No dia 5 de setembro de 1994, representantes de 180 países se encontraram no Cairo, Egito, para discutir um dos maiores problemas enfrentados pela sociedade hoje: crescimento populacional e os limites dos recursos naturais. Jornais, revistas e noticiários de televisão dedicaram generosos espaços à Conferência Internacional da População e Desenvolvimento, que ocorre a cada dez anos.
Na realidade, a Terra vive hoje uma difícil situação. Sua população cresce quase 274 mil habitantes por dia, chegando a acrescentar 100 milhões por ano. Segundo o Banco Mundial, em seu relatório oficial de 1993, o número de pessoas atingirá a marca de 6,2 milhões no ano 2000. E como a população continuará crescendo nos trinta anos seguintes, a cifra chegará a 8,7 milhões. A taxa de crescimento populacional na década de 80 foi de 1,7%, e será de 1,2% nos próximos anos. O índice, embora baixo, não é animador; pois o que interessa é o número absoluto de habitantes, a quem precisa ser oferecido um modo de vida digno.
O mais importante é que com a menor renda per capta da população mundial (350 dólares por ano), vivem 3.127 milhões de criaturas. Numa situação não tão ruim estão aqueles cuja renda anual é de 2.480 dólares. Estes também miseráveis somam 1.401 milhões de habitantes. Os restantes 800 milhões, que vivem nos países do hemisfério norte, têm uma renda de 20.570 dólares por pessoa. Isto significa que 15% da população controla 79% da renda mundial.
Desafio para a missão
Com essa angustiante situação, o mundo se toma palco de uma grande guerra de argumentos entre dois titãs: a Organização das Nações Unidas, ONU, e a Igreja Católica. A batalha foi travada em tomo de um interesse comum, ou seja, a preponderância, ou não, do controle de natalidade a fim de se obter uma melhor distribuição de renda.
A situação é tanto alarmante quanto alvissareira, porque a qualidade de vida do planeta, estando no limite máximo de sua precariedade, é, concomitantemente, um anúncio da brevidade da volta do Senhor. No entanto, impõe-se uma questão: Até onde o nosso conceito de brevidade do retomo de Cristo é consciente e procedente?
O Dr. Gottfried Oosterwal, num artigo publicado pela revista Ministry/dezembro de 1986, intitulado “É a missão possível ainda”, declara que 3/5 da população mundial (cerca de três bilhões) desconhecem o poder e as promessas do nosso Senhor Jesus Cristo. E que aproximadamente quatro bilhões nunca ouviram com clareza as três mensagens angélicas. Estes constituem os não alcançados, o alvo da missão dos adventistas do sétimo dia. Não podemos esquecer que existem no mundo mais de dez mil grupos étnicos não alcançados e seis mil línguas ágrafas, sem um versículo bíblico sequer em seu idioma.
De acordo com o Relatório Estatístico Anual da Associação Geral, de 1992, nós batizamos nesse ano, como Igreja mundial, 626 mil pessoas. Considerando-se que para cada pessoa batizada evangelizamos dez, isto nos leva a dizer que trabalhamos com 6,2 milhões de pessoas, dentro de uma visão muito otimista. Ora, como foi dito anterior-mente, no mesmo período nasceram 100 milhões de indivíduos. Logo, o número de pessoas a serem evangelizadas aumenta a cada ano, numa proporção preocupante. Trata-se de 94 milhões de indivíduos, população esta maior do que qualquer país da América Latina, exceto o Brasil, que a cada ano surge no mundo, e que não conhece a mensagem dos três anjos. Felizmente a nossa visão de missão, como Igreja, é inclusiva. Isto é, Deus está salvando pessoas através de outras corporações religiosas. Contudo, não pode-mos esquecer nossa identidade missiológica. O mundo inteiro é nossa paróquia. Todos têm o direito de ouvir a mensagem adventista. Todos os quatro bilhões acrescidos a cada ano. Isto, de fato, é um desafio. Enfrentá-lo é nossa tarefa.
