O título deste artigo envolve dois componentes fundamentais do ministério que Jesus estabeleceu com Seu exemplo e mandato. O primeiro é o pastor. Pode haver ministério pastoral sem pastor? É evidente que não. O segundo componente é a pregação. Pode alguém ser pastor sem pregar? Também entendemos que isso é impossível.
Calvino costumava dizer: “tirai a Palavra e a fé desaparecerá.” Sem dúvida, o grande reformador se referia à Palavra de Deus, base e esteio da fé. Quase sempre, porém, a Palavra de Deus demanda a palavra do homem, mesmo porque a Bíblia foi escrita em linguagem humana, e, via de regra, é comunicada dessa forma. Sem a Palavra divina, a fé não tem origem; sem a palavra humana, ela não existe. “Como pois invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão se não há quem pregue?… Assim, a fé vem pela pregação, e a pregação pela palavra de Cristo” (Rom. 10:14 e 17).
Pela palavra, uma mente afeta outras mentes. O pregador controlado por Deus, cheio de fé e carregado com a mensagem que recebeu dEle, infundirá fé nos que ouvem. A pregação, portanto, é essencial para o ministério pastoral. A fórmula pregador-pastor é apropriada, porque nem todos os pregadores são pastores. Mas a fórmula pastor-pregador é uma redundância, porque simplesmente não tem sentido um pastor que não é um pregador. Se é verdade que nem todo pregador é pastor, é ainda mais verdade que todo pastor terá que ser um pregador. Aquele pastor que diz fazer o possível para cumprir as tarefas do ministério, somente pregando se lhe sobrar tempo, é qualquer coisa, menos um pastor. É claro que a tarefa de um pastor não é só pregar. Naturalmente, é esperado que ele cumpra outras atividades. Mas essas terão que concorrer para o fortalecimento da pregação.
Um pastor pode ser um bom administrador, um bom conselheiro, um bom relações públicas, um bom visitador, um bom solicitador de recursos, um bom coordenador dos serviços da congregação, mesmo um bom conhecedor de teologia. Mas se seus sermões são fracos e áridos, e não comunicam salvação e vida, ele não está pastoreando. O bom pastorado requer pregação eficaz.
Pastor e Palavra
O evangelho de João afirma que Jesus é simultaneamente Pastor e Palavra (João 1:1 e 14; 10:11 e 14). Não um pastor, mas o Pastor. O bom Pastor. Não um mero som, uma voz, uma palavra, mas a Palavra. Nele encarnam-se pastorado e pregação, numa perfeita unidade. Do mesmo modo como é dito que “como pastor apascentará o Seu rebanho” (Isa. 40:11), é igualmente mencionado que pregava, com poder, a mensagem do Reino e da vida eterna e as multidões O seguiam.
Jesus Cristo começou Seu ministério pregando nas sinagogas “por toda a Galiléia” (Mar. 1:39), e prosseguiu pregando até o fim. Jamais houve um pastor como Ele, e jamais houve um pregador como Ele. “Jamais alguém falou como este homem”, foi o testemunho dos guardas enviados para prendê-Lo e que não o fizeram por se extasiarem ante Sua palavra (João 7:46).
Para os discípulos, Jesus era o profeta por excelência, poderoso em obras e palavras (Luc. 24:19). Os inimigos, não tinham o que responder aos Seus argumentos, e então tramavam em como Lhe tirar a vida. Quanto ao povo, ouvia-O com prazer, e as pessoas ficavam impressionadas, encantadas, arrebatadas, dominadas por Ele (Mar. 12:37; Luc. 19:48). Esqueciam mesmo de suas necessidades mais prioritárias, como por exemplo comer e beber. A multidão alimentada por Jesus, na segunda multiplicação dos pães, estava com Ele havia três dias (Mat. 15:32).
Podemos então afirmar que Jesus é o modelo perfeito do pastor e, Conseqüentemente, do pregador. É justo, pois, que procuremos saber por que e como Jesus obteve êxito na pregação, e tentemos imitá-Lo.
