Este artigo se baseia numa série de mensagens devocionais transmitidas originalmente à família da Associação Geral em seus cultos matutinos. Cremos que as idéias apresentadas ali merecem cuidadosa consideração por parte de todo pastor adventista do sétimo dia. Portanto, a nosso pedido, o Dr. Hyde adaptou suas mensagens à forma escrita para que pudessem ter mais ampla circulação. — Os Editores da Revista Ministry.
Quando olhamos para o horrendo acúmulo de conseqüências do pecado, talvez pareça inútil até mesmo sugerir que a proclamação de uma mensagem possa oferecer um pouco de esperança para a solução do problema do pecado.
Cumpre notar, porém, que quando Deus enfrentou a realidade da falta de confiança e conseqüente desobediência de Adão e Eva, Ele proclamou uma mensagem. No entanto, antes de oferecer o primeiro lampejo de esperança a esses santos que se tornaram pecadores, Ele os chamou com amor e solicitude ao continuar a andar no jardim pela viração do dia. E quando no primeiro rubor de culpa nossos primeiros pais quiseram esconder-se da presença de Deus, houve profundo pesar em Sua voz — não só porque eles permitiram que o enganador os separasse e conquistasse, mas principalmente porque agora estavam com medo de seu Criador e Benfeitor.
“E chamou o Senhor Deus ao homem, e lhe perguntou: Onde estás?” Gên. 3:9. Essa é a fonte e a origem do evangelho — a mensagem de boas-novas — Deus buscando o homem pecador; Deus, o Iniciador de um meio para salvar os pecadores. Esse meio foi revelado na primeira declaração e formulação do evangelho, dirigida na realidade à Serpente: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” Gên. 3:15.
Vivemos agora no tempo do fim. E temos falado sobre a conclusão da obra há bastante tempo — cerca de 137 anos. E, portanto, desejamos procurar novamente a chave divina para a conclusão da obra. Podemos perguntar legitimamente se a terminação da obra do evangelho não poderá resultar da proclamação de uma mensagem, como sucedeu com o seu começo. E assim fazemos a pergunta:
É um Novo Evangelho?
É isso que precisamos? Se necessitamos de um novo evangelho, em que consistia o antigo? Havia algo de errado nele? Deus possui uma coleção de evangelhos, e de vez em quando experimenta um novo evangelho?
Por falar nisso, estais lembrados’ das palavras de Paulo; são um pouco fortes, e Paulo era capaz de produzir palavras vigorosas: “Mas, ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do Céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema.” Gál. 1:8. Como sabeis, a palavra para “anjo”, no Novo Testamento grego, é a mesma que para “mensageiro”. Paulo, sob inspiração, está disposto a condenar eternamente um mensageiro ou um anjo do Céu por pregar outro evangelho. Portanto, como podemos esperar agora que a chave divina para a conclusão da obra seja um evangelho novo ou diferente?
Com efeito, o testemunho bíblico parece indicar com clareza e coerência que o Senhor jamais teve mais de um evangelho para ser oferecido aos homens. Deus só tinha um Filho para ser enviado a este mundo. E só há um evangelho verdadeiro que fala a Seu respeito. Ouvimos sua primeira proclamação em Gênesis 3:15; e no último livro da Bíblia o evangelho eterno de Apocalipse 14:6 não é novo, embora seja proclamado como parte do último convite de Deus aos pecadores e tenha ênfases adaptadas às questões do tempo do fim no conflito entre Cristo e Satanás. Lembrai-vos de que uma das qualidades de pessoas ou coisas eternas é sua imutabilidade. Se podem sofrer alteração, certamente não são eternos. (Ver Mal. 3:6.)
