“Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras”, escreveu o apóstolo Paulo aos cristãos tessalonicenses (I Tess. 4:18).

Por que era necessário consolar? Com que palavras isso devia ser feito? A igreja de Tessalônica enfrentava alguns sérios problemas emocionais e teológicos. Quando o evangelho alcançou aquelas pessoas, através do trabalho de Paulo, elas receberam a palavra “com alegria do Espírito Santo” (I Tess. 1:6). Sua fé era conhecida em toda parte (I Tess. 1:8) desde que, como lhes escreveu o apóstolo, “deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro, e para aguardardes dos Céus o Seu Filho…” (I Tess. 1:9 e 10).

Entretanto, o tempo tem uma maneira de testar o melhor dos santos, e os crentes de Tessalônica não foram exceção. Afirmações teológicas e realidades emocionais aparentemente surgiram para causar divisão entre eles, abalando a fé dos membros daquela infante igreja. Uma vez eles estiveram convencidos de que Jesus voltaria logo; mas agora estavam contaminados com a realidade do que acontecia ao seu redor. Os santos que haviam esperado “dos Céus, o Seu Filho” estavam morrendo um a um, sem ver o cumprimento da sua última esperança. E as emoções dos crentes estavam esfaceladas.

A morte tem uma incrível capacidade de levantar as mais inquietantes questões, e para a congregação tessalonicense, a urgente pergunta era: O que envolve a segunda vinda de Cristo? É esse um fato real? O apóstolo enfrenta o problema sem titubear. Diante do trauma da morte, os cristãos não devem entristecer-se “como os demais, que não têm esperança” (I Tess. 4:13), ele diz.

Os homens especulam sobre várias maneiras de enfrentar a morte. Um seguidor de Platão pode ver nela uma libertação do sofrimento e corrupção terrestres e a abertura de um caminho para uma nova vida.1 Sêneca emitiria um chamado à autodisciplina face à morte, considerando que “a hora decisiva [da morte] é a última do corpo, mas não a última da alma”.2 Um hinduísta vê na interminável possibilidade de reencarnação um conforto para a tristeza.3 Paulo pensa diferente. Para ele, a tristeza deve ser colocada na perspectiva da esperança cristã, e essa esperança está ancorada na certeza de que “os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro” (I Tess. 4:16). Nisso reside o conforto cristão.

Mas quando os mortos em Cristo ressuscitarão? A resposta de Paulo é clara: “Porquanto o Senhor mesmo, dada a Sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos Céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro: depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor” (I Tess. 4:16 e 17).

Nosso encontro

A segunda vinda de Jesus é o encontro culminante de Deus com os santos de todas as eras. A palavra grega traduzida como encontro é apanteesin. Tem a conotação do retorno de um herói conquistador. O Herói de todos os tempos, o Rei dos reis, o Soberano do Universo está retornando para tomar posse do que Lhe pertence e tomar Seus filhos para que estejam com Ele para sempre, além do alcance e da presença do pecado, do sofrimento e da morte.

O encontro nos ares é a nossa abençoada esperança. A História está marchando em direção a esse acontecimento cósmico, “a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tito 2:13).

As Escrituras não nos deixam em dúvida quanto à certeza desse encontro. Desde o momento em que Adão e Eva cruzaram as fronteiras proibidas, geração após geração do povo de Deus tem fixado os olhos da fé nos céus, alimentando a expectativa de ver descer o Salvador em concretização de sua mais acariciada esperança. Tal expectativa não é “uma simples hipótese, um postulado, ou a projeção de suposições humanas. Ela é e permanecerá sendo uma resposta fundamentada na Palavra e nas seguras promessas de Deus. ‘Nós, porém, segundo a Sua promessa, esperamos novos céus e nova Terra, nos quais habita justiça (II Ped. 3; 13)”’4

O testemunho bíblico

Enoque, o sétimo depois de Adão, falou desse encontro (Judas 14 e 15). Jó viu a redenção final: “Porque eu sei que o meu Redentor vive e por fim Se levantará sobre a Terra” (Jó 19:25). Isaías predisse um dia de vitória para o povo de Deus, quando Ele “tragará a morte para sempre, e, assim, enxugará o Senhor Deus as lágrimas de todos os rostos, e tirará de toda a Terra o opróbrio do Seu povo, porque o Senhor falou” Naquele dia se dirá: “Eis que este é o nosso Deus, em quem esperávamos, e Ele nos salvará; este é o Senhor, a quem aguardávamos: na Sua salvação exultaremos e nos alegraremos.” (Isa. 25:8 e 9).