Unção e dedicação
Antes de tudo, Jesus foi ungido pelo Espírito. A unção do alto é condição sine qua non para que o pastorado seja de fato cumprido. Quando Deus chama homens para o ministério, chama-os para serem mais que profissionais de Bíblia. Se devemos ser instrumentos de salvação, é imperativo que busquemos diariamente o divino poder. O pastor não programa bem suas atividades diárias, se deixa fora um plano de estudo e oração. Se não temos tempo para Deus, Ele não terá tempo para nós. Que ao pregarmos, os ouvintes sintam que, antes de nos comunicarmos com eles, estivemos comunicando com Deus e continuamos ligados a Ele.
O segredo aqui chama-se comunhão ininterrupta com Deus. Se queremos, com a nossa pregação, fazer com que os ouvintes sintam a atmosfera celestial, nós mesmos temos que estar impregnados dela. Dificilmente uma congregação vai além do ponto atingido pelo pastor.
Também podemos ver que a dedicação de Jesus ao pastorado foi plena. Todo o Seu tempo e Seus interesses estavam voltados para o ministério. Isso refletia em Seu estilo de vida, na maneira como orava e meditava, e na forma como Se conduzia com as pessoas e lhes falava. O ideal é que isso também ocorra conosco. Mas sabemos de eventuais circunstâncias que obrigam algum companheiro a executar uma atividade paralela, não exercendo um pastorado de tempo integral. Paulo, às vezes, fazia tendas enquanto cumpria os labores ministeriais. Isso, todavia, não interferiu em seu relacionamento com Deus. Sem dúvida, dividir o tempo com uma atividade secular exigiu-lhe maior esforço para não baixar a qualidade do ministério.
Igualmente, não podemos permitir que qualquer circunstância, no ministério ou fora dele, venha interferir em nossa comunhão com o Céu, se queremos prezar pela qualidade da pregação. A igreja precisa sentir isso quando assumimos o púlpito.
Autoridade
O ensino de Jesus superava o dos escribas e fariseus porque Ele falava com autoridade (Mat. 7:29). Mas, de onde provinha essa autoridade?
Talvez seria melhor primeiro observar de onde Sua autoridade não provinha. Não era em virtude de posição, porque Cristo não Se destacava socialmente. Conhecido como da Galiléia, região desprezada pela elite judaica, e de Nazaré, cidade pouco recomendável na época, Ele era um humilde carpinteiro ou o filho do carpinteiro. Não era em virtude de grau acadêmico, porque Cristo não passara pelas escolas dos rabis. Aliás, esse fato despertava admiração nos ouvintes: “Como sabe este letras sem ter estudado?” João 7:15). Não era também em virtude exclusiva de sua natureza divina. Claro, Ele era o Filho de Deus na Terra, mas assumiu a humanidade, tornando-Se em tudo semelhante a nós, exceto no pecado (Heb. 2:17; 4:15)
Portanto, não era por ser Deus na carne, Deus enviado como pastor e pregador, pois assim não seria nosso modelo. Falava com autoridade não porque fosse rígido, severo na pregação. Caso contrário, a multidão não O ouviría com prazer. Autoridade não é a mesma coisa que austeridade.
Quando é que alguém fala com autoridade senão quando é senhor absoluto do assunto abordado? Jesus tinha certeza daquilo que falava, porque sabia do que estava falando (João 3:11). E por que sabia? Se Ele assumiu a natureza humana para ser um conosco, então teve que estudar as Escrituras como cada um de nós. E isso com muita oração e reflexão para chegar às convicções que chegou.
Jesus não pregava meras teorias. Não deixava os ouvintes na dúvida. Sua mensagem era definidamente sólida, consistente, inconteste, vigorosa, robusta, clara, inabalável, porque era extraída da Palavra de Deus, e construída na plataforma granítica da verdade.
Exemplo vivo
Mais que possuir conhecimento da Bíblia, Cristo vivia a Bíblia. E isso é fundamental, pois, como lembra C. B. Haynes, “cristianismo é mais que uma mensagem a ser comunicada, mais que uma verdade a ser ensinada, mais que um conjunto de doutrinas a ser exposto: é uma vida a ser vivida e partilhada”.