Por volta de 1844, os que se tornaram nossos pioneiros começaram a proclamar por toda parte o evangelho na forma e aplicação que correspondesse às condições do mundo no tempo do fim. Basicamente, essas condições não se alteraram com o passar dos anos. Os protagonistas e as questões latentes são os mesmos. Por outro lado, algumas vozes entre nós hoje em dia estão advogando particularmente a idéia de que nós, como adventistas, devemos parar de ensinar a proximidade da volta de nosso Senhor. No entanto, se deixássemos de pregar isso, certamente teríamos de abandonar a pregação das mensagens dos três anjos de Apocalipse 14:6-12. Pois quando esses anjos terminarem sua obra, o apelo é para que o Senhor efetue a ceifa do mundo — uma colheita do cereal que representa os santos, e uma colheita das uvas que representam os pecadores. No auge de sua obra, esses três anjos deviam ser reforçados por outro anjo que salientaria a mensagem do segundo. E por meio de sua obra — sua proclamação do evangelho — toda a Terra seria iluminada “com a sua glória” e ouviria sua “potente voz” ou alto clamor. O último convite de Deus começou com o anúncio da hora do juízo que antecede o advento. O “outro anjo” juntar-se-á aos três para levar esse último convite ao ponto culminante.
Inspirada e autorizada mensageira entre nós declarou-nos que essa mensagem do “alto clamor” começou a ser ouvida em nossas fileiras por volta de 1888. (Ver Christ our Righteousness, de A. G. Daniells, pág. 56.) A mensagem da justiça pela fé, com seus frutos na vida, devia soar por toda a Terra. A Terra devia ser iluminada por ela. Uma grande multidão de novos crentes seria levada a unir-se com o povo que transmite a mensagem. As chuvas temporã e serôdia do Espírito Santo precederiam e acompanhariam a mensagem, e rápida obra ocasionaria o ponto culminante da História aguardado há muito tempo.
Receio que, como um povo, ainda tenhamos de abraçar essa eterna mensagem do evangelho, e se não a recebermos e partilharmos em breve, alguma outra pessoa — talvez até as pedras — terá de transmiti-la. (Ver Christ our Righteousness, pág. 52.) O evangelho eterno é o método de Deus para colocar os homens e as mulheres na devida relação com Deus, preparando-os assim para a obra de concluir a proclamação do evangelho eterno.
Quando os mensageiros escolhidos por Deus começaram a transmitir em 1888 o que Ellen White apoiou como a oportuna ênfase do evangelho nos últimos dias, alguns dos principais luminares entre nós receavam que a segurança da lei moral e o sábado estivessem sendo minados da parte de dentro — quase perfidamente. A mesma espécie de receio surgiu na Igreja apostólica quando Paulo começou a dar toda a atenção ao único evangelho verdadeiro. Os defensores do sistema de culto e exclusividade judaica (que se haviam unido à Igreja cristã) até estavam dispostos a matar a Paulo pelo que consideravam como debilitamento da tradição judaica por sua interpretação da verdadeira liberdade do evangelho.
E assim, mesmo hoje, quase ficamos pesarosos quando alguém chega a mencionar 1888, ou Jones e Waggoner, ou a justiça pela fé, porque a proclamação daquela época parece ser facilmente tão mal compreendida e tão mal interpretada, tanto pelos que a ouvem como, às vezes, pelos que a apresentam. Por favor, permiti, porém, que a vossa alma esteja em paz com Deus e com o vosso próximo nesta questão crucial: o evangelho, devidamente apresentado, não prejudicará nem manchará a amada lei moral de Deus, ou mesmo qualquer lei ou sistema de leis dadas por Deus (a não ser que tenha passado a era de sua aplicação).
Em certo sentido, a lei moral pode muito bem cuidar de si mesma; não precisamos correr em sua defesa. Ela conheceu o evangelho há mais tempo do que qualquer de nós, e jamais se sentiu ameaçada por ele. Nós é que somos ameaçados por um ou outro. E assim chegamos ao texto-chave desta parte de nosso estudo: “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela lei, independentemente das obras da lei.” Rom. 3:28.