Urgência necessária
A Igreja Adventista do Sétimo Dia, de um punhado de 3.500 membros em 1863, com 100% de americanos, tornou-se uma Igreja mundial, solidamente estabelecida em 208 dos 226 países. Ela é a mais ampla organização missionária protestante no mundo, com um crescimento líquido de 5% no ano de 1992. Isto nos é favorável em relação ao crescimento populacional de 1,2 a 1,7% ao ano. Em 1888, éramos 1 adventista para cada 58.000 habitantes. Hoje a proporção é aproximadamente de 1 adventista para 745 habitantes. Sem dúvida, esta tem sido a maravilhosa obra que o Senhor tem feito por nós. Há, ainda, milhares de incansáveis obreiros que estão sacrificando tudo para ver cumprida a missão. Por tudo isso devemos ser gratos a Deus. Entretanto, não podemos esquecer que, em 1888, tínhamos 1.500 milhões para evangelizar, e hoje temos que comunicar a mensagem a mais de quatro milhões de seres humanos, quase três vezes mais que em 1888.
É a mais desafiadora tarefa conferida ao ser humano. Ela não foi diminuída em rela-ção aos primórdios da Igreja Adventista, mas aumentada. Além do mais, a declaração de Mateus 24:14 precisa ser cumprida: “E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo… então virá o fim.”
Quanto tempo ainda precisamos para apresentar a tríplice mensagem angélica, se 150 anos de história nos deixam nesta situação missiológica? No ritmo em que estamos conduzindo a missão, quanto tempo ainda passaremos no mundo? Será que nosso grito de brevidade da volta de Cristo não passa de um arroubo de sentimentos religiosos, carente de consistência missionária?
O mundo inteiro é nossa paróquia. Todos têm o direito de ouvir a mensagem adventista. Eis o desafio que devemos enfrentar.
Missão Global
Bem, a Igreja, na última Assembléia da Associação Geral, em 1990, deu uma resposta a esse questionamento, lançando o Projeto Missão Global. O grande alvo é estabelecer uma congregação em cada um dos 1.800 grupos populacionais com um milhão de habitantes, onde não haja representatividade adventista, até o ano 2000. Isso significa que teremos 18 novas igrejas no Afeganistão, 12 na Síria e mais 192 na China. No Brasil a meta não é menos corajosa: estabelecer uma igreja organizada em regiões cuja população seja superior a cinco mil habitantes, e onde a média de adventistas em relação a não adventistas seja de um para quinhentos ou mais.
É imperioso não esquecermos que a Missão Global deve incluir as 200 tribos indígenas brasileiras que falam 115 línguas diferentes. Nossa missão não será maior do que o nosso interesse pelos povos indígenas de nossa pátria. No Brasil, 89% da população dizem professar a religião católica; e 55% dos municípios não possuem um adventista sequer. Nesses lugares não penetrados vi-vem 83 milhões de brasileiros, perfazendo um índice de um adventista para 1.451 não adventistas. A região dita conquistada, onde residem 57 milhões, apresenta a proporção de um adventista para 178 não adventistas. É necessário priorizar a primeira sem que a segunda seja esquecida.
A esta altura, deveriamos perguntar-nos: alcançados esses alvos, até o ano 2000, estaria concluída a evangelização mundial e nacional? A resposta, lamentavelmente é “não”. Citando um exemplo apenas, a cidade de Manaus onde existe um adventista para cada 20 habitantes não adventistas, não concluiu a missão. Anualmente são batizadas nessa cidade cerca de 2.600 pessoas, e, em seguida, a Igreja se lança de novo à tarefa missionária. Há ainda muito por ser feito na evangelização do mundo. Muito mais do que já foi feito até aqui. Nosso conceito de brevidade da volta de Cristo precisa ser avaliado à luz do nível de realização de missão.
Base missionária correta
Ea missão possível? A nossa abordagem tem dado ênfase aos aspectos antropológico e social, dever pessoal e programa de atividades. Essa ênfase, embora correta em si mesma, tem conduzido a uma distorção causada pela ausência da aproximação teológica e devocional da missão. A ênfase nos aspectos humanos da missão provê uma motivação passageira e superficial, e pode até ser negativa em alguns casos. Embora tenhamos feito um bom trabalho de conscientização missionária, ainda permanece um grande percentual de membros regulares sem nenhuma participação.