Nesse ponto, Jesus é o exemplo máximo. Ele falava com autoridade porque sabia e vivia Sua mensagem. Seu ensino era a exposição de Sua vida. E Sua vida, a exposição de Seu ensino. Ensinava a verdade e era a verdade. Iluminava e era a luz. Mostrava o caminho e era o caminho. Os ouvintes aprendiam sobre a verdadeira vida. E Ele era a vida.
O sermão da montanha, por exemplo, reflete a vida do próprio Cristo. Aquele que disse “amai os vossos inimigos e orai por eles”, foi quem mais amou e mais orou pelos inimigos. Aquele que disse “quem te ferir na face direita oferece-lhe também a esquerda”, foi quem mais Se resignou diante de maus-tratos.
É por isso que Jesus pregou como ninguém ainda pregou. Ao exortar, repreender e anunciar as verdades do reino, a indiferença era banida. Sua palavra feria no âmago a encenação dos hipócritas, e contrapunha-se contundente às maquinações de inimigos declarados. Ele sacudia a consciência dos indiferentes, ao tempo em que infundia esperança e fé no coração opresso. Aqueles que aceitaram Sua palavra sentiram a emoção de uma nova vida. O que as multidões, delirantes, disseram dos atos de Cristo é verdade quanto à Sua pregação: “Jamais se viu tal coisa em Israel” (Mat. 9:33).
Eis aí, em termos gerais, uma breve pincelada do Cristo pastor. Pode haver outro que nos estimule mais na grandiosa obra da pregação? Talvez fiquemos longe das alturas que Ele alcançou, mas continua sendo o grande ideal a ser buscado.
Itens para imitação
Cremos que a esta altura é oportuna uma breve consideração de sete pontos essenciais nesse retrato admirável do Cristo pregador.
Cristo Se preparava para as Suas apresentações. Isso se nota na forma como pregava, com idéias e pensamentos bem coordenados, fluindo naturalmente em sua devida ordem. Suas colocações eram próprias. Suas ilustrações, as parábolas por exemplo, denotam demorada observação e longa reflexão. Cristo não improvisava mesmo diante de “imprevistos”, como os apartes dos seus adversários. Ele estava sempre pronto para responder.
Cristo mantinha necessário equilíbrio em Sua oratória. Suas pregações não eram bombásticas, espalhafatosas, estravagantes, alarmistas. A profecia previu acerca do Cristo pregador: “Não clamará nem gritará…” (Isa. 42:2).
Pregação não é gritaria. Às vezes se faz muito barulho para compensar um conteúdo inócuo e vazio de mensagem. Cristo era um ardoroso pregador que sempre evitava os extremos inconseqüentes. Seu exemplo nos deixa claro que a pregação bíblica é mais que verbosidade, até mais que retórica e eloqüência, embora se possa valer desses recursos.
Cristo valorizava o auditório de uma alma. Uma alma para Cristo era de valor qualitativo igual ao das muitas almas de grandes audiências. Basta observar Seus diálogos com Nicodemos e com a mulher samaritana, para se ver que Ele pregava em particular com o mesmo esmero e fervor pela salvação de uma única alma, como o fazia em público para milhares que O ouviam.
As circunstâncias que marcavam o Seu ministério cumpriam as profecias e Ele percebia isso. Após a ressurreição, abriu o entendimento de dois discípulos a caminho de Emaús, discorrendo-lhes sobre o que estava escrito a Seu respeito “em todas as Escrituras” (Luc. 24:27). E o testemunho daqueles discípulos foi o seguinte: “Porventura não nos ardia o coração quando Ele pelo caminho nos expunha as Escrituras?” (v. 32).