Estas palavras nos dizem que uma pessoa é considerada e tratada como justa com base em sua fé nos méritos todo-suficientes de Jesus Cristo, e que essa justiça não depende da observância da lei. Parece ser significativo, também, que não é imposto nenhum limite de tempo a essa certeza, e nenhuma restrição. Mas, quando começamos a lançar todo o peso de nossa alma sobre essa gloriosa promessa — quando começamos a conhecer e a sentir que realmente podemos ter paz com Deus — alguém solta um alarme e exclama: “Olhe para o verso 31!!” E quando consegue que olhemos para o verso 31, parece desejar realmente que olvidemos o que está no verso 28. Dá a impressão de querer que sejamos levados a sentir que o verso 31 supera tanto o verso 28 que podemos muito bem olvidar que já o temos visto. Precisamente quando começamos a exultar na gloriosa verdade de que Deus nos considera justos pela fé na justiça de Jesus, ou, em outras palavras, de que somos justificados, à parte de observar ou praticar as obras da lei — qualquer lei — alguém diz com energia e quase com ira: “Isso estava muito certo quando você foi ter com o Senhor pela primeira vez, mas…!”
Mas o quê?
É a mensagem de Romanos 3:28 e outras passagens semelhantes da Escritura apenas algo a ser procurado frenética e brevemente para tirar-nos do lamaçal do pecado? É o plano de Deus que após o breve momento de libertação divina devemos agora subir ao Céu — talvez com um pouco de ajuda do Senhor, pelo Espírito Santo?
Queremos realmente a conclusão da obra? Desejamos ver uma grande colheita de almas? Queremos que aqueles que já encontraram paz com Deus dêem atenção aos aspectos especiais do evangelho eterno que nos foram confiados para estes últimos dias? Recomendaríamos que eles trocassem sua paz de coração e sua alegria no Senhor pela incerteza e o pesado fardo da culpa que freqüentemente parece assinalar a experiência dos adventistas do sétimo dia?
Qual é “o assunto que atrai o coração do pecador”? É “Cristo e Este Crucificado” (Ellen G. White, Review and Herald, 22 de novembro de 1892). É isso que as pessoas ouvem principalmente de nós? Ou temos tanto receio de que a graça espúria se insinue no evangelho e mine a lei de Deus, que não ousemos passar tempo junto à cruz?
Quais são “as mais doces melodias que provêm de lábios humanos”? Eis a resposta: “A justificação pela fé e a justiça de Cristo.” — Ellen G. White, Review and Herald, 4 de abril de 1895. Aceitos por Deus pela fé! Estai certos de que não há outro meio! Atentai para estas palavras incisivas: “A única maneira pela qual [o pecador] pode alcançar a justiça é pela fé. Pela fé pode ele apresentar a Deus os méritos de Cristo, e o Senhor lança a obediência de Seu Filho a crédito do pecador. A justiça de Cristo é aceita em lugar do fracasso do homem, e Deus recebe, perdoa, justifica a alma arrependida e crente, trata-a como se fosse justa, e ama-a tal qual ama Seu Filho. Assim é que a fé é imputada como justiça; e a alma perdoada avança de graça em graça, de uma luz para luz maior. Pode dizer, alegremente: ‘Não pelas obras da justiça que houvéssemos feito, mas segundo a Sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que abundantemente Ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador; para que, sendo justificados pela Sua graça, sejamos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna.’ ” — Ellen G. Whi-te, Review and Herald, 4 de novembro de 1890.
Ao prosseguirmos em nossa tentativa de identificar a chave divina para a conclusão da obra notemos que o claro ensino de Paulo, de que o pecador é considerado justo pela fé na justiça de Cristo, e não por quaisquer obras da lei que o pecador possa realizar (e declaro que isso significa tanto antes como depois de ter sido justificado), de maneira alguma diminui a autoridade, a santidade ou a centralidade da lei moral no governo universal de Deus. Na realidade, ele diz: “Anulamos, pois, a lei, pela fé? Não, de maneira nenhuma, antes confirmamos a lei.” Rom. 3:31. Anteriormente, não negamos a verdade deste verso. Apenas lamentamos que tantos de nós, durante os últimos noventa anos, temos desejado passar rapidamente do verso 28 para o verso 31 com um profundo suspiro de alívio por estarmos de volta a alguma coisa que defende a lei e o sábado. O protecionismo da lei deu origem a algumas das controvérsias da era de 1888: a identidade da lei mencionada no livro de Gálatas, a natureza do velho e do novo concerto e a influência dessas questões sobre a relação entre a justificação e a santificação.
