Conta-se a história de um jovem pregador, recém-chegado do seminário, o qual queria impressionar sua pequena igreja sobre quão fortemente ele combateria o pecado. Em seu primeiro sermão, ele pregou contra os demônios do tabagismo. Depois da pregação, um idoso diácono chamou-o e sussurrou: “Tenha cuidado, filho. Um terço dessa gente planta fumo.”
Primeiro golpe.
Na semana seguinte, o jovem pastor falou contra os demônios do alcoolismo. O diácono olhou-o profundamente irritado, chamou-o a um canto, e novamente advertiu: “Jovem, você não sabe que um terço de nós aqui, estamos envolvidos na comercialização de bebidas alcoólicas?”
Segundo golpe.
Na terceira semana, o jovem pregador condenou com inegável convicção os demônios do jogo de azar. “Você preferiu isso” — falou o último ouvinte que permanecera, enquanto deixava no solo os rastros do seu cavalo.
Terceiro golpe.
O irado corpo de membros convocou, no decorrer da semana, uma reunião de emergência buscando se livrar do tormento, então representado na forma de alguém que ousava transtornar seu envolvimento com práticas tão escusas para um cristão, mas, para eles, tão usuais. O desesperado jovem pregador descobriu naquela oportunidade que suas convicções o estavam expulsando da igreja. Solicitou que a comissão lhe desse uma nova chance.
Na semana que se seguiu ele pregou seu mais poderoso sermão na mesma igreja. Agitando seus braços com autoridade, ele amaldiçoou os demônios da pesca ilegal, fora dos limites das águas internacionais.
Daí em diante ele navegou tranquilo. Todos o aprovaram. Finalmente ele aprendera a lição da sobrevivência política: não deixe que suas convicções causem problemas para você. Você pode falar contra o pecado, contanto que não sejam aqueles pecados dos quais seu auditório é culpado. Vá de acordo com a maré. Espere até ver qual o rumo que a carruagem vai tomar.
Muitos de nós, lamentavelmente, também nos encontramos tentados a fazer um agradável jogo político, sacrificando convicções e princípios no altar da ambição profissional ou instinto de sobrevivência. Jovens pastores, ansiosos por uma “promoção”, ou pastores idosos, mais preocupados com sustentação, agem assim. Ora aderem a grupos extremistas e radicais, ora vagueiam no espaçoso mas difícil deserto do secularismo. Mas o Senhor adverte: “Não ameis o mundo nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (I João 2:15).
Muitos fundamentalistas, dotados mais de zelo do que discernimento, tentam amarrar o pastor a tradições legalistas, não compreendendo que o que consideram firme fundamento não passa de areia movediça. Precisamos estar vigilantes.
Paulo, o apóstolo, recusou-se a abraçar qualquer produto proveniente de extremistas. No livro escrito aos gálatas, ele descreve uma intensa batalha com judaizantes na igreja, que ameaçavam o evangelho libertador dos novos conversos. Ele disse que o surgimento da crise era devido a “falsos irmãos que se entremeteram com o fim de espreitar a nossa liberdade que temos em Cristo Jesus, e reduzir-nos à escravidão; aos quais nem ainda por uma hora nos submetemos, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós” (Gál. 2:4 e 5).
O apóstolo, Pedro, desafortunadamente, sucumbiu à pressão política chegando a “…apartar-se temendo os da circuncisão. E também os demais judeus dissimularam com ele, ao ponto de o próprio Barnabé ter-se deixado levar pela dissimulação deles” (Gál. 2:12 e 13).
Semelhantes a dois rastejantes camaleões, Pedro e Barnabé temporariamente se adaptaram ao ambiente legalista. Paulo, entretanto, permaneceu leal à sua fé, a despeito de enormes riscos políticos. Os líderes íntegros da atualidade seguirão o exemplo de Paulo.
Disse Jesus: “… O bom pastor dá a vida pelas ovelhas. O mercenário, … vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge. Então o lobo as arrebata e dispersa” (S. João 10:11 e 12).
Quantas vezes as ovelhas têm sido dispersas — novos membros e jovens são afastados de nossas igrejas — porque um pastor mercenário não os defendeu contra impiedosos extremistas. Eu estou convencido de que um dos mais importantes deveres pastorais é travar a batalha contra os lobos que atacam as ovelhas. Nós nem sempre nos atrevemos a tomar uma medida profilática na época de fazê-lo. E perecemos, as ovelhas e nós.
Nos tenebrosos dias do início da Segunda Guerra Mundial, Hitler, tirano em seu caminho, cruzou os limites da Checoslováquia. O primeiro ministro britânico, Neville Chamberlain, procurou apaziguá-lo com uma missão de paz a qualquer preço. Winston Churchill condenou a elegante covardia de Chamberlain, dispondo-se mesmo à guerra em defesa da liberdade. O mundo deve muito a Churchill por seu gesto.
A tentativa de Chamberlain pode deixar a igreja em paz, mas causa inominável dano ao condescender com os partidários legalistas cujas táticas equivalem a terrorismo. Ajude-nos Deus a guerrear, se for necessário, para resguardarmos hostes inocentes, não para salvar nossa reputação.
Devemos fazê-lo firme e misericordiosamente, mas devemos fazê-lo.