Vários dos apartes feitos pelos opositores quando Jesus estava pregando, a maioria dos quais perguntas capciosas, objetivando embaraçá-Lo, eram respondidos com uma citação bíblica introduzida com a fórmula “está escrito”, ou com inquirições “nunca leste?…”; ou então com um apelo de encaminhamento às Escrituras: “O que está escrito? Como lês? Como entendes? Como interpretas?” (Luc. 10:26). Os oponentes ficavam mudos, assim como Satanás se viu impotente em suas tentações desferidas contra Ele, ao ser defrontado com um “está escrito”.
Se realmente deseja pregar com poder, o pregador precisa conhecer as Escrituras. Estudá-las continuamente, metodicamente, diligentemente, fielmente, cada dia, com muita oração; buscando a iluminação divina para uma compreensão correta. Somos informados que Lutero gastava às vezes um dia inteiro meditando apenas numa palavra da Bíblia. Erasmo chegou a dizer: “Estou firmemente resolvido a morrer estudando a Escritura; nela estão a minha alegria e a minha paz.” O grande pregador Dwight Moody levantava-se diariamente às quatro horas da manhã, para estudar pelo menos duas horas a Bíblia. Ele deixou o seguinte lembrete para os pregadores: “Apega-te à Bíblia, não apenas a uma parte dela. Um homem não poderá fazer muito com uma espada quebrada.”
Além de conhecer as Escrituras, o pastor precisa saber expô-las e aplicá-las às necessidades dos ouvintes. Exposição sem aplicação, ou vice-versa, será de pouco valor. O grande homilético André W. Blackwood já afirmava: “Com demasiada freqüência os ministros de hoje pregam e ensinam a Bíblia… sem muitas referências às necessidades presentes, ou falam acerca das necessidades presentes sem fazer muita referência à Bíblia.”
Se o pregador possuir um conhecimento básico das línguas originais da Bíblia será ainda melhor. Poderá processar, por exemplo, a exegese de um texto e descobrir algum significado mais profundo e original, o que dará vida ao sermão. Lembremo-nos que o sentido transcendental de uma passagem reside abaixo da superfície. Mas, cuidado! Não vamos pregar grego nem hebraico para o nosso auditório. Exegese não é para ser pregada. Por si só, ela é indigesta e árida para os ouvintes. O processo exegético será cumprido pelo pregador em seu gabinete de estudo, e os achados serão incrementados no sermão para enriquecimento da mensagem.
Através da exegese, o pregador faz uma viagem ao passado e “aterriza” no tempo e ambiente da passagem em consideração, descobrindo assim porque a mesma foi escrita e o que ela significou para seus destinatários originais. Sua visão bíblica se amplia e ele agora “retorna” ao seu tempo e ambiente para fazer o que em homilética é conhecido como aplicação contemporânea, isto é, uma aplicação apropriada para o auditório que ouve o sermão.
Com isso, o pregador fará com que a passagem fale aos ouvintes no contexto deles, e com renovado poder, como se ela fosse escrita agora, para eles. Assim o sermão ganha uma roupagem divina, com duas dimensões distintas: vertical, de Deus para o pregador, comunicando-lhe a mensagem, e horizontal, do pregador para a congregação, comunicando-lhe o recado de Deus. O pregador encarna a Palavra, e Deus fala à congregação. Por isso é correto dizer que todo sermão autêntico é uma proclamação profética. Pregar é fazer Cristo acontecer.
Cristo não pastoreava girafas, mas ovelhas e cordeiros. Isto é, Ele falava de coisas profundas com simplicidade tal que até os mais indoutos compreendiam. Ele não desperdiçava Suas mensagens atirando-as para o alto. Tinham o alvo certo: o coração. A Pedro, Jesus disse: “Apascenta as Minhas ovelhas… apascenta os Meus cordeiros” João 21:15-17), e não “minhas girafas”. Quanta pregação se perde no emaranhado da linguagem empolada, do vocabulário rebuscado, dos jargões profissionais, das frases sem sentido para a maioria dos ouvintes.
Dizem que um catedrático, viajando pela zona rural, chegou à beira de um lago e como necessitasse atravessar para a outra margem, perguntou ao barqueiro quanto ele cobrava pelo serviço:
“Oh, malacozoário bípede, quanto requestas em valor pecuniário para me transferires deste pólo até aquele hemisfério?”