Quando retornamos, porém, à Epístola aos Romanos, notamos que Paulo usa todo o capítulo quatro para descrever a experiência de Abraão como clássico exemplo de alguém que foi justificado pela fé. “Ao que não trabalha, porém crê nAquele que justifica ao ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça.” Verso 5. E, no entanto, essa fé, creditada ou atribuída a Abraão como justiça, se revelou em obediência — nem sempre perfeita obediência — mas certamente sincera intenção de obediência. Quer ao deixar seu lar para ir a um lugar estranho e não revelado, quer ao aceitar a circuncisão como sinal do concerto, ou ao crer na promessa de um filho ou finalmente ao estar disposto a oferecer esse filho da promessa, Isaque, como sacrifício requerido por Deus — em tudo isso Abraão revelou sua fé em obediência.
Paulo insiste, porém, em afirmar que não foram os atos de obediência que foram creditados a Abraão como justiça, e, sim, a crença e a confiança de Abraão em Deus. Sua aceitação das promessas de Deus é que foi imputada para justiça: “Estando plenamente convicto de que Ele era poderoso para cumprir o que prometera. Pelo que isso lhe foi também imputado para justiça. E não somente por causa dele está isso escrito que lhe foi levado em conta, mas também por nossa causa, posto que a nós igualmente nos será imputado, a saber, a nós que cremos nAquele que ressuscitou dentre os mortos a Jesus nosso Senhor, o qual foi entregue por causa das nossas transgressões, e ressuscitou por causa da nossa justificação.” Versos 21-25.
Então vem a passagem de paz e alegria, de Romanos 5:1 e 2: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriemo-nos na esperança da glória de Deus.”
Essas benditas palavras de certeza são seguidas de algumas das comparações de Paulo designadas pelas palavras “muito mais” e que culminam no verso 11 com a afirmação de que os crentes têm o direito de alegrar-se “em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem acabamos agora de receber a reconciliação”. Esta última expressão indica uma ação completada no passado e cuja eficácia prossegue no presente. É alguma coisa em que se pode confiar. Isto é fora de dúvida.
Em seu uso da comparação “muito mais” (versos 10, 15 e 17), Paulo está contrastando os maus efeitos do pecado de Adão sobre a raça humana com os benéficos e gloriosos efeitos do dom da graça de Deus na pessoa de Jesus Cristo. O pecado de um só homem se alastrou por toda a humanidade, mas a justiça de um só Homem é plenamente adequada para reconciliar, justificar e trazer vida a muitas pessoas — na verdade, para todos os que resolvem crer (ver versos 11-20).
Uma pergunta-chave em nossa procura da chave de Deus para a conclusão da obra (à luz das mensagens dos três anjos de Apocalipse 14) é esta: Qual é a possibilidade de que o crente tenha paz com Deus por nosso Senhor, e, no entanto, esteja em inimizade com a lei moral de Deus? Parece ser apropriado lembrar aqui as palavras do Salmo 119:165: “Grande paz [shalom] têm os que amam a Tua lei; para eles não há tropeço.” Esta asseveração do Antigo Testamento é claramente apoiada por Paulo, como vimos em Romanos 3:31. O evangelho não contém nenhuma ameaça à santidade e à perpetuidade da lei. De modo algum! O evangelho é o preservador e o restaurador, no coração do crente, do amor e da lealdade à lei de Deus.
Isso parecia ser tão bom para alguns que gostavam de olvidar a reivindicação da lei e tão ameaçador para outros que temiam pela segurança da lei, que Paulo foi levado a tratar da questão. Visto que essa graça — disse ele — é um tão maravilhoso antídoto pra a transgressão da lei, e visto que constitui a suprema provisão do amor de Deus, por que não recomendar que continuemos a pecar — transgredindo cada vez mais a lei — de modo que haja cada vez mais graça proveniente do amoroso coração de Deus? (Ver Romanos 6:1.)
Eis como Paulo responde a sua própria pergunta retórica: Se a graça de Cristo nos conduziu à experiência e posição de estar mortos para o pecado (visto que fomos batizados na morte de Cristo — verso 3), como podemos continuar pecando casual, descuidada e levianamente? Não permitiremos que o pecado seja nosso senhor agora, simplesmente porque nos foi oferecida a graça em Jesus Cristo! Outrora éramos escravos do pecado, mas Cristo nos libertou dessa escravidão. Ele nos livrou do pecado, por Sua graça. Como resultado, somos agora, por escolha pessoal, “escravos de Deus”, e o benefício que colhemos disso é a “vida eterna” (ver os versos 15-23).
