Grandes coisas acontecem quando a igreja avança unida
Erton Köhler
Gosto de repetir uma frase que muitos já decoraram: “Unidos somos mais fortes, chegamos mais longe e vamos mais rápido.” Essa repetição destaca minha crença na força e nos resultados da integração e motiva os líderes e membros a investir nessa visão.
Integração e unidade são palavras com significado muito próximo e representam uma de nossas maiores necessidades. São fundamentais para o cumprimento de nossa missão, importantes para a solidez de nossa mensagem, para a expansão mundial de nossa igreja e, especialmente, para o recebimento do Espírito Santo. Ellen White afirma que “quando os obreiros tiverem a presença permanente de Cristo em sua alma, […] quando existir unidade, quando eles se santificarem, de maneira que o amor de uns pelos outros seja visto e sentido, então os chuveiros da graça do Espírito Santo hão de vir tão seguramente sobre eles como é certo que a promessa de Deus não faltará nem num jota ou num til”.1
O ministério adventista é formado, em sua maioria, por líderes criativos, carismáticos e proativos, o que facilita o surgimento de novas ideias e iniciativas independentes. Essa autonomia é positiva; afinal, unidade não tem que ver com uniformidade. Cada indivíduo necessita alimentar e preservar suas características pessoais. Nosso grande desafio, porém, é canalizar essa disposição para uma causa comum, pois “sejam quais forem as boas qualidades de um homem, ele não poderá ser um bom soldado se agir independentemente. De vez em quando talvez seja realizado algum bem; mas, com frequência, o resultado é de pouco valor, e muitas vezes o fim revela que foi causado mais dano do que bem. Os que agem independentemente dão a impressão de realizar alguma coisa, atraem a atenção e fulguram intensamente, e então desaparecem. Todos precisam puxar numa só direção, a fim de prestar eficiente serviço para a Causa.”2
O Espírito Santo foi derramado no Pentecostes, apenas quando os primeiros cristãos deixaram de lado interesses pessoais, consagraram-se ao Senhor e se uniram ao redor da mesma missão. “A despeito de preconceitos anteriores, todos estavam em harmonia uns com os outros. Satanás sabia que, enquanto essa união continuasse a existir, ele seria impotente para deter o progresso da verdade evangélica, e procurou tirar vantagem de anteriores hábitos de pensar, na esperança de que, por esse meio, pudesse introduzir na igreja elementos de desunião.”3 Mas havia uma certeza: “Enquanto persistissem em trabalhar unidos, mensageiros celestiais iriam adiante deles, abrindo-lhes o caminho; corações seriam preparados para a recepção da verdade, e muitos seriam ganhos para Cristo. Enquanto permanecessem unidos, a igreja avançaria. […] Nada lhe impediria o progresso. Ela avançaria de vitória em vitória, cumprindo gloriosamente sua divina missão de proclamar o evangelho ao mundo.”4
Para fortalecer essa experiência de integração, sob o poder do Espírito Santo, temos a cada ano o desafio de nos unir ao redor da mesma visão, que destaca o discipulado. Não como um modelo rígido, mas por meio do conceito de “fazer discípulos através de comunhão, relacionamento e missão”, com um foco claro em envolver, desenvolver e multiplicar pessoas. Tomando por base esses princípios, cada pastor, Campo local e União adapta os conceitos à sua região, seu perfil de liderança e sua abordagem de projetos e iniciativas.
Os principais objetivos precisam ser comuns para cada princípio do discipulado, apontando para o resultado final de qualquer área ou iniciativa. Em comunhão, mais gente estudando a Bíblia e dedicando tempo à oração; em relacionamento, mais gente participando de uma unidade de ação integrada a um pequeno grupo; e na missão, mais gente dando estudos bíblicos e levando pessoas ao batismo.
Para que os resultados sejam sólidos, também precisamos avançar integrados em algumas ênfases: em comunhão, o estudo diário da Bíblia e da Lição da Escola Sabatina; em relacionamento, o investimento em capacitação regular de líderes e cuidado especial na retenção de membros; e na missão, o envolvimento de cada adventista na ministração de estudos bíblicos, a realização de batismos frequentes, com datas definidas e cerimônias inspiradoras, e o plantio de igrejas.
O fortalecimento de cada uma dessas ações acontece em quatro momentos no ano, que são bem conhecidos e devem envolver toda igreja de maneira integrada. Estamos chamando cada momento de celebração, porque é mais do que uma data ou um evento. É uma oportunidade de atuarmos juntos, celebrando cada ênfase do discipulado.
Essa é a visão geral, a essência das ideias. A partir delas, cada região pode desenvolver sua estratégia e criar o melhor formato local. É importante destacar, porém, que o discipulado existe para a missão. Afinal, foi esse o objetivo da grande comissão (Mt 28:18-20). O crescimento espiritual e a integração da igreja devem tornar nossos membros mais espiritualmente profundos e felizes, mas precisa levar ao testemunho pessoal e à multiplicação de novos discípulos. Trabalhamos por um discipulado claro, que produza uma missão intensa e leve mais de 1 milhão de pessoas a receber estudos bíblicos. Como consequência, esperamos que pelo menos 250 mil pessoas entreguem a vida a Jesus por meio do batismo, tornando-se novos discípulos multiplicadores.
Para que isso aconteça, invista em um ministério moldado pela integração. Nem sempre é fácil, pois é preciso humildade para administrar o entusiasmo, dirigir a criatividade e fortalecer a disciplina pessoal. O apóstolo Paulo entendeu a necessidade de cultivar essa humildade, mesmo com grande sacrifício. Quando surgiu uma polêmica sobre a circuncisão, 14 anos após sua conversão, ele gastou três semanas viajando 501 km até Jerusalém, para dialogar com os apóstolos e buscar consenso sobre o tema. Era sua forma de reconhecer que a unidade tem um preço, mas compensa. Por isso, como obreiros chamados para o tempo do fim, somos desafiados a “unidos […] conduzir a obra rumo a sua terminação”.5
Referências
1 Ellen G. White, Mensagens Escolhidas (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016), v. 1, p. 175.
2 Ellen G. White, Mensagens Escolhidas (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), v. 3, p. 24.
3 Ellen G. White, Atos dos Apóstolos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 87, 88.
4 White, Atos dos Apóstolos, p. 50.
5 White, Atos dos Apóstolos, p. 152.
Erton Köhler, doutor honoris causa, é presidente da Igreja Adventista para a América do Sul