Miquéias viu o estabelecimento do monte santo de Deus para sempre (Miq. 4:1 e 2). Zacarias via a segunda vinda de Cristo na perspectiva da soberania de Deus (Zac. 14:9). Sofonias focalizou sobre a vinda do Dia do Senhor, o qual trará juízo sobre o mal e a redenção final do remanescente de Deus para habitar em segurança (Sof. 2; 3:9-20). Daniel viu na imagem multimetálica de Nabucodonosor a marcha da História em direção ao seu clímax na segunda vinda de Jesus – a pedra que esmiuça todos os sistemas governamentais humanos, abrindo o caminho para o estabelecimento do eterno reino de Deus (Dan. 2:34. 35, 44 e 45).

Para os discípulos, o retorno de Jesus não era uma fábula “engenhosamente inventada” (II Ped. 1:16). Eles foram testemunhas oculares da vida de Cristo.

Apenas uma dessas predições ainda não foi cumprida, ou seja, o Seu retorno. Tudo aconteceu exatamente conforme Ele predisse. Os discípulos não apenas foram testemunhas oculares da vida de Cristo, mas também do cumprimento de Suas profecias. Mesmo quando os discípulos contemplavam desapontados a cena do seu ressurreto Senhor ascendendo aos Céus, depois de haver cumprido a missão redentiva do Pai ao morrer na cruz, receberam a segurança de que Ele voltaria. Naquela ocasião, dois anjos se colocaram ao lado deles e disseram: “Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao Céu virá do modo como O vistes subir.” (Atos 1:11).

Esse mesmo Jesus que nasceu em Belém quando César governava o Império Romano (Luc. 2:1). Esse mesmo Jesus que disse ter vindo fazer os negócios do Seu Pai (v. 49). O mesmo Jesus que andou pela Galiléia, pregando o reino de Deus (Mas. 1:14). O mesmo Jesus que, durante o governo de Pilatos, foi crucificado fora de Jerusalém e ressuscitou três dias depois. O mesmo Jesus cuja missão representa a invasão de Deus na História, no tempo e no espaço (Gál. 4:4). a fim de expiar o pecado de homens e mulheres e abrir-lhes o caminho de volta para Deus, como filhos redimidos. Esse Jesus voltará da mesma maneira como ascendeu aos Céus: visível, audível e pessoalmente.

Não surpreende, então, que os discípulos não tenham alimentado dúvidas quanto ao retorno de Jesus. Não admira que a última promessa do Cristo ressurreto tenha sido: “Certamente venho sem demora.” Não é sem significado que a Bíblia ofereça a cada cristão a prece culminante: “Amém. Vem, Senhor Jesus!” (Apoc. 22:20).

Assim, desde o seu mais remoto começo, a Igreja cristã olhava a segunda vinda de Cristo como o evento que completaria a sua redenção (Heb. 9:27 e 28), provaria sua paciência (Tiago’5:7 e 8), garantiria o julgamento (II Tim. 4:1). encorajaria a busca da semelhança com Cristo pelos crentes (I João 2:28; 3:2), levaria à ressurreição e trasladação dos santos (I Tess. 4:16 e 17), possibilitaria um encontro dos remidos de todos os tempos (I Cor. 15:51-58), confirmaria a recompensa da comunidade da fé (I Tess. 4:16 e 17), levaria à conflagração cósmica e transformaria os destroços do tempo numa eternidade de alegria triunfante (II Ped. 3:10-13; Isa. 65:17 e 18), inauguraria o reino milenar no Céu (Apoc. 20:1-6) e introduziria o reino de Deus (Apoc. 11:15; 12:10).