Visto que o benefício dessa servidão a Deus conduz “para a santificação, e por fim a vida etertificação, e por fim a vida eterna”, estamos muito interessados no pensamento de que Cristo Jesus provê tudo que é necessário para tornar “completo” o pecador que crê.
Completos em Jesus Cristo
Tudo que é necessário para a salvação dos pecadores já foi adquirido na íntegra por Jesus Cristo! Para ser tão completa assim, essa provisão deve suprir o remédio para toda necessidade que o pecado de Adão e nossos próprios pecados produziram dentro de nós e sobre nós. Afigura-se que tal inteireza teria de abranger: o perdão dos pecados; a adoção na família de Deus; a crucifixão do velho homem do pecado; a libertação do total salário do pecado, isto é, da morte sem esperança de ressurreição; a libertação do poder do pecado na natureza que herdamos e cultivamos; a aceitação da parte de Deus pelos méritos de Alguém à altura da lei; o crescimento na graça; estar sob a nova direção do Espírito; e o desenvolvimento de um ambiente propício para a restauração da . imagem de Deus no homem, quer pela temperança, pelo viver saudável, pela contínua educação cristã, pela ecologia, pela preservação da família ou por qualquer outra coisa. E eu apresento como todo-suficiente Provedor de todos esses aspectos do evangelho eterno a Jesus de Nazaré, Filho do homem, Filho de Deus, Deus conosco! “NEle estais aperfeiçoados.” Col. 2:10.
Há muitas ilustrações bíblicas dessa grandiosa verdade: 1) A provisão divina da vestimenta de peles para Adão e Eva (Gên. 3:7 e 21); 2) a arca para os crentes no tempo de Noé (Gên. 6-9); 3) Josué e o anjo (Zac. 3); 4) A Videira e os ramos (S. João 15:1-12); 5) o Negociante divino e Seus artigos todo-suficientes (Apoc. 3:18-21), etc.
Essa provisão todo-suficiente para nossa salvação envolve muitos dos divinos paradoxos da Escritura. Esses pontos opostos precisam ser mantidos na divina tensão em que a Bíblia os apresenta, senão perderemos as amarrações de nossa salvação e seremos impelidos para um ou outro extremo. Nem todos os que ouviram e aceitaram pessoalmente a Jesus compreenderam todas essas coisas, mas aceitaram com plena confiança e dedicação o que Ele lhes apresentou com rudimentar simplicidade. E o Salvador prodigalizou-lhes Sua inteireza desde o primeiro dia em que O aceitaram.
E eles cresciam diariamente na graça. Sob a tutela do Espírito, os apóstolos foram incumbidos de transmitir as questões mais complexas do evangelho, as quais se tornaram “verdade presente”, quando a Igreja primitiva, composta só de judeus, abriu com relutância as portas para os gentios e também se despediu das tradições judaicas de modo restrito e hesitante.
No tocante à inteireza que o crente desfruta em Cristo, foi publicado um comovente e impressionante artigo de Ellen G. White na revista Signs of lhe Times de 4 de julho de 1892. (Notai que o ano da publicação coloca essa apresentação no tempo da dilatação da mensagem de 1888, que Deus tencionava cumprisse a tarefa do anjo de Apocalipse 18:1-4 para a conclusão da obra do evangelho eterno.) O principal ponto do artigo, obtido pela repetição da frase mais importante de Colossenses 2:10, é que todo requisito para a salvação dos pecadores já foi completamente adquirido por Jesus Cristo, e que o crente, por meio de confiante aceitação de “Suas preciosas e mui grandes promessas” (II S. Ped. 1:4), é e será “completo nEle”.