“Sinhô?”, respondeu o barqueiro.
“Estou esquadrinhando a ver se obtenho uma noção do encargo pelo emprego do teu falucho”, insistiu o erudito.
“Hein?!”
Irritado e apontando uma bengala para o barqueiro, o catedrático reagiu: “Se for por ignorância, perdôo-te. Mas se for para menosprezar a minha alta prosopopéia, intransijo. Dou-te com este bastonete no alto da tua sinagoga, reduzindo-te à matéria cadavérica e deixando-te mais baixo que o solo pátrio.”
“Boiando” mais que a própria barca, o barqueiro respondeu: “Dotô, o sinhô precisa entendê que esta barca é meu único ganha-pão. O sinhô sozinho cabe, mas com toda a sua bagage a barca vai pro fundo. Num dá pra levá o sinhô não.”
O não compreender um sermão por parte da igreja é devido à falta de inteligência não dos ouvintes, mas do pregador, que não pregou de forma compreensível. Determinado crente ia às reuniões levando a Bíblia, o livro de cânticos e um dicionário, porque só com a ajuda deste entendia o sentido das palavras do pregador. Simplicidade não significa simploriedade, superficialidade. Mergulhemos fundo para descobrir as veredades bíblicas. Mas, uma vez trazidas à tona, vamos expô-las em termos simples, claros e diretos.
Cristo conhecia as necessidades de Seus ouvintes. Ele sabia exatamente o que dizer e como dizer. Jamais proferiu uma verdade de maneira áspera ou fria. Seu objetivo era restaurar e não destruir. DEle foi dito: “Não esmagará a cana quebrada, nem apagará o pavio que fumega” (Mat. 12:20).
Cristo não era rude nas palavras. Não usava a pregação como chicote para ferir. As palavras de repreensão, como no caso das duas purificações do templo, ou de condenação, como no caso dos “ais” sobre a hipocrisia dos fariseus, eram proferidas com amor e tristeza. Freqüentemente tinha os olhos marejados de lágrimas ao repreender.
Alguém disse que “o púlpito não é um trono – não ‘domina’ o povo. Não é tribunal – não condena. Não é tenda de leilão – não compra ou vende. Não é palco de teatro – não se exibe. Mas é a mesa de Deus para almas famintas, o bálsamo para corações feridos, o suporte para quem carrega fardos e aflições. O mais elevado serviço do ministério, solicitado pelo Grande Pastor é ‘apascenta as Minhas ovelhas’”.
Assim, o pastor será amável com os que o ouvem. Mais que isso, conhecê-los-á, para que os ajude, pregando-lhes a mensagem que carecem ouvir, com aplicações apropriadas às suas necessidades gerais e específicas. Um calendário de púlpito levará o pastor a oferecer à congregação uma nutrição espiritual balanceada, enquanto o ajudará a superar a tendência de pregar apenas temas favoritos com sacrifício de outros importantes e necessários. Essa tendência acarreta anemia espiritual, seguida de morte. E quando uma igreja morre espiritualmente a única solução viável é a ressurreição do seu pastor.
Portanto, o segredo é conhecer a igreja. E esse conhecimento é obtido através do relacionamento pessoal do pastor com os membros, desenvolvido principalmente na visitação. Um pastor confinado ao seu gabinete fará com que ele e igreja vivam em dois mundos distintos e distantes. Será um pastor alheio, pregando a uma igreja carente com pouca perspectiva de ajuda.
O pastor que se relaciona com o povo, que visita os membros para ouvi-los e orar por eles, identifica-se com seus dramas e necessidades. Poderá ajudá-los particularmente com aconselhamento, e, coletivamente, com pregação. Poderiamos chamar isso de terapia de púlpito. Como llion T. Jones observa, “o sermão semanal é uma forma especializada de aconselhamento pastoral, um método de terapia espiritual de grupo”.