Esse venturoso evento subjacente à esperança, à fé e ao destino cristão, não é um “pastelão no céu daqui a pouco”, como Kari Marx costumava ridicularizar o ideal cristão para o futuro. Nem é a segunda vinda uma visão otimista da História que afirma a presença espiritual de Cristo na Igreja e garante uma realização gradual do reino de Deus, como ensina a teologia liberal. O testemunho bíblico nega qualquer sugestão que rejeita o retorno visível de Cristo, bem como qualquer argumento que tente igualar o segundo advento do Senhor a uma gradual melhora da sociedade.

O ensinamento bíblico sobre escatologia, confirmando o retorno pessoal de Jesus, não é um mito que requer uma demitologização, muito menos é a necessidade de adotar uma atitude que diz: “vamos tomar a Bíblia seriamente, mas não literalmente. Não; em face da esmagadora evidência escriturística de um visível, pessoal e literal retorno de Cristo, como poderíamos tomar a Bíblia seriamente sem aceitar literalmente a sua maior antecipação? Como Denney muito claramente assegura, não podemos “questionar o que permanece tão cristalino nas páginas do Novo Testamento, o que encheu de modo tão exclusivo a mente dos primeiros cristãos – a idéia de um retorno pessoal de Cristo e o fim do mundo … se nós mantemos qualquer relação com a totalidade do Novo Testamento, devemos defender a volta pessoal de Jesus como Juiz de todos”.6

Os dois adventos

A promessa de Cristo, “voltarei” (João 14:3), estabelece resolutamente a segunda vinda como sendo diferente da primeira vinda. O livro de Hebreus sublinha claramente tal distinção: “Assim também Cristo, tendo-Se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que O aguardam para a salvação.” (Heb. 9:28). Aquele que virá a segunda vez é o mesmo que já veio anteriormente. A missão do primeiro advento foi cumprida na cruz. Através da Sua morte, Jesus levou os pecados do mundo e Deus reconciliou o mundo consigo mesmo (II Cor. 5:19). A missão da segunda vinda não é expiar pecados, mas reunir no eterno reino de Deus aqueles que ansiosamente O aguardam.

No discurso proferido no Monte das Oliveiras (Mat. 24: Mar. 13 e Luc. 21) nosso Senhor fala especificamente da segunda vinda em termos de uma reunião universal dos Seus discípulos “dos quatro ventos, da extremidade da Terra” (Mar. 13:27), no reino de Deus. É o tempo da colheita (Mar. 4:29; Apoc. 14:15). Sua vinda será precedida por vários sinais incluindo a proclamação mundial do evangelho (Mat. 24:14). Exatamente antes de Sua vinda, haverá uma grande tribulação (Mat. 24:15 e 16) e condições de apatia e deterioração espiritual (Mat. 25:37-39; Luc. 17:28-30).

Esses e outros sinais não foram dados para se estabelecer a data quando Cristo virá, mas para conservar o povo de Deus em constante estado de preparação. O dia da Sua vinda só é conhecido pelo Pai, não por qualquer outra pessoa, nem mesmo o Filho (Mar. 13:32, 33 e 35). Vigilância e preparo são a perene resposta dos cristãos à promessa da parousia.

A realidade da vinda de Cristo, literal, gloriosa, repentina e universalmente visível, é incontestável (Mat. 24:27-31; Atos 1:11; Apoc. 1:7). Mas o tempo em que isso ocorrerá não foi revelado e está escondido na mente de Deus (Mat. 24:36 e 42). O fato de não ser conhecido o dia do evento não anula a veracidade de sua ocorrência. Ele apenas desafia os cristãos a se tornarem cidadãos vigilantes do reino da graça, agora, e cidadãos esperançosos do reino da glória porvir.

Uma compreensão do reino de Deus torna mais evidentes essa distinção e o íntimo relacionamento entre a primeira e a segunda vinda. Cristo veio pregando o reino de Deus (Mar. 1:15) e anunciou que “o reino de Deus está dentro em vós” (Luc. 17:21). Também ensinou os discípulos a orar dizendo “venha o Teu reino” (Mat. 6:10). Através dos evangelhos, nos deparamos com o ensinamento de Jesus no sentido de que o reino de Deus já está aqui (Luc. 7:21; Mat. 22:28; 11:12 e 13; 4:23; 9:35; 13:11), e todavia não está aqui (Mat. 6:10; 8:11; 19:29; 24; Mar. 13; Luc. 24) – uma realidade presente e um panorama futuro; uma experiência bem como uma esperança. Há quem ache confusas tais declarações sobre o reino de Deus, mas “a mensgem de Jesus é que em Sua própria pessoa e missão Deus invadiu a História humana e triunfou sobre o mal, embora a libertação final somente ocorrerá no fim dos tempos”/