Todo o artigo é inspirador, mas um trecho escolhido será suficiente para nosso propósito aqui:
“Nunca podemos alcançar a perfeição por nossas próprias boas obras. A alma que vê a Jesus pela fé, rejeita sua própria justiça. Encara a si mesma como incompleta, seu arrependimento como insuficiente, sua mais forte fé como sendo apenas debilidade, seu mais custoso sacrifício como escasso, e se prostra com humil dade aos pés da cruz. Mas uma voz lhe fala dos oráculos da Palavra de Deus. Com estupefação ela ouve a mensagem: ‘NEle estais aperfeiçoados.’ Agora tudo está em paz nessa alma. Não precisa mais esforçar-se para encontrar algum merecimento em si mesma, alguma ação meritória pela qual alcance o favor de Deus. Col. 2:10; 4:12.
“Contemplando o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, ela encontra a paz de Cristo; pois o perdão é aposto a seu nome, e ela aceita a Palavra de Deus: ‘NEle estais aperfeiçoados.’ Quão difícil é para a humanidade, por muito tempo acostumada a acalentar a dúvida, aceitar essa grandiosa verdade! Todavia, que paz ela traz à alma, e que vitalidade! Olhando para nós mesmos em busca de justiça, para encontrar aceitação diante de Deus, olhamos para o lugar errado, ‘pois todos pecaram e carecem da glória de Deus.’ Devemos olhar para Jesus, porque ‘todos nós com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na Sua própria imagem’. Deveis encontrar vossa inteireza contemplando o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo… Quando o pecador tem uma visão dos incomparáveis encantos de Jesus, o pecado não mais lhe parece atraente.”
Aí está novamente a segurança da lei moral, a segura defesa contra qualquer versão de “graça vulgar”. Aquele que acha que a justificadora justiça de Cristo lhe dá licença para pecar com impunidade nunca compreendeu realmente o verdadeiro significado da cruz, do Getsêmani e do Calvário.
O Assunto Dominante
Se a Igreja Adventista do Sétimo Dia realmente foi trazida à existência por Deus a fim de dar a ênfase de Apocalipse 14 e 18 ao evangelho eterno (e quem mais está fazendo isso, se não nós?), ela ainda enfrenta uma solene responsabilidade. Essa responsabilidade consiste em colocar as gloriosas boas-novas da justificação pela fé na frente, no meio e no fim de suas apresentações ao mundo. Esse foi o apelo inspirado da era de 1888, centralizada na Assembléia da Associação Geral de Mineápolis.
Naturalmente, damos certa deferência à justificação, mas amiúde desejamos relegá-la a uma posição secundária — depreciando-a para que a santificação possa ocupar a dianteira e a posição central. Essa parece ter sido nossa atitude dominante desde que alguns dirigentes se opuseram a Jones e Waggoner e começaram a duvidar do ministério de Ellen White nos anos relacionados com 1888. Oramos pela esperada restauração de Deus em nós — a qual é uma das condições da conclusão da obra — mas parece que não estamos dispostos a aceitar o papel da justificação pela fé para tornar possível essa restauração.
Deus nos deu a chave para a conclusão da obra em 1888 — a chave para o alto clamor da Mensagem do Terceiro Anjo. Com demasiada freqüência e por muito tempo temos conseguido esconder essa chave. Ressoai a gloriosa mensagem da completa aceitação dos pecadores arrependidos pelos méritos de Jesus! A santificação acompanha a justificação, mas a base da aceitação completa nunca se modifica. A obediência, mesmo de verdadeiros crentes, sempre é manchada, pelo menos pelos “corruptos canais da humanidade” em que temos de habitar até que o Senhor venha. Sempre necessitamos do incenso da justiça de Cristo para tornar nossas orações, louvor e confissão “inteiramente aceitáveis”. Quando o oferecermos a Deus, veremos respostas a nossas orações pelas poderosas atuações do Espírito de Deus entre nós e em Seu avanço, usando-nos como Seus instrumentos, para a conclusão da obra. (Ver Mensagens Escolhidas, livro 1, pág. 344.)
Como povo de Laodicéia, abramos a porta do coração e deixemos o Salvador entrar. Ele possui tudo aquilo de que necessitamos. Podemos ser aperfeiçoados nEle. Não há outra maneira!
Gordon M. Hyde, diretor associado do Departamento da Escola Sabatina da Associação Geral.