A motivação missionária da Igreja precisa estar fundamentada na mesma base em que Deus iniciou Seu projeto missionário, isto é, Seu amor pelo mundo. Precisamos orar a Deus no sentido de inspirar-nos um amor tal que nos conduza às pessoas, a fim de incluí-las no Seu reino.
A missão começa com Deus, que busca o homem perdido para conscientizá-lo de sua culpa, e apresentar-lhe a salvação. Conceitos como culpa, pecado e salvação precisam ser bem estabelecidos diante do homem. Isso parece tão óbvio, mas, no afã da busca da metodologia ou do programa missiológico, esquecemo-nos de que o poder convincente permanente do exercício da missão é o simples estudo da Bíblia, como bem disse o Dr. C. Timóteo Carriker, em seu livro Missões e a Igreja Brasileira.
No Antigo Testamento, Israel foi eleito como povo, não para ser a nação favorita de Deus, mas para ser pregador e exemplo, profeta e sacerdote para as nações. A bênção dada a Abraão e seu povo era para todos os povos. Com base na santidade da nação e bênçãos de Deus concedidas a ela, Israel de-veria ser uma força centrípeta na execução da missão. A grandeza nacional, resultado das bênçãos do Senhor na vida do povo israelita, deveria atrair os povos do mundo inteiro a participar destas mesmas bênçãos (Deut. 28:1-3; Zac. 8:22 e 23).
O método da missão é que através das bênçãos concedidas a Israel, com base na santidade fruto da relação do concerto com Seu povo, Deus atrairía as nações da Terra para reconhecê-lo como seu Deus e integrá-las na comunhão de Seu povo.
No Novo Testamento, novamente a origem e o padrão do exercício da missão encontram-se em Deus. A missão começa com Cristo, que não limita a atividade missionária apenas a uma verbalização da mensagem, antes a faz vir acompanhada de sinais, prodígios e maravilhas. Esse padrão é seguido no envio dos doze (Mat. 10:1, 7 e 8), dos setenta (Luc. 10:17 e 20) e dos 120 (Atos 1:8 e 15). Nós temos limitado a evangelização à verbalização. Isso não se deve ao fato de que os três grandes períodos de prodígios (tempo de Moisés, Elias e Igreja nascente) passaram. Antes, tal situação é conseqüência da nossa letargia espiritual, uma vez que Ellen White, num artigo publicado na Review and Herald, de 19/03/1895, deixou claro que a promessa da Chuva Serôdia não era para ser olhada como estando no futuro, porém era privilégio da Igreja tê-la no presente (Evangelismo, pág. 701). Logo, o argumento mais usado do Espírito de Profecia, de que não podemos evangelizar na atualidade como nos primórdios, devido à confusão com organizações religiosas que enfatizam o sobrenatural, é impróprio.
Missão contínua
A missão no Novo Testamento não cessa no ir e testemunhar, acrescentando novos membros à Igreja através do batismo. A meta evangelística somente será alcançada, de fato, quando o novo convertido for instruído na missão pela Igreja, quando ele esperar e receber a plenitude do Espírito para testemunhar, e assim, testemunhando, se tomar um cristão produtivo. A realização da tarefa evangelística só será possível quando nos dispormos a fazer face ao desafio espiritual: Cristo sendo o centro de nossa vida e da missão. Se estamos dispostos, como Igreja, a fazer grandes investimentos de tempo, dinheiro e pessoal para suprirmos necessidades da Igreja, é alto tempo de separarmos tempo, dinheiro e pessoal com o objetivo de fazer acontecer, pela oração e comunhão, o indispensável para o gigantesco desafio da evangelização, que é o cumprimento da promessa de dotação especial do Espírito Santo, a Chuva Serôdia.
Então poderemos dizer Conseqüentemente: Breve o Senhor virá.