O “já” estabelece a finalidade do reino. Cristo o tem introduzido na História. “O reino da graça de Deus está sendo agora estabelecido, enquanto dia a dia os corações que têm estado sobrecarregados de pecado e rebelião se rendem à soberania de Seu amor.”8 O “ainda não” assegura a eliminação física do mal e o estabelecimento da nova Terra. “O completo estabelecimento do reino de Sua glória, porém, não ocorrerá senão na segunda vinda de Cristo ao mundo.”9 Um fato garante o outro, e ambos se equilibram mutuamente.

Pedro estava seguro do escatológico “reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (II Ped. 1:11), porque também estava certo da obra salvadora de Cristo: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a Sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos Céus para vós outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para salvação preparada para revelar-se no último tempo” (I Ped. 1:3-5).

A cruz assegurou a vitória decisiva sobre o mal. Foi através da cruz e da ressurreição que a guerra foi vencida. “Isso significa que a esperança para o futuro é apoiada pela fé no passado, fé na batalha decisiva já concluída. O que já aconteceu oferece sólida garantia para o que ocorrerá. A esperança na vitória final é tanto mais vivida por causa da inabalável convicção de que a batalha que decide a vitória já ocorreu.”10 A guerra pode continuar, o clamor por liberdade (Rom. 8:21) pode ainda ser ouvido, e a esperança ainda aguardar sua concretização na “manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tito 2:13), mas não pode haver dúvida de que o fim da guerra, a libertação final e o venturoso cumprimento da esperança estão assegurados pela decisiva vitória da cruz.

Preparo

É nosso privilégio alimentar uma confiante antecipação do nosso encontro com Deus, quando Jesus voltar, consumando assim a jornada para o reino, iniciada quando aceitamos as boas-novas da cruz. É o Homem da cruz que está retornando como o Senhor da glória. O mesmo Jesus que derrotou o pecado e Satanás no Calvário descerá em breve nas nuvens do céu para eliminar para sempre o pecado, a morte e Satanás da face do Universo.

À luz de nosso encontro, é crucial seguir o conselho de Paulo: “Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz. Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes…” (Rom. 13:12 e 13). Podemos viver em meio às trevas, mas através dos olhos da fé devemos contemplar a alvorada vindoura, e viver de modo que não sejamos tomados de surpresa.

A expectativa da segunda vinda deve manter-nos despertos e sóbrios (I Tess. 5:6), e induzir-nos a uma experiência de auto-exame, a fim de que nos tornemos “tais como os que vivem em santo procedimento e piedade, esperando e apressando a vinda do Dia de Deus” (II Ped. 3:11 e 12). Isso é o que realmente importa no fim. Enquanto esperamos, devemos viver de maneira responsável e amorosa, refletindo de boa vontade o caráter e missão do Senhor vindouro.

O encontro do Senhor nos ares não está longe.

JOHN FOWLER, Ed.D., diretor associado de Educação da Associação Geral da IASD

Referências:

1 Jacques Choron. Death and Western Thought (Nova York: Collier Books. 1963). págs. 47-52.

Ibidem, pág. 70.

The Song of God: Bhagavad-Gitta (Nova York: The New American Library, 1964). págs. 36-38.

4 G. C. Berkouwer, The Return of Christ (Grand Rapids: William B. Eerdmans, 1972), pág. 10.

5 Reinhold Niebuhr, The Nature and Destiny of Man (Nova York: Scribner, 1943). vol. 2. pág. 50.

6 James Denney. Studies in Theology (Grand Rapids: Baker Book House. 1976) pág. 239.

7 George E. Ladd. A Theology of the New Testament (Grand Rapids: Eerdmans, 1974). págs. 67 e 68.

8 Ellen G. White. O Maior Discurso de Cristo, pág. 108.

Ibidem.

10 Ibidem, págs. 86 e 87.