja: e, se recusar ouvir também a Igreja, considera-o como gentio e publicano.” (Mat. 18:15-17). Esse princípio é válido também no trato com algum colega que sabemos estar em erro.
Não é a divulgação de faltas reais ou supostas que restaurará alguém, mas o acolhimento com sincero desejo de ajudar; a mão estendida como auxílio a uma pessoa para reerguer-se de um tropeço ou queda.
Benjamin Franklin, carente de tato em sua juventude, chegou a ser tão diplomático, tão capaz no trato com as pessoas, que foi nomeado embaixador norte-americano na França. O segredo do seu êxito estava num lema pessoal: “Não falarei mal de ninguém, e de todos direi tudo de bom que souber.”
Finalmente, lembramos a magnanimidade de Abraham Lincoln. Um dentre seus adversários, Edwin Stanton, certa vez chamou-o de “palhaço vil e intrigante, gorila indomável”. Apesar disso, Lincoln o escolheu para secretário de Defesa em seu governo, dizendo considerá-lo o mais capaz e idôneo para a função.
Quando informado por um amigo que, no exercício de suas funções, Stanton o tachara de louco, Lincoln respondeu tranquilamente: “Ele disse isso de mim? Então deve estar certo, pois Stanton raramente se engana.” Não admira que, posteriormente, arrependido junto ao esquife de Lincoln, Stanton declarasse: “aqui jaz o maior líder que já conheci.” A atitude de Abraham Lincoln poderia ajudar muitos líderes na formação de sua equipe de trabalho. Evidentemente, ninguém dirá que é fácil reagir com magnanimidade. Quando nos sentimos agravados, o primeiro impulso é sempre pagar com a mesma moeda, a antiga lei do talião de “olho por olho e dente por dente”. Mas o cristianismo trouxe ao mundo um princípio mais elevado e nobre: “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles.” –Zinaldo A. Santos.