Cristo pregava a Palavra de Deus e não a dos homens. Esse é o ponto mais importante. Jesus fez da Bíblia o esteio do Seu pastorado. Suas mensagens desdobravam o sentido do Antigo Testamento e comunicavam um novo frescor e uma nova visão a temas já conhecidos. Ele pregou exclusivamente a Palavra de Deus, e não os conceitos rabínicos de Seu tempo, porque literalmente estava possuído dessa Palavra.
Assim o pregador é instado a pregar a mensagem bíblica, e só a mensagem bíblica. “Prega a Palavra”, exortou Paulo a Timóteo (II Tim. 4:2). Antes, lhe recomendou aplicar-se “à leitura” e procurar apresentar-se a Deus aprovado, “como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (I Tim. 4:12; II Tim. 2:15). O pregador não será um mero biblicista, mas estará familiarizado com a Bíblia, conhecê-la-á bem, e se deixará envolver por ela.
Como disse o Dr. Floyd Bresee, “um discurso se transforma num sermão quando se origina nas Escrituras. A verdadeira pregação é a Palavra de Deus acerca do homem e não a palavra do homem acerca de Deus”.
Cuidado na interpretação da Bíblia! Os princípios hermenêuticos precisam ser respeitados, se não quisermos chegar a conclusões absurdas e fantasiosas. Ao pregar com fundamento na Bíblia, Cristo só pregou a verdade. E o pregador precisa fazer o mesmo. Sejamos cautelosos para não impor à Bíblia o nosso próprio pensamento, ou conceitos populares que nada têm a ver com o que Deus diz. Jesus condenou os líderes religiosos de Seus dias, porque pregavam idéias humanas em lugar das verdades divinas. “Jeitosamente”, disse-lhes: “rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa… tradição… ensinando doutrinas que são preceitos de homens.” (Mar. 7:9 e 7).
Assim, temos que ser fiéis à tarefa da pregação que o Senhor nos confiou. Cada vez que nos dispomos a pregar, devemos lembrar que nossa congregação tem o direito de receber uma exposição bíblica com aplicação à sua vida. É o que todos esperam do pastor.
Preguemos o evangelho, e não notícias de jornais, assuntos de política, temas de filosofias, princípios de psicologia, informações sobre avanços científicos ou conquistas da medicina. Hoje se fala muito no evangelho social, na teologia da libertação. Mas somente conheço um evangelho. Aquele que é “o poder de Deus para salvação de todo o que crê” (Rom. 1:16). Libertação genuína é aquela anunciada por Cristo quando disse: “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32).
Para fortalecer a fé e a segurança da salvação, nossas congregações necessitam de sólido alimento, a nutrição espiritual que só a Palavra de Deus pode oferecer. Como disse o Pastor Arthur H. Stainback, da Igreja Batista, “deixai que vossos membros saibam que quando pregais, o mundo fica de fora. Animai suas almas com a Palavra de Deus”.
Questão fundamental
Tocamos com a ponta dos dedos o desempenho de Jesus como Pastor e Palavra. O estudo da revelação de Cristo é inesgotável: seja qual for o aspecto considerado, sempre teremos o que aprender. Mas espero que o que foi exposto seja suficiente para nos convencer de que a dimensão pastoral da pregação é, de fato, fundamental no ministério. Não há como ser pastor, na legítima acepção do termo, exceto se a pregação diligente e ciosa for priorizada.
Um dia daremos contas do pastorado que cumprimos. Deus nos dirigirá a pergunta que se encontra em Jeremias 13:20: “Onde está o rebanho que te foi confiado, o teu lindo rebanho?” Que possamos responder com um outro texto bíblico, o de Isaías 8:18: “Eis-me aqui, e os filhos que o Senhor me deu.” E, então, nosso Deus possa nos dizer: “Bem está, servo bom e fiel: no pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Entra no gozo do teu Senhor.” (Mat. 25:21). ☆
JOSÉ CARLOS RAMOS, D.Min., coordenador de pós-graduação do Seminário Adventista Latino-americano de Teologia